Abro um parênteses explicativo. Quando se escreve por muito tempo, principalmente algo tão solitário como um blog, sempre existirá a oportunidade de você assumir a postura de o dono da verdade. Prefiro não vestir este manto, e fico na casa da imodestia absoluta, que já foi aqui explicado o que possa ser. Mas aceito que todo blogueiro é dado a uma megalomania ocupacional de tanto ver seu nome e suas teses publicadas em letras de forma. Não importa se por si mesmo. De tanto ser adulado por alguns e apedrejado por outros, que não deixa de serem formas de reconhecimento, existe uma tendência natural, com o passar dos anos, a se julgar acima do bem e do mal e o pior, dono de seu próprio destino. Coisa que não somos, pois, dependemos da atividade ao qual nos dedicamos a analisar e opinar. O resto a se pensar, é apenas literatura. Fecho este parênteses explicativo.
Balzac dizia que atrás de toda grande fortuna, houve no passado um crime maior, que deu inicio a esta fortuna. Pois eu afirmo, que atrás de toda corredor de sucesso em pista, houve no passado um acerto em sua estréia. Estrear, o que quer que seja, pode se tornar numa ação traumática, que o acompanhará pelo resto de seus dias. Muitas vezes, torna-se necessário o divá de um psicanalista, para decifrar o problema. Mas como cavalo de corrida, não tem divã, o mais sensato é estrear seu pupilo, sem forçá-lo de forma alguma.
Os ingleses, quando tem em suas mãos algo que consideram precioso, zelam por demais pela estréia. As vezes só correm o dito animal em uma única oportunidade se ele não for aquilo que chamamos de precoce. E não são poucos que verdadeiros postulantes ao Derby, tem sua primeira e única corrida, aos dois anos, acima da milha.
Imaginem que um cavalo que se valha de sua stamina, a terá em sua plenitude, se um determinado pace for mantido. Quem vai correr a milha e meia, vai sofrer com um pace de 1,200 ou mesmo 1,300 metros. Porque digo sofrer? Pelo simples fato que cavalo não raciocina. Se tem brio, procura acompanhar na carreira o ritmo alheio. E nossos jockeys, em muitos casos igualmente não são dados ao ato de raciocinar e simplesmente os deixam ir. Isto fere a sucebilidade de um aspirante a distâncias maiores.
Sei que no Brasil, a competição é mais amena do que na Europa, e você pode se dar ao luxo de estrear um postulante ao Derby, em 1,400 metros. Outrossim enfaticamente alerto que não menos do que isto. E explico, o porque.
Décadas atrás, os estudiosos de treinamento, classificaram os cavalos de corrida em classes distintas pelo que de melhor poderiam produzir em pista e dentro deste perfil, o pace que poderiam suportar. Assim nasceu a teoria dos sprinters, flyers, milers, middle distante, classic e stayers. Embora a modernidade se de ao luxo, de não dar mais bola para estes detalhes, eu acho que eram conceitos altamente válidos. Graças a Deus, consegui incutir na cabeça do João Luiz Maciel, que passou a classificar seus cavalos deste mesma forma.
Porisso, me empolguei com esta segunda corrida de The Pentagon ' fotografia de abertura -, já que para mim, sua verdadeira estréia não valeu. Ele voltou a correr em 1,400m e ao invés de chegar a 19 corpos do vencedor, como o havia feito três semanas antes, desta feita no mesmo hipódromo e na mesma distância, chegou 9 corpos a frente, dos demais, sem se esforçar.
Não costumo colocar minhas fichas, em algo que estréia e chega a quase 19 corpos de seus adversários. Cavalos em que confiei, estreiam de forma distinta. Camelot que estreou em Julho, o fez ganhando na milha, Ruler of the World, que estreou somente em Abril, de seus três anos, na distância de 2,000 metros, ganhou o Derby invicto em três saidas.
Sea the Stars, estreou sendo quarto em 1,400m no mês de Julho, e depois disto nunca mais perdeu, quando distâncias não inferiores a de sua estréia, foram a ele ofertadas. O mesmo aconteceu com Australia, que estreou no último dia de Junho em 1,400m, sendo segundo e repetindo a distância em sua segunda carreira, como Sea the Stars, venceu. Bem ao estilo O'Brien.
Foi o que fizeram com The Pentagon, pois repito, este é o estilo O'Brien.
O Dr. Linneo de Paula Machado, um dia me disse que quando sentia que tinha algo de especial, só o deixava estrear, a partir dos 1,400 metros. Uma vez lhe alertei para uma carreira a ser corrida em 1,300m e que para mim caía com uma luva para algo que ele me havia confidenciado que seria especial. E na defesa de minha assertiva comentei, que eram apenas 100 metros a menos. Ao que ele retrucou que carreiras de 1.300m e 1,400m na Gávea, para os dois anos, eram paces distintos, E aqueles 100 metros a mais na reta oposta, onde os estreantes tinham que assentar, faziam uma enorme diferença. Na ânsia de defender meu ponto de vista, lembrei a ele que Itajara, havia estreado em Outubro na distância de 1,100m e depois ainda no ano, havia corrido 1,300 e 1,600, ambas na pista de areia. Mas foi ele que me lembrou, que não se podiam fazer comparações, levando-se em conta elementos extra-série.
Much Better estreou tirando sétimo em 1,500 metros. Foi terceiro e ganhou a seguir, na mesma distância, sendo que triunfou na areia. Depois, não correu abaixo dos 2,000 metros. E dai para frente, quase tudo foi festa... Quando vi escrito, em Fevereiro de seu primeiro ano, Bal a Bali no quilômetro, tive a confirmação das observações do Dr. Linneo. Guignone havia deixado a entender, que Bal a Bali seria um extra serie. E com estes qualquer distância se torna rotina.
Acredito, que se você tem algo que acredita que possa correr o Derby, não estreiaria em distância menor que os 1,400m na grama.