JOHN HAMMONDS, O TREINADOR DE MONTJEU
A dedução de cada um, por mais lógica que seja, pode não ser a certa. Como? Explico. O leitor Montenegro, disse numa frase: ... na carreira que você mais respeita e quer ganhar, o King George, você ainda vê como possivel a chance de um cavalo brasileiro poder ganhar com a genética que temos?
Montenegro a prova por quem eu tenho, - e quase que a totalidade da torcida do Flamengo também tem - é o Arco. Embora a que mais me apetece ganhar, seja o King George, como você o bem disse. E você tem o direito de achar que não estou sendo lógico. Mas estou. A lógica esta naquilo que sempre preguei por aqui. No turfe, nem sempre querer é poder,
Imagine que para você ganhar o King George, tenha que ter além de fisico, genética, desempenho e uma parvela de sorte. São quatro grandes quisitos. Mas para ganhar o Arco, você necessita de cinco, pois, além dos quatro citados, normalmente esta carreira é corrida em terreno pesado, pois nas primeiras semanas de Outubro, as chuvas em paris são constantes. Logo, suas chances se tornam maiores se você tiver um cavalo que corra bem na pesada.
Porque tenho pelo Arco uma maior preferência? Primeiro que assisti in loco mais de 20 de suas disputas. Segundo porque não tenho muita tendência a escolher pedigrees que sejam melhor adaptaveis ao terreno anormal. Terceiro que bater Fadre e Cia, em Longchamps, não é das tarefas mais simples. E quarto que o sucesso de femeas reservadas é assumidamente maior nesta prova. E reservada não se compra, na melhor situação, aplaude-se.
Das últimas nove versões do Arco, as femeas ganharam seis e isto para mim é mais do que um indicio. É algo impeditivo às minhas aspirações.
O Arco tem muita importância em minha formação de estudioso de criação e turfe. Em 1994, tive uma das mais fortes sensações de minha carreira, ao ver Much Better desfilar no passeio de apresentação. Em 1986 assiti ao maior campo já formado para esta carreira e um vitória significativa daquele que considero hoje, o segundo melhor cavalo europeu que apareceu durante a minha vida profissional. E em 199, vi Montjeu ganhar, numa reta eletrizante com El Condor Pasa, mesmo estando encerrado pelos primeiros 200 metros na reta de chegada.
Montjeu, o terceiro melhor cavalo europeu de meu período profissional e sem dúvida alguma o mais instigante ganhador do King George que tive o privilégio de assistir, produziu a um ganhador do Arco, Hurricane Run e seu filho o Derby winner Motivator, foi o pai da extraordinaria ganhadora de dois Arcos, Treve. Logo uma raça que conhece o caminho em Longchamp.
Falei de Hurricane Run, pelo simples fato que acompanhei bem sua performance em pista, pois, foi uma época que morava em Chantilly. Achei que ganharia o Derby francês, e confesso que surpreendi-me com a vitória de Shamardal. Foi, se não me engano, a primeira vez que o Prix du Jockey Club foi disputado abaixo dos 2,400m e o tempo me provou que Hurricane Run era um cavalo de milha e meia e nenhum centimetro a menos. E que Sharmadal era um cavalo acima de qualquer suspeita em pista e no breeding-shed. Mike Tabor, proprietário de Hurricane Run, chegou a afirmar depois do Arco, que ele foi o melhor cavalo de sua propriedade. Isto vindo de quem foi também dono de Montjeu, evidentemente deveria ter um significado, no momento em que vender as coberturas de Hurricane Run parecia ser bem mais dificil que as de Montjeu. Não penso que esteja certo afirmar isto por questões mercadológicas, mas é a opinião dele. Eu tenho aminha.
Um detalhe sobre o Hurricane Run, é que quando voltava ao paddock, depois de sua fácil vitória no Arco, foi agredido por um turfista, que lançou uma bolsa em seu jóckey Kieren Fallow. Talvez um amigo pessoal de Sir Henry Cecil...