Enganam-se aqueles que acham que o presidente Lula foi o primeiro a subir a rampa do planalto vindo de família humilde e que gostava de encher a cara. Jânio, décadas antes, tornara-se o primeiro a conseguir, vitima como o segundo, de uma votação de gente que queria mudanças, mas ao invés de procura-las de um modo racional, apelou para a improvisação e partiu para o culto ao esdrúxulo.
A virtuosidade é necessária, para que haja diferenciamento entre o normal e aquilo que excede. Principalmente em se tratando de cavalos de corridas. E acredito eu que hoje, na madrugada vi uma potranca correr o que poucas vi correr e arrisco a afirmar que se ela for trazia para o Arco, ganha, ou faz uma belíssima carreira. Estou me referindo a Harp Star.
E olha que além de ser uma afirmativa arriscada, quando se olha o resultado do Oaks japonês, e verifica-se que ela não passou de uma segunda colocação, dou o direito a qualquer um pensar que estou mai para Jânio Quadros, do que para alguém dotado de sanidade mental. Sim, ela não ganhou. Outrossim da forma como veio a ser corrida, não ganharia a não ser que as da frente parassem. E elas não pararam. Qualquer elemento muito bom, nas condições em que Harp Star foi corrida, chegaria pouco a frente do meio do pelotão, lá pela sétima ou oitava colocação. Ela correu sempre a frente de apenas duas concorrentes, num campo de 18 competidoras, entrou na reta em último, foi trazida aberto a meio de raia e perdeu por pescoço. Mais 10 metros e ganharia.
Sei que é difícil se precisar que uma fêmea, corrida do outro lado do mundo, possa vir a Longchamp e ganhar o Arco. Não que os cavalos treinados no Japão não tenham condições de fazê-lo. Recentemente eles estão vindo e chegando bem perto. Mas existem condições especiais para um cavalo se sair bem em Longchamp e eu acredito que Harp Star as tenha, se for corrida mais perto, pelo menos no final do pelotão do meio. Não como fez, nas últimas colocações.
Sua aceleração final é estonteante. Confesso que assisto muitas carreiras e ontem mesmo fiquei a madrugada toda assistindo ao Japão e a Hong Kong. Mas afirmo, sem o menor resquício de dúvida, que poucos animais possuem esta aceleração apresentada por Harp Star. Usei o termo estonteante, como poderia usar fulminante. Lembrou-me Nijinsky, quando este perdeu o Arco para Sassafras em condições exatamente idênticas.
Trata-se de uma filha do fenômeno reprodutivo Deep Impact e advém de um bom ramo da 9-f.
Não falei da ganhadora. É, existe uma razão. A performance de Harp Star, eclipsou, todas as suas adversárias. Senti-me hiptonizado por sua ação, como sentia-me quando via o Ricardinho tirar Much Better para fora. A corrida para os demais terminava por ali. São cavalos como estes que para mim fazem a diferença e lhe obrigam a ficar madrugadas acordado, para assistir a um espetáculo, que deve estar entre os mais emocionantes da terra. Se não está, deveria!
