
Sai do Brasil em 1987, mas até aquele momento o cinema brasileiro estava totalmente dominado pela pornô chanchada: Lingua de Veludo, Quanto mais dentro melhor, Bobeou…entrou, Agite antes de usar, Bacanal na Ilha da Fantasia, Que Delicia de Buraco, Poe tudo dentro, Furor Uterino I, II e III e assim por diante. Puro nonsense.
Pois bem, houve um filme que nunca esqueci. Chamava-se Senta no meu que eu entro na sua.
Sui-generis o titulo, vocês não acham?
O citado filme começava com um cara lendo um jornal num banco de praça e um close é dado na manchete. Algo mais ou menos assim: Tancredo reafirma os ideais de 1964. Ai o cara exclama PQP! Tamos fu....!
Dava para sentir o que viria pela frente.
Pois vocês acreditem, isto nem de perto era o mais surpreendente no filme. No primeiro episódio, assistia-se a história de uma mulher cuja vagina começa a falar. Não satisfeitos o segundo era ainda pior. Trata-se do aparecimento de um pênis incrustado na testa de um pobre coitado.
Total surto de nonsense!
Nesta mesma época Hector Babenco mandava para fora o Beijo da Mulher Aranha, que deu a Willian Hurt seu Oscar. O primeiro, reconhecido a um ator interpretando um personagem gay. Estamos falando de 1985, quando ser gay não estava ainda na moda. Uma parada em São Paulo, nunca iria gerar mais de 3 milhões de participantes.
Logo, isto não era uma pornô chanchada. Isto era cinema sério.
No Domingo, fui ao cinema e assisti a nova coqueluche por aqui. Bruno. O filme é hilário, você ri do principio ao fim, mas não deixa de ser uma pornô chanchada. Apenas que hollywoodiana. A história é simples. Um gay austríaco, ainda fã de Hitler, que depois de desempregado resolve vir a Los Angeles para conquistar a fama. Para tal, topa qualquer coisa.
As vezes vejo no turfe igualmente vivermos uma pornô chanchada. Importamos aquilo que ninguém quer, tentamos vender nossos produtos ainda quando yearlings, a preços internacionais e mesmo não havendo além de Einstein, ninguém demonstrando real capacidade de vencer nos Estados Unidos, e Glória de Campeão no oriente, quando algo acima da média pinta em pista, imediatamente colocamos uma tag de no mínimo médios seis dígitos em dólares.
A verdade nua e crua é apenas uma: nosso cavalo está perdendo competitividade em termos internacionais. A Austrália e a Nova Zelândia têm demonstrado poder competir até na Inglaterra, já que tanto na África do Sul, quanto em Hong Kong, Singapura e uma pequena parcela no Japão, já se consagraram. O cavalo sul-africano em Dubai, na Inglaterra e nos Estados Unidos, está tendo melhores resultados que os cavalos brasileiros. Ganhamos com assiduidade apenas no Uruguai.
Tenho a impressão, que as vezes, campeões são forjados na Gávea e Cidade Jardim correndo contra ninguém e ganhando de ninguém. Vendemo-os e com o tempo acabamos com a clientela.
Vejam Bruno, pois, a forma como muitos estão encarando nosso turfe, não está muito diferente. Muita gente querendo chegar ao estrelado sem ter a base para tal.
Mas porque nos encontramos neste quadro tragi-cômico? Porque nos utilizamos mal de nosso dinheiro. Importamos pouco e quando o fazemos, muitas vezes usamos situações aleatórias. Vejamos o que está acontecendo no circuito de maior competitividade no planeta: Inglaterra-Irlanda
Esta é a atual situação do quadro reprodutivo neste circuito.
