Quando eu era pequeno, de calças curtas, como o Ermildo o idiota personagem do Elio Gaspari, muito me impressionou uma frase que dizia, cavalo dado, não se olha os dentes. Passei o recebido, tão logo aprendido, imediatamente, para vó Adelina, acreditando estar trazendo para ela, uma nova descoberta da roda. Ledo engano. A nobre senhora me olhou de lado e me saiu com esta: Balela, olhe sempre para o que é dado e se valioso for, desconfie do santo.
Hoje trabalho com cavalos, continuo sem olhar os dentes, pois, os que examino tem documentação, uma prova suficiente de idade e pedigree, mas ainda me dou ao direito de desconfiar. Aqui em Keeneland, o número de cavalos superiores fisicamente é grande. Se você for um desavisado com dinheiro, compra logo os três ou quatro primeiros que passam diante de suas vistas. E o que acontecerá? Na maioria das vezes você continuará um desavisado, apenas que com menos dinheiro e uma despesa grande e fixa, assumida.
Se fosse fácil, não haveriam agentes e muito menos perdedores. Meu primeiro leilão em Keeneland foi no ano de 1983, o ano em que Seattle Dancer bateu o recorde mundial de preços em yearlings. Pelo que tinha à minha frente em comparação ao que estava acostumado a examinar no Brasil, havia um longo e tenebroso inverno, não só em genética, como na parte física. Saquei imediatamente que ali estava uma das soluções para se melhorar o nivel das corridas no Brasil. Todavia, tive que esperar mais quatro anos, e quando em 1986 o mercado despencou, um ano depois cheguei com mala e cuia e comprei três potrancas e um égua de cria. A égua, uma Sir Gaylord, se chamava Lady Munnings, na linha 8-g, pelo ramo da ganhadora do Kentucky Oaks, Alcibiades.
Não tinha ainda o conhecimento das linhas maternas que tenho hoje, mas sendo uma descendente direta de uma ganhadora do Kentucky Oaks, champion 2 and 3 years old, reconhecida matriarca e que ainda viveu até a avançada idade de 26 anos, me pareciam credenciais suficientes para o baixo investimento que me foi atribuido a fazer.
Todavia o que mais me chamava a atenção daquela égua pequena e pretinha, era ela trazer em seu pedigree uma duplicação em Mumtaz Begum, que até em meus parcos conhecimento dizia que ela seria capaz de gerar algo veloz, que correria em um turfe, onde no máximo se andava rápido. A enchi de Slew the Coup, que era o Seattle Slew cujo bolso do Antonio Claudio Assumpção podia gastar e desta junção nasceu um cavalo que se não era um craque, era pelo menos dotado de extrema velocidade, ganhador de sete carreiras, das 20 que disputou, chamado Slew's Emotions.
Entre as potrancas uma Our Michael, na familia 17. Born in EEUU. Um verdadeiro desatino. Mas era linda e no Brasil ela ganhou também sete carreiras e andou bem na esfera de provas especiais. Sopa no mel! Pois bem, não foi simples assim...
E ai entra aquela situação já aqui descrita. Você ganha o páreo de segunda feira e já passa a ansear com as provas de grupo. E assim por diante. E o que nisto redundou? Cada vez que voltei a Keeneland, procurei ser mais cuidadoso em minhas short lists. E hoje, exijo que aquele a quem escolho, tenha potencialidade de correr com competitividade em centros mais desenvolvidos, provas realmente seletivas, e é exatamente ai, que a onça caminha para beber água.
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