Quem acompanha o que escrevo, sabe da minha admiração a ópera. Mas existem dois tipos de ópera. A ópera em seus padrões normais e a ópera bufa, pela qual não tenho a mesma admiração. Pois, não é que no Brasil foi criada um terceiro tipo de ópera, a do absurdo! Sem música e sem um folheto, assistimos diariamente uma encenação de algo totalmente sem nexo, e que por nós é aceito, como normal. Explico-me.
Tenho falado em sensações. E uma das menos prazeirosas para meu gosto, é quando é anunciada chuvas para o Rio de Janeiro.
Chuva no Rio, é normalmente sinônimo de caos. Não deveria ser, mas graças a inépcia de nossos dirigentes, o é. Tenho sensação não tão desprazerosa, mas igualmente triste quando sou notificado da importação de um novo reprodutor para a criação brasileira. Pois, o critério utilizado para isto, é similar a dos dirigentes da cidade do Rio de Janeiro: o do completo abandono.
Quero deixar claro que para mim o abandono, talvez seja uma das sensações mais tristes que um ser humano possa ter. O sentido é o mesmo do da perda. Porém, acredito que algo deva ser ressaltado.
A televisão, não matou o rádio, como não foi morta pela internet. O teatro sobreviveu ao cinema e o jornal e o livro, continuam existindo mesmo como o aparecimento dos i-pods. Logo, o desenvolvimento da tecnologia não sufoca a tradição. O que a sufoca é o abandono, de quem deveria ser o responsável pela manutenção. O tal do desenvolvimento assegura uma forma mais segura de se viver. Logo, as chuvas do Rio de Janeiro e a seleção de reprodutores, que vimos fazendo de uns tempos para cá, são produtos de erros humanos. Não propriamente de fatalidades.
O que isto sugere? Que nós brasileiros vivemos sempre no limite. No limite da quase sempre culpada, fatalidade. Sejam em barragens de detritos, em ciclovias, em viadutos, em alagamentos, em centros de treinamento futebolísticos, em administrações politicas. na escolha de reprodutores, enfim, qualquer que seja a situação ou a paisagem escolhida, estamos no ponto mais cerca da fatalidade.
Recebi esta semana videos elaborados pela PMU para tentar motivar pessoas a comparecerem no hipódromo da Gávea. Antes de mais nada, quero deixar claro que qualquer iniciativa sempre ajuda. Outrossim, não acredito que o material a que tive acesso funcionará, pois, faltou nestes, NA MINHA MANEIRA DE VER, dois pontos que vejo nas propagandas europeias e norte-americanas: glamour e emoção.
Tudo que chega a mim vindo de promoção do turfe no hemisfério norte e mesmo do sul da Austrália e África do Sul, tem no glamour e na emoção os pontos chaves de venda da imagem. Faltou isto nos videos da PMU. Sei que quando um projeto de marketing é posto em pratica, muita pesquisa de mercado há de ser feita. Logo, posso estar errado e seja exatamente isto que virá a cativar a alguém entrar na Gávea.
Como sou um realista, acredito que as pessoas sem o sonho do glamour, da emoção e até da ascendência social que as atraia, deva preferir a loteria esportiva, onde se ganha muito mais, e não tem que se pensar.
Ao mesmo tempo, em Belmont Park, a NYRA institui duas tríplices coroas na pista de grama, como forma de tentar atrair mais contendores europeus nesta pista, que hoje tendem a migrar para a California. E também, por que não frisar, para amparar aos criadores que se utilizam de reprodutores mais versados ao terreno gramático. Evidente que para instituir estas duas tríplices coroas é necessário dinheiro. Mas para se fazer videos também. principalmente se eles vierem a ser vinculados onde poderiam funcionar. Na grande mídia televisiva. Caso contrário é que ne, acender um fósforo no fundo do poço. O que não deixa de ser outra ópera do absurdo.