Reprodutor (Ganhadores-corredores) Vitórias-Corridas Prêmios em £
Linha paterna (Linha materna)
Distância nas mais altas graduações graduações
1st Cape Cross (41-120 34%) 52-327 £1,856,267
Northern Dancer-Danzig-Green Desert (14-c)
GB-Gr.1-1,600m
2nd Montjeu (26-90 29%) 31-201 £1,676,015
Northern Dancer-Sadlers Wells (1-u)
GB-Gr.1-2,400m
3rd Danehill Dancer (43-144 30%) 48-375 £1,434,707
Northern Dancer-Danzig-Danehill (22-b)
IRE-Gr.1-1,400m
4th Galileo (31-91 34%) 38-219 £1,352,923
Northern Dancer-Sadlers Wells (9-h)
GB-Gr.1-2,400m
5th Sadler´s Wells (23-80 29%) 26-172 £1,241,513
Northern Dancer (5-h)
GB-Gr.1-2,000m
6th Pivotal (38-102 37%) 47-295 £1,075,828
Northern Dancer-Nureyev-Polar Falcon (7)
GB-Gr.1-1,000m
7th Oasis Dream (31-97 32%) 40-252 £1,028,627
Northern Dancer-Danzig-Green Desert (19)
GB-Gr.1-1,200m
8th High Chaparral (20-50 40%) 22-154 £791,456
Northern Dancer-Sadlers Wells (1-n)
GB/USA-Gr.1-2,400m
9th Dansili (18-83 22%) 22-232 £736,087
Northern Dancer-Danzig-Danehill (11)
2nd GB/USA-Gr.1-1,600m
10th Invincible Spirit (30-105) 29% 34-305 £691,452
Northern Dancer-Danzig-Green Desert (7-a)
GB-Gr.1-1,200m
Pelo resultado que apresento, estou certo que o que Adolpho publicou aqui dias atrás é a mais pura verdade. Só não vê, quem não está interessado em ver. Não adianta mandar minha avó Adelina (que foi beque central, na área da leopoldina) para jogar em El Salvador, que ela apenas pelo fato de ser brasileira, não será craque por lá. Spend a Buck quando cobriu a primeira égua argentina, uma Practicante que nada tinha a ver com o perfil das éguas norte-americanas, tascou uma excepcional ganhadora de grupo 1. Logo, era para a América do sul que teria que vir, como todo Buckpasser. Vejam o que produziram Spend one Dolar no Peru, Seattleman Day no Chile, Logical e Egg Toss na Argentina. Coincidência?
Olhem o que está acontecendo no mundo turfístico moderno. Northern Dancer da cabeça aos pés. Metade deles por Danzig e uma ligeira supremacia de 3x2 a favor de Green Desert em relação a Danehill.
Levando-se em conta o sentido aptitudinal, notariamos que apenas três reprodutores, desta amostragem de dez, quando em pista mostraram suas melhores qualidades acima da milha. Um na milha. E seis abaixo dela. Logo o mercado está nas patas dos sprinters e dos flyers.
Fica fácil de se entender. Se você quer um elemento da linha Danzig nunca traga um que tenha se coroado acima dos 2,000m em provas de graduação máxima. Traga sim um Sadler's Wells. Danzig, como ele próprio, para ser Danzig tem que estar no máximo até a milha. Ainda mais se vier pelo veio dos sprinters Danehill e Green Desert. Do contrário vira o samba do crioulo doido.
Conclusões devem sempre ser tiradas no topo da classe, nunca se levando em consideração provas de menor vulto. Pois, estas últimas, de maneira alguma podem ser vistas como o fiel da balança.
Cavalos como Sagamix, Trempolino em sua segunda viagem, Sharannpour, Cavo D'Oro, Honeyville, Shangamuzzo, Cut Above, Pardallo, Patch, Pleasant Variety, Duke of Marmelade e mesmo Youth, para se citar apenas dez entre os mais modernos não funcionaram. Como pode se ver 70% dos dez citados, serviram no estado de São Paulo, que o Adolpho tão bem salientou como necessitado de velocidade.
Não sou contra o cavalo staminado. Sou contra o cavalo galopador. Aquele sem o burst of spreed de um Henri le Balafre e de Waldmeister, ou a aceleração inicial de um Clackson.
Dos citados acima, Trempolino e Youth seguramente tinham aceleração final, tanto que o primeiro se deu bem aqui no Brasil, em um centro que é dotado de éguas possuídoras de velocidade e o segundo foi capaz de produzir um cavalo do naipe de Palemon numa inigualável milheira como Eventful. E no caso do último, diga-se de passagem, que no mesmo criador que conseguiu fazer I Say produzir algo. Dentre estes o seu melhor cartão de visita foi indubitavelmente, Clackson, cuja mãe Quarana - segundo o Serafim Correa que a treinou - assegurou-me ela ser uma égua dotada de extraordinária velocidade.
Logo, se alguém quizer se divertir com nonsense que vá assistir Bruno. Asseguro-lhe que vocês vão morrer de rir. Mas trazer nonsense para o turfe, e defendê-lo com unhas e dentes, tenho certeza que quem o fizer, irá chorar lágrimas de esguinchos.