UMA MELHOR TRANCA É COLOCADA
POIS SÃO DOS PROBLEMAS
QUE VERDADEIRAMENTE VIVEM AS SOLUÇÕES.
A principio, nacionalidade não deveria fazer a mesa, qualidade sim. Ir ao hemisfério norte e trazer uma égua de cria, não tem segredo algum. A dificuldade é trazer algo que não sirva para nós, pois na maioria das vezes, o avanço genético em países como os Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda e França, é tanto, que alguns poderiam dizer que com estas inglesas é fechar olho e apontar algo no catálogo, que já estaríamos dando um passo a frente. Pois é, alguém o disse isto, referindo-se as importadas à Inglaterra. E pasmem, décadas atrás, só europeias aqui aportavam, vindas do hemisfério norte. Éramos escravos da BBA.
Pouco a pouco, quanto mais me embrenho na analise dos vencedores das provas de grupo, mais me lembro da base em que se alicerçou meu conhecimento: o senhor AtualpA Soares, George Blackwell, Roberto Prado Telles e muita observação e pesquisa. A curiosidade e o bom senso me levaram a algum lugar. Se ele não é o que deveria ser, paciência. isto apenas me seduz a estudar ainda mais. Outrossim, algo ficou bastante claro em minha mente; da exceção, passei, muitas vezes, a entender a regra.
Eu era ainda jovem em idade e engatinhava profissionalmente e como tal, exercia a empolgação própria dos que ouviam o galo cantar, mas não tinha a perfeita noção de bem onde. Enaltecia certas linhas maternas brasileiras, principalmente as do São José e Expeditus, do Mondesir, do Guanabara, pois, minha base era o Rio de Janeiro, mas sem ainda me preocupar muito, quais teriam sido suas fontes. E minutos depois, no ano de 1978, ao assistir Garve ser segundo no Derby Paulista, ouvi a frase acima descrita, às minhas costas, dita por um grande criador paulista para seu filho.
Lembro que eu tinha acabado de vir dos Estados Unidos, depois de assistir a meu segundo Kentucky Derby, que fora vencido por aquele que viria a se tornar, o terceiro tríplice coroado de uma década, Affirmed e de ter assistido a Alleged, repetir o mesmo feito de seu ancestral Ribot, ganhando seu segundo Arco. Coisas que haviam mexido com minha paz anterior. Que haviam aberto meus olhos. Mas voltemos aos trilhos.
Garve era produto da primeira geração do nacional Garboso, este um descendente de Tourbillon, via Orbaneja, um filho de Goya. Posso estar enganado, mas creio que Orbaneja talvez tenha sido no Brasil, o cavalo estrangeiro de melhor percentual de filhos clássicos - nascidos x ganhadores clássicos. A mãe de Garve, era a uruguaia, Arveja.
A primeira geração de Garboso chamou realmente a atenção de todos, já que era composta de apenas de quatro produtos, e além de Garve, que viria a ganhar o Protetora do Turfe (Gr.2) em três oportunidades, o Bento Gonçalves (Gr.1), e ser segundo no GP. São Paulo (Gr.1), era a mesma de Garbet que andou tendo diversos placês em provas de grupo na Gávea, além de uma quarta colocação na primeira prova da tríplice coroa carioca. Lembro a todos que estamos falando de um tempo em que as pattern races, instituídas pelo comitê internacional, haviam sido implantadas no Brasil no anos de 1974, e ainda engatinhavam. Mas o resultado de garboso, evidentemente que chamou a atenção de todos.
Era indubitavelmente um bom começo, para um reprodutor que em sua segunda geração tinha apenas dois elementos registrados e na terceira três. Outrossim, a partir da estréia de seus filhos, Garboso entrou no radar de todos, inclusive no meu, mas com 137 elementos registrados em 16 gerações, nada mais veio a produzir, que possa ser digno de nota. Foi um começo, sem meio, e muito menos fim. Como diversos, que nós conhecemos. Lembram-se de Honeyville?
Aquela frase do criador nunca me saiu da cabeça, pois embora Garboso tivesse uma duplicação em Mah Mahal na razão 5x5, esta era duplicação era originária de dois modestos mensageiros, Perozshah e Khan Bahadur. Logo, poderia não ser por ai e toda aquela classe na verdade vinha de sua mãe Arveja. Mas quem era Arveja? Uma filha do argentino Atadito, na britânica Dubbin.
A pulga que já me fazia coçar atrás da orelha, intensificou, ainda mais, aquela minha comixão. Anos depois, quando nem Garboso muito menos Garve, faziam mais parte de minhas preocupações, cai de cabeça no pedigree de Dubbin, para descobrir que embora importada à Inglaterra, tinha como estrutura genética, formada por Dubonnet-Slipper-Bosworth. O que em outras palavras queria dizer um quase nada, se o último não tivesse sido um apenas honesto reprodutor de cavalos de alto fundo.
Imediatamente veio á minha concepção de arquiteto que embora a genética de Dubbin, fosse visivelmente fraca, ainda assim, exercia superioridade em relação a nossa. Garve nunca pode ser considerado um cavalo qualquer e mesmo com Garboso, uma filha de Dubbin, pelo pouco recomendável Atadito, foi capaz de de sobressair. O que fariam outras, genéticamente fortes, se melhor selecionadas e aqui trazidas? Pela lei das possibilidades, eu senti que mais. Tornou-se claro para mim, que a renovação do plantel brasileiro se a idéia era melhorar tinha que ser feita, via exterior. Exatamente o que haras como o São José e Expedictus, o Mondesir, o Jahu e o Rio das Pedras, estavam fazendo e as filhas e netas de suas importações dominando. Foi neste momento que senti que se a idéia era consolidar-me profissionalmente, meu destino final teria que ser algum pais do hemisfério norte.
E posso hoje afirmar, com o conhecimento e experiência adquiridos através de anos, que naquela época o diferencial genético entre o hemisfério norte e nós, não era ainda abissal. Hoje diria que é.
Garve teve esta importância em minha formação. A de acender uma luz que eu sempre acreditei que existia, mas que não havia ainda dado o ar de sua claridade, hibernando que estava dentro de meu ser. A partir dos anos 80, depois de Spectacular Bid e aquela série de cinco ganhadoras seguidas do Arco iniciada em 1979, passei a ter a nítida noção, que sem a genética do hemisfério norte, nadaríamos, nadaríamos e iríamos morrer antes mesmo de vislumbrar a praia. E assim procurei achar a minha verdadeira praia, para não ter que nadar mais.
DA MESMA FORMA QUE INDAIAL
CONSOLIDOU EM MIM
A CRENÇA NAS DUPLICAÇÕES FEMININAS
NO ANO DE 1974
FOI GARVE EM 1978 QUE ME FEZ VER
QUE O FUTURO DE NOSSA CRIAÇÃO
ESTARIA NA RENOVAÇÃO CONSTANTE
DE NOSSO PLANTEL DE ÉGUAS
COM GENÉTICA DO HEMISFÉRIO NORTE.
Como se vê, são das exceções, que se constroem as novas teses. Do que não pode ser explicado a primeira vista, sempre poderá ser explicado pela lei das contrariedades. Resumindo, se o caminho da esquerda é mais longo, mas o fez chegar a seu destino, tome o da direita e a mesma direção o levará mais rápido a aquele mesmo destino.