quarta-feira, 2 de setembro de 2020

PAPO DE BOTEQUIM. EU REALMENTE NÃO ENTENDO

Com o Jose Carlos Fragoso Pires Junior e o saudoso João Maciel em Longchamp

Creio que fica nítido, eu diria até crystal  ao estudar-se com atenção o quadro publicado ontem, pelo José Carlos Fragoso Pires Junior, sobre aquelas que são as três mais importantes temporadas na vida de um jovem garanhão, que em se tratando de nacionais, aqueles que de alguma forma apresentam vestígios de velocidade parecem ter o aceite maior de nosso mercado.

Antes de entrar de cabeça na questão, quero deixar claro, que não somos donos de nosso passado. Ele existe, mas não está organizado. Explico. Tente descobrir a campanha de Albatroz, Mossoró ou Garbosa Bruleur. Pois, vos digo, é impossível. Pasmem, nosso órgão que deveria ter isto pronto, não tem. Simplesmente a informação deve existir, mas está em alguma caixa e nunca foi organizada para ser apresentada a quem quer que seja. Logo, nosso passado existe pela memória de alguns, dos quais 99% dos mesmos, já se foram. 

A culpa evidentemente não é a diretoria atual, ou mesmos das anteriores. Tem inicio em sua montagem. No embrião do inicio de um tabelião. Nunca houve uma preocupação de ter nosso passado organizado. Sempre emolumentos foram cobrados e de maneira alguma uma preocupação com nossa história foi organizada. Isto não acontece em mercados de primeiro mundo. Eles para conseguir organizar, vendem as informações. 

Porque não saímos atrás de um patrocinador, que banque uma pessoa que organize esta massa de dados? O José Carlos Fragoso Pires Junior, para conseguir juntar esta tabela, teve que pedir um favor especial ao Quintella. E dados que estavam arquivados, foram resgatados, dai seus agradecimentos. Mas vamos ao que interessa.

Notem o número de éguas destinadas a Durban Thunder, Blade Prospector e Mensageiro Alado. Três dos quatro melhores aproveitados em suas três primeiras temporadas. Isto representa talvez, que o mercado de amantes da velocidade - entre eles haras especializados na produção de elementos de pencas - tenha ajudado neste interesse. 

Outras analises podem ser consideradas, tais como isto tratar-se de uma expressão meramente quantitativa, pois, não há a mínima idéia de quantas reprodutoras possam ter uma verdadeira expressão qualitativa. O que aliás não deixa de ser também um fator subjetivo, já que o que para mim pode ser altamente qualitativo, para outros poderá não ser. 

Muito bem colocado, o fato de para se imaginar que estejamos comparando - mesmo que apenas quantitativamente - laranjas com laranjas, onde as laranjas modernas podem receber um número superior de éguas, aos das laranjas antigas, cujo teto estava na casa de 40, Dentro deste prisma, constataremos que apenas 18 reprodutores receberam mais de 120 éguas no somatório de suas três primeiras temporadas. O que para um turfe como o nosso, me parece um dado capenga.

No turfe moderno, o elemento que cobre 40 éguas em uma temporada tem 99% de possibilidades de não levantar vôo. Tem que ser um diferenciado para consegui-lo. O que reeintera meu posicionamento que o cavalo nacional não é valorizado como deveria ser.


Agnes Gold


Olhemos por diversos ângulos. O Posto de Monta do Jockey Club de São Paulo, foi um marco de suma importância na criação brasileira, principalmente a paulista. Nele foram anexados um dos mais importantes ganhadores de nossa prova máxima, o Grande Prêmio Brasil e certamente o milheiro de maior nome na época. Logo, de alguma forma abriram um espaço para o reprodutor nacional. Olhe como eles vieram a ser recebidos pelos criadores brasileiros:


Eu considero ridículo. No mínimo deplorável.

Agora vejamos o relativo a aqueles considerados por mim, os seis mais importantes corredores brasileiros de todos os tempos, exceptuando-se Farwell, por motivo de esterilidade e Ball a Bali que foi exportado.


Adil foi a exceção a regra, que com os melhores cavalos que o Brasil produziu, agiu de forma razoável, mas ainda bem abaixo da média. E como foi a situação de três elementos, um que foi o único cavalo na história de nosso turfe a ganhar os dois Derbies, o Brasil e o São Paulo. O recordista brasileiro de somas ganhas e aquele que por direito tem que ser considerado um dos cinco mais importantes reprodutores de nossa criação:


Só Grimaldi teve uma aceitação na media. Clackson, apenas reitera ter sido um fenômeno.

Contudo vejam que numa amostragem de importantes representantes nacionais, nenhum conseguiu sequer o somatório mínimo de 120 éguas em suas três primeiras temporadas de monta.


Repito, para que fique bastante entendido. Fica claro que o reprodutor nacional, por melhor que ele possa ser, não goza de um respeito maior para com o criador brasileiro. Diria que muito inferior aos grandes cavalos em pista europeus ou norte-americanos, completamente fracassados em haras de muito maior potencial de exploração genética, e mesmo de outros de belos pedigrees, mas de paupérrimo aproveitamento em pista. Os Neros e Caligulas que rotulo. Uma deflagração cristalina, de que não acreditamos que possamos fazer como a Austrália e o Japão, que de uns filhos nacionais de importados como Danehill, Kingmambo, Sunday Silence,  criaram seus veios próprios, e destes, uma raça particular, que hoje é exportada para servir nos mais sofisticados estabelecimentos de cria da parte mais conceituada de criação européia: Inglaterra, Irlanda e França.

Sei que pode parecer um sonho, pois para que estes alguns acima citados de origem australiana e japonesa, pudessem luzir mundialmente, houve a necessidade de se testar muitos. Pois a vereda correta nem sempre está naquele que melhor se saiu nas pistas. E nós brasileiros, dificilmente adotaríamos esta politica. Dar chance como foi dada a um, dois ou três filhos de Ghadeer, com muita dificuldade é possível. Para 15? Tenho lá as minhas dúvidas.


Drosselmeyer

Quantos filhos de um dominador teríamos que nos utilizar cobrindo mais de 50 éguas ano, para podermos destacar, aquele capaz de construir sua própria raça? O Santa Ana do Rio Grande, até tentou com Falcon Jet e Mensageiro Alado. Mas estamos falando de dois quando precisaríamos, numa amostragem mínima, fazer o mesmo com 10 a 15. Quantas gerações Falcon net deixou? Pelo que me consta ele nos abandonou prematuramente.


Gloria de Campeão

Porque não investimos pesado em filhos de Redattore, Setembro Chove e Glória de Campeão? Elementos nacionais, consagrados em pistas do exterior em sua graduação mais alta. Ok, eles são filhos de nacionais. O que para muitos é um sacrilégio. Então qual a desculpa para não fazê-lo com os melhores filhos de Wild Event, Put it Back, Drosselmeyer e Agnes Gold? 

Realmente não entendo.