Hoje eu sonhei com um mandacaru. Sim, aquele cactus do nordeste brasileiro, que os estudiosos teimam em chamar, Cereus Jamacaru. Não se assustem, não estou ainda tomado pela demência e acho até que sonhar com um mandacaru, é o mesmo que sonhar com um hidroavião, ou com a Angelina Jolie. Tudo é sonho. Tirando aquele capaz de me dar os cinco números e a combinação do Power Ball, qualquer um, desde que não seja um pesadelo, serve.
Mas quando acordei fiquei pensando na planta brasileira. Ela, ao contrário de nosso ex-presidente, não bebe e contrariando nossa presidenta, igualmente não come. Simplesmente vive. Ou melhor, sobrevive, pois, nas condições em que vive, poucos resistiriam. Mas o mandacaru resiste e afugenta com seus espinhos, aqueles que dele quiserem tirar proveito. Na primavera faz florir, flores brancas que nascem ao entardecer e murcham ao amanhecer e dizem que seu fruto é delicioso. Não tenho muita vontade de testar...
NÃO É ESTRANHO
DEPOIS DE SEIS HORAS DE
DIE MASTERSINGERS OF NUREMBERG
NO MET DEBAIXO DE MUITO FRIO
QUE A NOITE VOCÊ SONHE
COM UM MANDACARU
NO CAUSTICANTE SOL DA CAATINGA
Outrossim, do mandacaru acordei e fui ao Flintshire, o recente vencedor da Hong Kong Vase, sem escalas intermediárias. O que isto tem a ver? Não sei precisamente, o que sei é que fui de um pensamento sobre um, para um pensamento sobre o outro, numa questão de segundos. Como num piscar de olhos, e analisando seu pedigree, um estalo veio à minha mente. Ele como corredor, me parecia um mandacaru. Corria e não ganhava, embora tenha um pedigree belíssimo e conexões acima de qualquer suspeita.
Flintshire, antes de ganhar a Hong Kong Vase, este fim de semana, vinha de segunda colocações na Breeders Cup Turf (Gr.1) para o invicto nos Estados Unidos Main Sequence, na Coronation Cup (Gr.1), para Cirrus dês Aigles, no Arco (Gr.1) para Treve e na preparação do mesmo, o Niel (Gr.2), para o Derby winner, Ruler of the World. Parecia um cavalo azarado, ou faltava-lhe aquele pontinho para galgar o nível superior. Como seu pai, Dansili, que nem uma prova de graduação máxima venceu, mas que foi segundo na Poule d'Essai dês Poulains (Gr.1) para Sendawar, no Prix de La Foret (Gr.1) para Indian Lodge, no Sussex Stakes (Gr.1) para Giants Causeway, para Kalanisi no Queen Anne stakes (Gr.2) e terceira na Breeders Cup Mile (Gr.1) para War Chant e para Dubai Millenium no Prix Jacques Le Marois. Há de se convir que eles - pai e filho - só enfrentaram pedreiras. Mas a verdade, é que perderam mais do que ganharam.
Se a gente levar e consideração que Dance Routine, a mãe de Flintshire, foi segunda no Oaks para Bright Sky, e igualmente não ganhou uma prova de graduação máxima, poder-se-ia até supor, que sua situação era genética.
Mas Dansili, provou no breeding-shed, que aquele detalhe que lhe faltara na pista, sobrara em termos reprodutivos. Ele é hoje um dos cinco mais importantes reprodutores em atividade no planeta. E eu penso que com Flintshire possa vir a acontecer o mesmo, pois, pedigree, não lhe falta. Tem linha materna - a 4-m -, um físico invejável e uma estrutura genética que considero exemplar: Dansili-Sadlers wells-Shirley Heights-Ile de Bourbom-Habitat. Chega ou teria eu que seguir com Vaguely Noble? O que lhe falta a mais?
Mas o que me deixa, tremendamente curioso é o seguinte: será que esta tendência de quase sempre chegar lá, mas na hora H, falta aquele pouquinho seria genética?