RESPOSTA A UM NOVO LEITOR: A ESCOLHA DE UMA MONTARIA

Renato,


Confesso que apenas a pouco tempo tenho acompanhado seu blog. 
Um amigo meu, igualmente criador de outra raça de cavalo de corrida, me passou seu endereço e eu comecei a ler. Tenho a dizer que estou fascinado com as teorias que andam em volta do cavalo de corrida e sinto que você as domina. E o mais importante, as repassa com clareza e de uma forma didática que até um leigo como eu, na raça de corrida, entendo e me interesso em ler. 
Noto que você pouco fala sobre jóqueis. E sei que no Brasil existiu um que foi o maior ganhador de corridas da história. Ricardo, se não me engano. Uma pergunta de leigo. Quem escolhe o que montar, o jóquei, o treinador ou o dono do cavalo?


José de Arruda Leite.

Caro José,

Inicialmente obrigado por suas gentis palavras. Me sentirei plenamente realizado se o trouxer para o cavalo de corrida, pois, este é um dos intuitos deste blog. Todo o cavalo é bom, mas creia em mim. O de corrida é melhor!

Não existe uma regra, quanto a um jóquei escolher ou ser escolhido para uma determinada montaria. Nos Estados Unidos, os jóqueis - em sua grande maioria - não tem contratos com treinadores ou proprietários. Agem como free-lancers. O que eles possuem são agentes, que saem atrás das montarias, pois, normalmente são pessoas com pleno conhecimento das corridas e de seus bastidores. No Brasil, onde os prêmios, não se comparam aos do hemisfério norte, a maioria dos jóqueis prefere assinar um contrato que lhe garanta um mínimo. Comissão passa a ser lucro.

Quando um jóquei é contratado, normalmente é dado a ele o direito de decidir quem montar, se o seu contratante tiver na prova mais de um cavalo inscrito. E acredite meu caro José, muitas vezes, mesmo eles que estão montando dia a dia os cavalos, são enganados e o treinador tem que abrir os olhos dos mesmos.

O Ricardinho, que você citou, é um fenômeno. Ainda monta, só que na Argentina, em regime de contrato. Continua sendo o recordista mundial de carreiras ganhas, mas mesmo assim em várias oportunidades vi ele escolher o cavalo errado, principalmente em carreiras como o GP. Brasil. Logo, cavalo engana. E jóquei, mais ainda

Isto que você me perguntou me fez lembrar uma história famosa, acontecida aqui nos Estados Unidos, na época áurea, de uma fazenda de Kentucky, chamada Calumet. Eles tinham para o Kentucky Derby de 1948 - prova que em menos de 15 ganharam mais de meia dúzia de vezes - uma dupla: Citation e Coaltown. O jóquei contratado desta fazenda era nada mais nada menos, que Eddie Arcaro, o melhor da época. Um fenômeno também. Ai perto da disputa do Kentucky Derby ele veio a seu treinador e pediu para montar Coaltown, pois, vinha trabalhando a seu ver, com mais facilidade que o companheiro Citation. Embora ambos estivessem chegando em tempos iguais.

Ben Jones o treinador, homem de extrema experiência no assunto - venceu seis edições do Derby e na época já tinha embolsado duas -, não lhe deixou terminar o pedido e foi direto.
- Você montará Citation.
- Mas eu acredito...
- Ed, para o melhor jóquei tem que ser dado o melhor cavalo.
- Não tenho certeza se Citation é o melhor neste exato momento...
Jones sorriu e arrematou:
- Vou lhe dizer uma coisa. Não existe neste planeta um cavalo que Citation não coloque os olhos e não o ultrapasse. E pelo que sei, ele não está com problemas oculares.

Citation foi tríplice coroado.

Venha para o turfe, viver histórias como estas.

Abraços
Renato Gameiro