
Não acredito que no Brasil, muitos de nossos proprietários e criadores possam ter conhecimento quem possa ser este inglês, já beirando os setenta anos de idade, que se mantém na maior parte do tempo, quieto, observando tudo a sua volta. E creio que mesmo entre aqueles que possam ter conhecimento de quem seja Jonathan Sheppard, poucos podem ter igual conhecimento, dele ser o homem que treinou Storm Cat.
Sim ele foi o único a treiná-lo.
Mas como um treinador de cavalos de steeplechase e no flat de cavalos de grama para provas alentadas, veio a treinar no dirt a um dos mais velozes cavalos da história do turfe norte-americano?
Boa pergunta. Mas antes que ele mesmo possa respondê-la, uma curta sinopse de seu inicio.
Nascido em Ashwell, Jonathan Sheppard veio para os Estados Unidos em 1961 para tentar a carreira de jóquei amador. Logo, descobriu por suas próprias palavras não ser um Lester Piggott e iniciou-se como treinador. Segundo novamente por ele, teve a sorte de conhecer George Strawbridge e uma associação proprietário-treinador foi imediatamente erigida.
Nesta mesma época William Young formava a Overbrook em Lexington e o potro de Storm Bird na badaladíssima Terlingua que a principio seria levado para Europa não o foi, ao ser constatado ser portador de EVA. Solução, mantê-lo nos EUA e Jonathan Sheppard não tem a menor idéia porque Mr. Young escolheu ela para treiná-lo. E ai começa toda a história.

JS – Storm Cat não era aquilo que um treinador sonha receber em seu barn. Não poderia ser considerado um elemento atraente. Talvez por isto tenha caído em minhas mãos – sorriu ao fazer esta última observação.
RG – Como você o descreveria?
Jonathan Sheppard fez um movimento nos lábios como estivesse procurando “descatalogar” em sua mente a fotografia de um cavalo que estivera a seus cuidados décadas antes.
JS - Era atarracado, pequeno, de pescoço curto e joelhos atemorizantes. Mas tinha pedigree e diga-se de passagem, naquela época eu não estava em posição de recusá-lo. Dei-lhe a principio tempo. Fui levando-o em meu sistema que não é aquele que um proprietário que quer ver seu animal demonstrar supremacia aos dois anos, anseia. Mas confesso que Storm Cat foi se fazendo e senti que ele tinha temperamento e velocidade. Coisas que você não consegue imprimir a um cavalo. Ele tem ou não tem. O que você pode fazer é saber extraí-las e controlá-las. Não puxei por sua velocidade. Ela transpareceu naturalmente. Era o seu natural. Acho que isto foi muito importante para sua formação psicológica, pois, ele a principio não demonstrava ser um elemento atento e propenso a seguir suas ordens.
RG – E esta excessiva velocidade não o assustou?
JS – Na realidade me agradou muito - respondeu ele sorrindo.
RG – E como você lidou com ela?
JS – Minha esposa Cathy galopava-o. Procurava amansá-lo. Ele tinha aquela habilidade natural que diferencia os cavalos normais dos diferenciados. Avisei o Dr. Copelan, que tratava do assuntos do senhor Young, que tínhamos algo distinto. Não prometi nada, mas lhe garanti que Storm Cat se tratava de um cavalo especial, que tinha que ser levado muito devagar devido a seus temperamento e a má conformação de seus joelhos. Sempre tive receio de seus joelhos, mas igualmente sabia que se o levasse da minha forma, haveria uma chance de manter-lo em treinamento por algum tempo. O problema era saber se seus responsáveis teriam a paciência necessária de esperar.
RG – E o Dr. Copelan e o senhor Young aceitaram de bom grado?
JS – A princípio sim. Creio que não tinham outra alternativa. Pelo menos naquele momento.
Seu sorriso foi franco e revelador.
RG – E o que aconteceu a partir daí?
JS – Storm Cat treinava e a cada dia mostrava mais qualidade. Nunca pedi por tudo que ele poderia ter, mas seus finais eram bons. Para dizer a verdade o fiz uma vez. Antes do Young America Stakes, aquela época uma prova de graduação 1, eu pedi a Cathy deixá-lo correr no final. Ele sem ser acionado fez 33” e trocados. Eu e Cathy ficamos realmente impressionados e certos que ele dificilmente perderia, como não perdeu.

RG – E ai a Breeders Cup. Muita pressão?
JS – Você nem imagina. Eu preocupado com os joelhos de Storm Cat e o Dr. Copelan como eu o treinaria... Mas houve alguns erros de nossa parte também. Erros de marketing, coisa que é muito necessária neste nosso mercado. Talvez pela falta de experiência. Três dias antes da Breeders Cup, sabedor que ele largaria por dentro, se não me engano na raia 2, achei que Storm Cat teria que ser excitado. Aquele apronto que você faz para acelerar o batimento cardíaco e induzir a circulação sanguínea a trabalhar em outra marcha. Pois bem, trabalho meus cavalos em minha fazenda, em pista de grama com subida no final, logo nunca dei bola para o cronômetro. Não me lembro porque, mas eu e Cathy tivemos que fazer algo e um repórter ligou e encontrou Betsy, que era uma espécie de minha auxiliar. E quando perguntada, como fora o apronto de Storm Cat ela respondeu normal. Aí o repórter perguntou que tempo tinha feito e ela sem jeito afirmou, não sei. Imaginem o que tive que ouvir.