
Renato,
Quero te cumprimentar pelas "variações" filosóficas em torno do nosso universo turfístico.
Em particular em seu artigo sobre a Teoria Quântica quero dar um piteco, o qual peço que aceite já que é de graça.
A mudança de paradigma da "realidade independente" para outra em que o observador é parte integrante de experiência interferindo inclusive em seu resultado, é "revolucionária". Entretanto essa percepção ainda está longede ser incorporada em nossa cultura ocidental positivista.
Quando você se declara ignorante no assunto não concordo. A essência da nova maneira de pensar já foi por você bem captada e quem sabe, com sua maneira fluida e bem humorada de escrever, possa influenciar os nossos colegas do turfe melhor do que o velho "Beto Einstein".
Agora que você também é um interessado e quase expert em Lógica, quero sugerir uma associação da Teoria Quântica com o pensamento dialético, não o socrático, mas o que influenciou parcialmente nossa cultura através de Heráclito(séc/ V,a.c), repaginado por Hegel(séc/ XVIII,d.c) e posteriormente aperfeiçoado por Marx(séc/,XIX,d.c), perdoando-o de todas a consequências catastróficas que causou posteriormente. Em sua essência, ele propõe que a relação causa/efeito de toda a experiência ou ação não seja percebida de forma mecanicista, em outras palavras, que quando dadas as mesmas condições hipotéticas, teremos sempre os mesmos resultados. Sua técnica consiste em, dada uma condição hipotética, que ela se coloque como uma tese. Simultâneamente cria-se uma antítese(ou contradição) que
fundindo-se dialéticamente com a tese, transforma-se em nova hipótese... que se transforma em nova tese, e assim por diante, indefinidamente.
Newton,
Acredito firmemente que Myconos possa envolver alguém com o seu clima filosófico. Outrossim, há de se ter conhecimento básico filosófico para não só senti-lo como principalmente projetá-lo para fora de si. O que você como criador e proprietário já provou ter em distintas oportunidades. É justamente o oposto da psicobaboseira pregada por aqueles que apenas se dignam a ler a orelha dos livros e dissertar alhures para a pseudo elevação da humanidade.
Sempre fui inebriado pelas coisas que não entendo. Talvez um pequeno fragmento do frontispício de instintos radicais que todos nós possuímos dentro de nossas atabalhoadas mentes. Muitos deles inapaziguáveis. Por isto leio tudo e todos, independentemente das raízes filosóficas e culturais de quem quer que seja. Pois como diria minha saudosa vó Adelina, de tudo se tira um pouco.
Não domino o pensamento quântico nem mesmo lógico como você gentilmente afirma em seu e-mail. Mas respeito-os, tento entendê-los e o pouco que sei tento transmitir a aqueles que acreditam no que minha pena escreve. Escrever e defender sua teses é desnudar-se a um publico invisível, habitado por centenas de inimigos a espera de seu deslize.
Trazer para o turfe os ensinamentos daquele pouco que fica de tudo aquilo que se aprende, vulgarmente alardeado como cultura, para o nosso turfe é o que humildemente tento fazer. Todavia, existe uma gama de personagens que rotulam esta minha maneira de expor pontos de vista de snob e arrogante. Como você tem conhecimento, o turfe em nosso pais possui uma fração ínfima, mas importante - em um de seus segmentos mais altos - de personagens que traduzem o verdadeiro sentido da corporificação de frustrações e ressentimentos d’alma.
Li Marx e Hegel. Muita coisa me escapou, mas algo deu para sacar. Para mim Hegel era o ídolo de Marx, mas este repudiava esta possibilidade e morreu enganando-se a si próprio que havia colocado as teorias de seu herói de cabeça para baixo. Ledo engano. Não precisei nem terminar o primeiro livro de sua trilogia, para conceber que Marx era um gênio, capaz de articular um bando de alucinações de impossibilidades científicas, de uma maneira bem articulada e crível aos olhos menos preparados. Como diria Paulo Francis, ninguém mais legitimou a inevitabilidade do capitalismo do que o próprio Marx.
