A imprensa carioca que é dominada pelos tricolores e alvi negros, senhora de si, espera que um dia o Flamengo, caia de quatro, como apenas cinco clubes não cairam, mas que este ano podem ficar restritos a três. E mais uma vez, para a tristeza de muitos, o Flamengo não vai cair...
Sou Flamengo e Salgueiro. Nunca escondi isto de ninguém. Mas confesso que tenho razoáveis simpatias pelo Santos, Cruzeiro e Internacional. Nunca os quero ver em situações ruins, como estou vendo a do Internacional, atualmente. Mas o que esperar do time colorado, se seus dirigentes contrataram, de forma sequencial, a Aguirre, Falcão, Argel e Roth. A culpa não me parece destes profissionais e sim de quem os contratou.
Mas o que me deixa mais ligado na situação tétrica que vive o Internacional e a alegria dos gremistas. No Rio Grande do Sul, para um gremista uma derrota do Internacional, é mais importante que a própria vitória. E em situação inversa, é mantida esta mesma forma de pensar. Logo, é guerra. São inimigos e não apenas adversários. Ontem, em conversa com um gremista descobri que ele sabia quais são os outros jogos finais do Inter, bem como onde eles serão realizados. Não perguntei sobre as predições climáticas, mas creio que ele soubesse também. Aquilo me surpreendeu e me surpreendeu ainda mais ao constatar que a mesma coisa não acontecia cm relação a seu time, o Gremio. Ele foi incapaz de dizer quatro dos seus últimos oito jogos. Mas entre os quatro lembrados, evidentemente estava o Grenal, onde os tricolores esperam dar uma pá de cal nas pretenções coloradas.
O Internacional nunca caiu. Ele, o Santos, o Flamengo, o São Paulo e o Cruzeiro. O Grêmio ja passou mais de uma vez por este vexame. Os dois gigantes do futebol gaúcho, foram um dia campeões mundiais. Será que as coisas entre os dois ficarão igualadas, se o Internacional cair?
No turfe existe também aquele tipo de pessoa que vibra mais com a derrota daquele que não gosta, do que com sua própria vitória. É triste, mas verdadeiro. O famoso torce contra. E existem ainda aqueles se se tomam por paixões e acabam abraçando a um corredor em detrimento de um julgamento justo, em relação a outro.
Aprendi, desde cedo, que em turfe, você tem que se abster de quem seja o criador e o proprietario, e concentrar-se naquilo que realmente importa: o cavalo. Mas tem gente, principalmente no Brasil, que consegue se abster do criador e do proprietario, mas mesmo assim, ainda teima em torcer contra este ou aquele cavalo. É um erro, pois, quando você menos espera, o cavalo vai lá e você queima a lingua.
Acho que vamos ter uma Classic memorável. E digo porque? Há muito tempo não sinto um rivalidade em pista que possa ser realçada como a de California Chrome e Arrogate, há de surgir. Há dez anos atrás, houve Invasor x Bernardini, e voltando anos antes Tiznow e Giants Causeway. Alguém assitiu a Breeders de Awesome Again, no maior campo até hoje já formado para esta corridaP? Tivemos também a disputa que considero a melhor até hoje vista, a de 1998, entre Sunday Silence e Easy Goer. No resto, geralmente existe um favorito destacado, e em raras vezes, sua supremacia não foi conseguida em pista.
Não sei se isto é bom. Aliás tenho certeza que não é. O publico não só precisa de heróis do quilate de American Pharoah, Zenyatta, Cigar, como também das rivalidades. Nashua x Swaps, Dr. Fager x Damascus, Affirmed x Alydar, Sunday Silence x Free House, Alysheba x Bet Twice, Sunday Silence x Easy Goer revigoram a sua vontade de comparecer ao evento, onde quer que ele seja disputado, Até em Marte.
Ontem tivemos um Fla-Flu em Volta Redonda. Aquele clássico que segundo Nelson Rodrigues surgiu quarenta minutos antes do nada, é um Fla-Flu independentemente onde venha a ser disputado. Até debaixo d'água terá sua carga de emoção. E como não poderia deixar de ser, como diria vó Adelina, deu ingresia! Um impedimenro - daqueles que todos concordam - foi assinalado pelo bandeirinha e não confirmado a principio pelo juiz. Ai uma voz do além, talvez tenha alertado o arbitro de seu erro crucial. E o gol do Fluminense foi invalidado. E deu ingresia. Com cavalos de corrida a mesma coisa. Só que no Maracanã no futebol, e na Breeders Cup, no turfe, o sabor é diferente.
Califonia Chrome vem de uma sequencia de carreiras, com as quais tratou seus adversários como estes fossem meros cavalos de claming. Arrogate em seu Travers stakes vencido por quase 14 corpos, mas certamente estabelecendo o novo record da pista de Saratoga em 1'59"36, provou sem ser acionado que poderia ter estabelecido uma marca que dificilmente poderia ser igualada, pelo menos pelo resto de minha existência. Eu estava em 1979, presente em Saratoga, quando General Assembly - um filho de Secretariat que como A. P. Indy corria de cabeça baixa - bateu por 15 corpos a Smarten e Private Account. Lembro aos navegantes, que marcas nunca devem ser comparadas principalmente se as condições de pistas se mostrem diferentes, mas creio que se os champions Man O'War, Chief's Crown e Key to the Mint não conseguiram baixar de 2'01"20, qualquer marca estabelecida abaixo disto em um Travers, é coisa para se respeitar.
Ainda mais, que ganhar em Saratoga não é coisa fácil de se conseguir, nem o maiden. Em sua pista já fracassaram, Man O'War, Rachel Alexandra e nada menos que três triplices coroados, Gallant Fox, Secretariat e American Pharoah. E fazê-lo em record, não me parece nada usual.
Portanto, a possivel inexperiência aludida a Arrogate, por parte da imprensa especializada, não me convence. Ele já correu cinco e ganhou quatro. Arrogate como California Chrome, parece que gosta de correr na ponta e isto determinará um duelo a ser disputado milimetro a milimetro, desde a abertura do starting-gate. Se perder, é por que California Chrome lhe é superior.
Confesso que tenho escandalosas preferências por Arrogate, mas de maneira alguma torcerei contra California Chrome. Agora que foi impedimento, disto não tenho dívidas. E deu ingresia...