Terminada as vendas cariocas que antecederam o GP. Brasil, transladei-me para Curitiba, onde o frio reinante era bestial. Mas uma oferta geral, como a do São José da Serra cujos resultados em pista, acredito que sejam os melhores entre os haras de médio porte, tinha que ser prestigiada.
Examinei o lote e me deparei com uma filha de Redattore que era simplesmente um sonho. Tinha fisico de uma dois anos e a expressão de um experiente animal que sabia exatamente o que queria. Tem gente que não dá valor a atitude de um animal. Eu dou. Principalmente em se tratando de fêmeas. Imediatamente contactei-me com o alto magistério da Black Opal, e recebi o sinal verde para efetuar a compra.
Ela, como o esperado, não saiu cara, pois, o mercado brasileiro nunca deu a Redattore o devido respeito que ele merece. Aliás uma constante em relação ao reprodutor nacional. Redattore, além de ser um patrimônio genético, foi daqueles poucos cavalos que saiu consagrado daqui, e nos Estados Unidos conseguiu se consagrar ainda mais. Outrossim, o mercado brasileiro teima em valorizar mais o importado de quem Redattore fez e faria se enfrentasse, de gato em sapato em pista, do que prestigiar o que de melhor produzimos.
Rcdattore não tem um BRZ em seu pedigree. Sei único defeito foi ter nascido no Brasil. Como Clackson, Romarin, Hard Buck, Sabinus e Zenabre, que igualmente pagaram um preço bastante caro por terem feito o mesmo, ele pagou o seu. E o esta fazendo, com juros e a antiga correção monetária. A mãe de Redattore era uma Phipps, de sua melhor linhagem de La Troienne, que me custou cinco baixos digitos, ainda sendo uma dois anos inédita. Mas ela tanto tinha seu valor que foi re-exportada para seu país de origem por médios seis digitos. Como diria meu pai, se vende bem, quando se compra bem. Ele em algum momento deve ter ouvido de sua mãe Adelina este alerta. Quem a vendeu errou, mas nunca é tarde para se corrigir um erro e a comprou de volta.
Political Intrigue ganhou no Brasil e produziu Redattore. Era uma Deputy Minister em mãe Buckpasser. Mas creio eu que isto não seja o mais importante. Poucos são os criadores brasileiros que podem aquilatar o tempo que é necessário para se montar uma família materna. As vezes uma vida inteira. Na maioria das vezes, nunca. E quando uma é colocada a sua frente, formadinha e barata, não tem o discernimento de captar a mensagem, é porque está na atividade errada. Talvez se preocupando mais com algo, que a primeira vista, não deveria se preocupar. Um exemplo crasso, foram alguns preços alcançados pelos membros das familias de Tavira e Sweet Honey, estabelecidas, ambas, pelo São José da Serra. O mercado está em baixa. Cidade Jardim praticamente fechada. Sei de tudo isto, mas vó Adelina sempre dizia, que quem está na chuva é por que quer se molhar. Já que ficou, fazer as coisas direitas, me parece a melhor solução.
Desculpem aos que não assim pensam, mas muito ouro em pó foi oferecido nestas vendas e adquiridas a preço vil. Parabéns a que comprou. Temos que sair do marasmo que tomou conta de nosso mercado, o quanto antes, pois, periga-se não se ter mercado num futuro a médio prazo. Para tal, certas normas deveriam ser seguidas.
Temos que acreditar no reprodutor nacional. Temos que valorizar as grandes famílias. Enfim, temos que separar o joio do trigo. Sei que as pessoas ficam desconfiadas em ofertas totais, que propriamente não são uma liquidação. Já começando, que a principal égua tinha uma preço base, avisada apenas no inicio da venda, e na hora a segunda mais importante égua do leilão foi retirada por estar vazia. Não entendi o porque. Pois, foi mantida uma meia duzia de outras na venda, nas mesmas condições e tendo como pano de fundo, um rosário de compras sendo efetuadas por aqueles que estavam responsáveis pela organização do evento. Seria um conflito de interesses, se ganhar nas duas pontas? Não sei. O que sei, é isto. Posso lhes garantir que no turfe não adianta explicar. Vale o que é sentido.
Não querer se identificar, em uma compra de uma venda publica é um direito de cada um, principalmente com a Lava Jato solta por ai. Mas é um direito também dos compradores desconfiarem que a grande totalidade dos clientes da firma que organizou o leilão não quererem se identificar, é algo por demais estranho. Enfim, em cada cabeça uma sentença...
Mas a verdade nua e crua, é que desdenhamos do garanhão nacional, e babamos com qualquer borra botas que aqui aporta. Somos capazes de fazer vendas estranhas. O São José da Serra merecia preços melhores, pelo que já demonstrou no turfe brasileiro. Que ainda somos escravos da balança, e nossos principais potros são avaliados pelo peso que possuem, não propriamente pela possível classe que possam transmitir. No final chego a triste conclusão Cazuza estava certo, ao uma vez bramir: que pais é este? E eu faço de suas palavras um outra pergunda, que turfe é este?
Confesso que estou um pouco ranzinza, mas não é somente por causa da idade. A ignorância que vejo para com o básico em nosso turfe, se prolifera em tal velocidade, que apavora-me. Poucos sabem por que as coisas acontecem. E mais ainda são aqueles que nem notam as coisas acontecerem. Que turfe é este?
Marquei quatro éguas de cria, que achava serem as mais importantes a serem adquiridas entre as jovens, nesta oferta total de plantel. Levei para casa duas, uma tinha um alto preço base e a outra, coincidentemente uma Redattore, foi levada por alguém para quem tiro o meu chapéu. E já que falamos em chapéis, novamente tiro o meu para Redattore, que passa ano, sai a ano, vem para as vendas com filhos fisicamente superiores. Ele ditou sua própria raça.
Se está em descrédito, como o mercado tem sinalizado, melhor para aqueles que nele acreditam, pois, economizam uma barbaridade no ítem aquisição. Eu sou um fã de Redattore. Selecionei sua mãe, e agora sou um ferrenho entusiasta, pela qualidade e a classe que ele emana para a sua prole. Mas respeito quem não assim pensa. Afinal o que seriam de alguns mais pobres, se todos os abonados conhecessem do assunto?