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sexta-feira, 9 de julho de 2010

ALCEU ATHAIDE, SUAS HISTÓRIAS - SUA VIDA - SEGUNDA PARTE

Outra forte imagem que ficou marcada na minha mente de garoto, foi Luiz Rigoni e Salomão Ferreira terem igualmente chegado à Gávea, trazidos por Pedro Gusso – pai de Elídio Gusso, este por sua vez pai do Elídio Pereira Gusso, o popular Dengo de Cidade Jardim – neste mesmo período. E foi ai então, que Que Lindo, treinado por Pedro Gusso, entrou para a história do turfe por ser o primeiro cavalo montado na Gávea pelo melhor freio de todos os tempos que vi atuar; Luiz Rigoni. Que jóquei.Tinha classe e senso de onde estava exatamente colocado o disco de chegada. Nao exigia mais nem menos do cavalo que pilotava. O fazia com extrema exatidão, como tivesse um cronômetro em sua cabeça. Era perfeito no entendimento do trem de carreira. Daí para frente o sucesso do homem do violino foi uma redundância.

Rigoni venceu o GP.Brasil em três oportunidades. Em 1954 com El Aragones, cuja carreira é descrita no segmento deste livro pelo Alceu e que segundo um grande cronista da época, foi tão precisa sua direção e tão milimétrica sua atropelada, que até o Cristo Redentor se virou para checar. E nos anos de 1970 com Viziane e 1971 com o argentino Terminal, no último ano em que esta carreira veio a ser disputada em sua distancia original, os 3,000m. Rigoni, igualmente triunfou no GP. São Paulo por duas vezes; em 1948 com a lourinha Garbosa Bruleur em outra carreira descrita pelo Alceu na seqüência deste livro e no ano seguinte com o irlandês filho de Legend of France, Saravan. Outrossim, diria que o milheiro Quartier Latin, possa ter sido o cavalo que o público mais se identificou com Rigoni. Com o filho do francês Faublas de criação do haras São Bernardo, “o mestre do violino” ganhou quatro milhas internacionais, entre cidade Jardim e Gávea. Rigoni foi homenageado um ano antes de morrer no hipódromo da Gávea juntamente com Juvenal Machado por um publico que caracterizou-se por gritar “Dá-lhe Rigoni” e “Lá vem o Juvenal”! (Nota do autor).

É bastante agradável para mim recordar-me de Elídio Gusso e que muitos anos depois, tive o privilégio de indica-lo ao meu grande amigo Matias Machelini, para o qual trabalhava como veterinário responsável por toda a sua operação turfística, sua pessoa. Assim ele chegou a São Paulo com o Dengo ainda ao pé.
Elídio Gusso, não era apenas um excepcional profissional em seu metier. Era também para mim, o amigo que merecia a oportunidade em trabalhar em um esquema de primeiríssimo nível, comandado pelo Matias, que me dava total liberdade para gerir seus interesses na área dos cavalos de corrida. Com certeza Matias foi uma das grandes perdas do turfe paulista e brasileiro.

Mas voltando aos anos 40, durante um ano morei no Rio de Janeiro, na Avenida Jardim Botânico, bem pertinho do hipódromo da Gávea, junto a já desaparecida Ponte de Tábua. Estavamos nas cercanias da Lagoa Rodrigo de Freitas, a poucos passos da oficina de trabalho de meu pai, a vila Tattersall. Se não me engano, nem a vila Lagoa ainda existia naquela época. Meu programa era acompanhar meu pai nas matinais, bem cedinho pela manhã, assistir os treinamentos ministrados por ele aos animais do haras Valente e tratar de tomar conhecimento de tudo que me cercava. O sentimento de estar ali participando do que mais importante podia existir no turfe brasileiro daqueles anos, me fascinou. Ou melhor me empolgou. Pois, acreditem foi exatamente ali, naquele exato momento, que senti que de alguma forma teria que participar daquilo tudo. Era o mundo que queria viver. Afinal era mais do que a minha vida presente. Teria que ser o meu futuro.  Graças a Deus o foi. Nunca me arrependo da decisão que tomei.

O tempo passa e a gente não se dá conta de quanta coisa está marcada lá no fundo de nossa mente. Entre elas, algumas lembranças me vêm, todavia duas delas me parecem importantes de não se deixar passar em branco, sem comentários. A primeira, em um tempo de benemerências e fidalguia, foi que entre os potros inéditos que o velho Linneo de Paula Machado doou para o Jockey Club do Paraná, com o intuito de fomentar o desenvolvimento daquele hipódromo, estava o potro Estadista. Novamente quis o destino que no mesmo dia em que este potro veio a estrear na Gávea, ele simplesmente bateu o recorde de Buscapé, para a distância de 1,000m na grama. Recorde este que só veio a ser batido anos depois pela extraordinária égua argentina Empenosa, que ao tempo se transformou na mãe do invicto ganhador de três Derbies, Emerson e do qual dela igualmente descendem duas tríplices coroadas brasileiras; a minha inesquecível e também invicta no Brasil, Emerald Hill e o recente fenômeno chamado Colina Verde. Não vou me ater a Emerald Hill agora, mas saibam que ela foi realmente um fenômeno, com certeza a segunda melhor potranca com quem trabalhei. Mas a vitória de Estadista foi muito comemorada.

A coisa não ficou apenas por ai. Vocês acreditam que nesta mesma tarde, meu pai também estreava na Gávea a potranca Tocandira montada por outro estreante neste mesmo hipódromo, Omário Reichel. E a prova escolhida, foi não mais nem menos que o Grande Prêmio Diana, que para quem não tem conhecimento era naquela oportunidade uma prova aberta para potrancas e éguas de todas as idades. Para se ter idéia da dificuldade que era vencer esta prova, a fantástica Tiroleza reinou em três ou quatro oportunidades. Ela era outro fenômeno. Um comentário pessoal; Omário Reichel, para mim, não foi apenas um grande jóquei. Ele foi muito mais do que isto. Um irmão por afinidade, já que foi criado em minha casa, com os mesmos cuidados que eu e meus outros irmãos tiveram. Não havia distinção. E vejo o rosto de felicidade de meu pai em conferir o Omário como um expoente nas rédeas. Vejam como este mundo é pequeno e o do turfe menor ainda. Tirolesa ... nossas vidas acabaram por se encontrar anos depois, em condições completamente adversas. Mas deixo isto para contar depois.