PEQUENO PAPO DE BOTEQUIM: EFEITO PARALISANTE, QUASE HIPNÓTICO
Outro dia falei sobre a qualidade física de animais, e de como 90% dos grandes cavalos que vi correr tinham físicos primorosos. O que eu quero é que entendam, que para mim, o cavalo de corrida é uma obra de arte. Posso estar errado em tratar da questão desta forma. Paciência. Foi assim que formei a minha mente e é assim que os resultados que consegui, surgiram. Outrossim, eu quero igualmente deixar claro, que a obra de arte, não é necessariamente bonita. Gaudi erigiu monumentos a estranheza. Picasso louvores ao contorcionismo. Goya, verdadeiros mapas do inferno do lado do avêsso. E nem por isto deixaram de ser consideradas obras de arte, com valor e disputa no mercado. Artistas como eles - considerados por muitos como gênios - têm a capacidade de quando mergulhados em seus trabalhos, emergir em um universo paralelo, como Beethoven, na música, Einstein na ciência, Nureyev no ballet, Pelé no futebol, e Tesio na criação de cavalos de corrida.
Contudo para mim, que tenho formação de arquiteto, ver cavalo desequilibrado, é como ter a sensação de uma agonia inevitável. É paralisante, quase hipnótico, leva-me as raias do esoterismo Tenho que me conter, para não o fazer voltar à sua baia - de onde nunca deveria ter saído - antes mesmo de dar seu segundo passo. E pasma-me o tempo que algumas pessoas perdem examinando, algo que qualquer iniciante do mercado vetaria, nos primeiros segundos.
Sem querer trazer para mim a infalibilidade papal, que muitos defendem em nossa atividade, a ponto de renegar toda e qualquer teoria, eu diria que a arte de se selecionar cavalos de corrida está em ver qualidades, não defeitos. Sacar as coisas que não estão em seus devidos lugares, é obrigação de todo agente. Agora dentre os bonitos, distinguir o joio do trigo é o verdadeiro divisor de águas. É o que chamo, de captar qualidades.
Olhar para uma pintura de Picasso e achar que o nariz está torto, os olhos em quadrantes distintos, qualquer um é capaz de notar.
