SPEND A BUCK
Existe uma gama entre os turfistas que podem ser rotulados de suicidas natos. O suícida nato é aquele que sempre escolhe o caminho mais dificil a trilhar e para que entre pelo cano monumental não precisa de fatos, nem de motivos maiores. seu destino é o cano. Infurna-se nele como num buraco negro com a placidez e a resignação de um monge do tibet. Só assim, atinge o estágio de nirvana.
Sempre vi o suícido como um ato de suprema coragem. Tem que se ter muita raça para retirar-se da vida, por livre e expontânea vontade. O suícidio no mercado de cavalos de corrida, requer ainda mais coragem, pois, custa dinheiro, tempo e acima de tudo está sujeito a gozação daqueles que permanecemà sua volta. Os mui amigos.
Hoje existem muitas formas de se suicidar turfísticamente. Muitas das quais salubérrimas. O reprodutor errado é uma delas. A cada geração ele cria para você um montão de despesa. E quando você descobre que ele não é o boi, ainda virão mais três gerações para lembrá-lo do erro cometido. Mas nem sempre um reprodutor dá errado, apenas por sua culpa. Muitas vezes ele não recebe as éguas que deveria receber. Mas ninguém em sã consciência, dá o braço a torcer. Muito menos tenta reabilitar um reprodutor fracassado. Simplesmente ele é abandonado ao léu.
Spend a Buck, Roy, Candy Stripes são para mim, os mais significativos exemplos de elementos fracassados, que encontraram redenção nos haras brasileiros. Southern Halo, também só conseguiu sucesso na Argentina. E o que dizer de Hawk, Mr. Long e Settleman Day? Quando transferidos para os Estados Unidos, depois, de seus retumbantes sucessos no Chile, tiveram a mesma ausência de resultados de Roy, Candy Stripes e Southern Halo. Mesmo em relação a Orpen, não se pode comparar seus resultados na Inglaterra e na Argentina.
Candy Stripes
Assim sendo eu acho que garanhão é que nem casa nova. Não adianta trazer parte da mobília, pois grande parte dela não vai combinar ou caber. Tem que se partir para uma nova. O mesmo em relação a um haras.
Antigamente os Haras mais tradicionais se preparavam para receber um novo garanhão. Você trazia um King Salmon e um Formasterus. Depois um Swallow Tail para cobrir as filhas de King Salmon e um Fort Napoleon para as de Formasterus. Ai vinha o Waldmeister e Felicio e a coisa como que casava. Como se fosse uma residência em que a gente apenas aumentava o número de comodos e a modernizava conforme as necessidades. Na Europa, Aga Khan e Prince Khaled Abdullah ainda mantém esta forma de agir, mas de forma mais moderna.
Mas o passo inicial é munir seu reprodutor de éguas que possam fazer ele desenvolver todo o seu potencial. Não apenas comprar éguas boas. Você tem que estudar a fundo aquele que vai ser a base de seu Haras, pois, em uma temporada ele vai colocar em seu solo muitos produtos e cada um deles comer parte de seu investimento.
Com o evento do shuttle, existem haras hoje que não dispõe de um garanhão. E sim cotas de alguns e participações em shuttles. É válido, mas não tão eficaz. Um haras se faz de linhas maternas e cruzamentos bem engendrados. E esta é a forma mais racional de se chegar com mais rapidez onde quer se chegar.
Sinto uma pungência quase maternal, uma afeição escandalosamente romântica, pela forma como certos criadores operam seus haras. Uma forma de ser, a meu ver, angustiante. Diria que chega às raias da crueldade intelectual. Não digo amadorismo, pois, todos possuem profissionais, apenas que em suas decisões seletivas, se deixam levar por gostos mais pessoais do que propriamente técnicos. Compram o ue lhes afaga o ego, não propriamente aquilo que necessitam. E, em contrapartida, em seus negócios, agem de maneira dimetralmente oposta. Lá, são de uma precisão cirúrgica.
Hoje o criador moderno, isto é, aquele que acredita que possa chegar onde pretende chegar, tem que adquirir uma égua, já tendo em mente com quem esta égua irá cobrir. Isto tem que ser automático. Seu raciocínio básico deveria ser: tenho aqui a meu lado o fulano. Quais neste catágolo, seriam as éguas ideais que poderiam cobrir com ele. Porém, ele tem que estar convencido disto.
Roy
Eu por dois leilões de Novembro em Keeneland marquei para um criador as éguas que considerava ideais para seu reprodutor recém adquirido. Ele nem se dignou a discutir o fato. Mandou uma outra lista de éguas. Bem mais caras e que a meu ver não auxiliariam seu reprodutor como eu acreditava que as de minha lista, poderiam. Eram boas éguas e que certamente lhe trarão alegrias, mas não na proporção que ele merecia pelo investimento feito.
Não cabe ao agente provar que seu cliente esteja errado. Esta aliás foi a vereda que mais rápido me levou a perder alguns. Outrossim, é necessário defender seu ponto de vista e deixar que ele decida.
O turfe tem provado que o negado aqui, pode não ser um negado acolá. Condições distintas daquilo que considero "meio ambiente" podem agir sobre o mesmo e remediar uma situação considerada perdida, da mesma forma que em ordem inversa. Como diria vó Adelina, cada macaco no seu galho. E dentro dos galhos que poderão trazer uma melhoria produtiva, está, sem dúvida alguma, o book de suas éguas.
Pense nisto neste Novembro. Traga aquilo que necessita, não mais um troféu para colocar acima de sua lareira.
Pense nisto neste Novembro. Traga aquilo que necessita, não mais um troféu para colocar acima de sua lareira.