Thomas Carlyle que segundo este mesmo Paulo Francis, de quem Marx herdou todas as inventivas, recusava terminantemente o capitalismo e acreditava que tudo poderia ser sanado com uma organização social humana. A mesma teoria que a igreja prega, mas não conseguiu em séculos tornar realidade. Milton Friedman e John Ralws partidários da impossibilidade de se coibir o consumismo, aceitam melhor uma realidade quase quântica desta autêntica tendência humana.
Em diversos momentos o irracional e o emocional assumem posições importantes em nossa existência e é isto o mais profundo erro que podemos encontrar no turfe brasileiro. Aqueles que não conhecem as teorias, as reduzem a uma tarefa ingente. Imediatamente, sem sequer saber onde e em que madrugada o galináceo pode ter soltado sua voz, se embutem no Behaviorismo. O assumem de forma inconsciente e passam a exercê-lo em toda sua capacidade de condicionamento em que em tese, todos os cavalos e corridas são motivados por apenas aquilo que podem tocar e ver. Como São Tomé, pagam por este pecado de serem inábeis ao detalhe inserido dentro de algo que não se pode ver e muito menos tocar, mas que irá influenciar o produto que você criou ou selecionou para correr.
Genética e o trato com o animal são ciencias sem regras prescritas. Necessita-se de sentimento e este sentimento com o tempo o eleva a categoria de expert. Uso apenas o poder da estatística para sensibilizar aos descrentes, que existem opiniões e fatos. Não concordar com as primeiras e um direito que assiste a qualquer um. Se contrapor a segunda, é um atestado de mediocridade mental.
Isto o leva ao que você também o definiu. A mudança de paradigma da "realidade independente" para outra em que o observador é parte integrante de experiência interferindo inclusive em seu resultado, é "revolucionária"
Diante do indelével espectro deste trabalho inglório, na realidade venho me debatendo a anos. Diria até que decadas. Quando em 1980, abandonei o que fazia relativamente bem em meu ramo de arquitetura para ter mais tempo de me aprofundar naquilo que realmente amava, os cavalos de corrida, tive meu primeiro ensinamento. A primeira regra do turfe era simples: no rules! Quando em 1987 resolvi me sediar em Lexington, o fiz para aumentar meu senso de perspectiva. O Brasil era uma ilha turfística. Lexington, o verdadeiro universo. Volto a citar Paulo Francis que uma vez escreveu algo que nunca mais esqueci: conhecer o mundo é a forma de diluir no relativismo de outros mundos, nossas preocupações obsessivas.
Nosso turfe é regional. Ilhado em suas próprias verdades, que mais se assemelham a irrealidades. O do hemisfério norte mundial. Amplo, aberto, desprovido de dogmas. Como nos adaptarmos a ele? Talvez seguindo os exemplos de Austrália, Nova Zelândia, Argentina e porque não dizer de forma mais recente a África do Sul. Porém, para que isto tome vulto é necessário inicialmente a humildade de aceitar o fato. Coisa para o qual não estamos muito afeitos.
Em minha primeira aula na faculdade de arquitetura Santa Úrsula, me foi dito que em arquitetura nada se cria, tudo se copia. Não há nada de mal em copiar aquilo que deu certo. Não uma cópia fria e sem inventiva. Mais ter idéia básica como diretriz seria a meta e adaptá-la a nossa realidade, o objetivo. Aceito parcialmente o fato do idioma pátrio ser uma pesada cruz que carregamos em nossas vidas. Paciência, os portugueses chegaram antes dos ingleses... mas não creio também que seja o real impencílio, pois poucos são os que falam japonês e vejam na força pujante que este centro criatório se transformou, mesmo com seus insolúveis problemas de área física.
Newton, a substituíção da visão estática do sentimento clássico, pela dinâmica da indução lógica está se tornando uma verdade no hemisfério sul. Resta esperarmos que o nosso hemisfério e em especial o nosso país se ligue no fato.
Hallandale Beach não é Myconos, mas o mar está cristalino, o céu azul e mesmo sem o clima filosófico grego, acredito que tenha respondido em parte, suas indagações.