terça-feira, 1 de setembro de 2020

PONTO CEGO: UMA PROVA DE CORAGEM


Um leitor aproveitou-se de uma oportunidade, para me perguntar se eu me sentia hoje um brasileiro ou um norte-americano? E eu respondi, que nenhum, nem outro. Considerava-me, como sempre me considerei um cidadão do mundo que hoje vive nos Estados Unidos, - por 33 anos - mas que já viveu na França - por dois breves períodos - e no Brasil pelos primeiros 37 anos.

Mas entendo o porque de sua curiosidade. 

O Estados Unidos, não é propriamente um país. O Estados Unidos é uma idéia. O Brasil é um país, como a Inglaterra, a França, Japão ou a Austrália. Pena que não deu certo... Razões? Tem as suas características, mas de forma alguma um senso de comunidade. Somos por demais próprios. Aqui nos Estados Unidos, há uma perfeita noção que sua liberdade termina, quando inicia a do outro. No Brasil, somos espaçosos e invadimos a privacidade alheia. Vide o órgão máximo de nossa justiça. E isto se reflete em tudo que nos diz respeito.

Até, em se tratando de turfe. Não sou nem norte-americano, muito menos brasileiro na forma de pensar turfe.  Prefiro aderir a corrente européia, principalmente oo conservadorismo adotado no Reino Unido, partindo do principio que unidos estejam Inglaterra e Irlanda em termos deste esporte. Ou melhor desta industria.

Nos Estados Unidos o fator mais forte dentro do turfe é o comercial. Creio que 95% cria para vender. E muito difícil nos dias de hoje ver um cavalo que defenda as cores de seu criador se tornar um Horse of the Year ou mesmo um champion.  No Reino Unido e França, há um profissionalismo na criação, que sabe a hora de ser comercial e a hora de ser apenas competitivo. procura-se o momento máximo de valorização para se fazer a venda. Pois, há de se vender, se necessário for, mas na hora certa. Mas já no Brasil, o amadorismo é dominante. Não se sabe nem para que se cria...

Eu me sensibilizei com a atitude do Mario  Barbosa, que representa a familia no haras Estrela Nova e pedi para que ele fizesse um depoimento, de que o levou a trilhar uma vereda que poucos estão inclinados no Brasil, a trilhar. E o fiz, por sentir um certo ceticismo de alguns, com a forma que ele encarou aquilo que para muitos é um suícioi. mas que vejo de forma distinta, como um desafio que pode ser vencido, se houver resiliência.

Momento de Alegria

Abro um parênteses. O Aluizio Merlin Ribeiro, acreditou num cavalo que teve propriedade em campanha. Acteon Man. Pois bem, mesmo sendo também dono de um ganhador do Pellegrini, optou em trazer Acteon para a cria. Montou um pequeno plantel, virou criador em haras de terceiros e depois que viu que havia café no bule, adquiriu éguas importantes no hemisfério norte. Acteon, um cavalo nacional, morreu e ele adquiriu outro cavalo nacional, Momento de Alegria para cobrir as filhas de Acteon, por sua confiança em uma estrutura genética a se formar, e para o antigo plantel de Acteon, trouxe dois de seus filhos, Huber e Gladiador Acteon. Isto é ter coragem e acreditar em algo. Fecho parênteses 

O Mário comprou uma égua na liquidação do Calunga, cheia. Criou seu produto. O correu e fez dele um elemento diferenciado. Estamos falando de Arrocha. Pois bem, não satisfeito exportou-o para os Estados Unidos, escolhendo o treinador mais badalado na Costa Este, Chad Brown, e não mediu esforços em aclimatação e tempo de espera para estreá-lo. Infelizmente o projeto, mesmo levado com esmero, não obteve o resultado esperado. O que 95% dos proprietários fariam? Claiming nele! Não o Mario teve a coragem financeira de trazê-lo de volta para o Brasil e o ingressou na reprodução. sabendo de antemão que muitos poucos - se houverem alguns - o acompanharão naquilo que é visto por muitos como uma aventura, por três motivos ilógicos. Primeiro a utilização de um reprodutor nacional. Segundo filho de um cavalo que não inspira para muitos, confiança. E terceiro que não conseguiu como Redattore, Siphon, e Romarin, sucesso em pistas norte-americanas.

Arrocha

Perguntei ao Mário as razões que fortaleceram sua crença e espero por sua resposta, pois, é com depoimentos como estes que se erige uma linha de pensamento.

Os norte-maricanos eram useiros e vezeiros de utilizar-se desta forma de ação. quando seu mercado de venda não era tão importante como o é agora. Kris S. é um exemplo disto. Kitten´s Joy e Dynaformer me parecem outros. E se eu me dignar a colocar minha cabeça para funcionar, dezenas de outros nomes, surgirão da memória. Cavalos que tiveram seus respectivos inicio pela crença de uns ou outros, e com o tempo adquiriram o respeito que mereciam por parte do mercado, resultado da coragem destes pioneiros.

Nisto eu penso como os norte-americanos, ou como os pelicanos...