Dias atrás me perguntaram quantas línguas eu falava. Eu penso que apenas uma, com fluidez, o português. Com menos intensidade o inglês, arranho o espanhol e perdi todo o italiano que aprendera quando moleque. Hoje só entendo.
Todavia a língua que nunca consegui verdadeiramente dominar, em momento algum, foi a do silêncio, que somente agora, no ocaso de minha existência, tenho tido o ensejo de aprender um pouquinho a soletrar.
Quando se trabalha no turfe, aprender a usar o silêncio, é fundamental, pois como dizia Oscar Wild, pode-se curar os loucos, mas nunca os imbecis. E creiam, o que existe de imbecil solto em nossos hipódromos, não é brincadeira. A última solicitação que recebi, via email, questionava eu justificar por que tenho tanta certeza que linhas como as de Hyperion e St. Simon, não podem ainda ressurgir das cinzas?
O silencio me parece a melhor resposta...
Evidente que uma vertente - em alguns casos - não se extingue totalmente. Ela sai de cena e passa a aparecer em atos menos importantes, ou muda seu posicionamento dentro de um pedigree. O que rotulo como linha em extinção, é aquela de dificilmente irá figurar nas linhas altas dos modernos ganhadores de grupo, embora não consigo por exemplo achar, em lugar algum, sequer ganhadores descendentes por linha paterna de The Tetrarch e Son-in-Law, que no inicio do século passado eram sobejamente reconhecidos, respectivamente com os reis, o primeiro dos sprinters e o segundo dos stayers.
Mas por quanto tempo eles poderiam voltar?
Lembro-me de Monsun que parecia o renascimento da linha Blandford no mundo? Mas seus filhos, mesmo os melhores, não conseguiram dar continuidade a linha. Uma geração e a vaca voltou para o brejo, de onde parecia ter saído milagrosamente.
Em turfe, não existe a piscina de ouro, que o Tio Patinhas adorava de mergulhar. Existem sim segmentos que por uma determinada época dominam, mas que com o passar do tempo demostram serem sucetíveis a dominâncias alheias. E entram assim, no rol dos possíveis extintos. Hoje Northern Dancer e Mr. Prospector são as linhas que demonstram a maior capacidade de continuar. Halo entre os Hail to Reason, são aqueles com mais promissores na lei da sobrevivência clássica, embora na Australia a luta de Sir Gylord é ainda Fote e ai em doses menores os A. P. Indy e os Caros, na tribo, outrora dominante, dos Nasrullas e a situação desce ladeira, com os In Realitys, os Damascus, os Icecapades.
Procuram-se os Blushing Grooms e os Mill Reefs.
Ninguém a vista. Estão naufragando como o foram os Hyperions, Hurry Ons, Fairways, Blandfords, Toubillons e St. Simons, outrora dominantes em suas respectivas eras áureas.
Navegantes desta página, acreditem, a piscina do tio Patinhas existe apenas nas páginas dos almanaques de Walt Disney.