PAPO DE BOTEQUIM: A IMPORTÂNCIA DE CAPE CROSS

Impressiona-me como certos símbolos se formam na cabeça de cada um. Inclusive na minha. Qual a decorrência, que nos levou ao corriqueiro fato da grande maioria das pessoas pedir uma gilete, querendo na verdade se referir a uma lâmina de barbear? Não necessariamente a de marca Gilete. E uma Coca-Cola, mesmo em um lugar que só venda Pepsi? Não sou conhecedor de vinho, mas em termos de Ámerica do Sul, não acredito que o vinho chileno, possa ser tão superior ao Argentino, mas fora de nossas fronteiras continentais, é o primeiro que é o mais caro e o mais respeitado. O mesmo pode ser visto em relação ao café. Acredito que o Brasil, ainda possa ser um dos maiores exportadores de café, mas o Juan Váldez e aquele seu burrico ridículo, monopolizaram o mercado a pensar que o café colombiano é superior ao nosso. Puro marketing. E a prova disto é fácil de ser realizada, no momento que em um Starbuck, com certeza você acha o café colombiano, da Guatemala e até do Quênia. E dificilmente um brasileiro.

O mesmo acontece no turfe. Ontem recebi um e-mail de uma criadora, onde discutíamos a possibilidade de compras em Tattersalls, e embora tenhamos marcado, cinco opções, - todas irlandesas - ela se referiu as mesmas como as inglêsas. E eu mesmo cometo este ato, na maioria das vezes, quando me refiro a éguas europeias.

Hoje as grandes marcas da criação mundial, as Giuletes e Coca Cola da vida são, indubitavelmente Galileo, Danehill, Storm Cat e dai para frente em escalas menores filhos de A. P. Indy e Mr. Prospector. Eles não são personagens criados como Juan Valdez. Eles imerecidamente chegaram onde chegaram por provarem, ser elementos diferenciados no breeding-shed. E eu, embora os respeite, particularmente tenho uma afeição antiga, por Green Desert. Nele venho investindo sempre que me é possível, pois, a cada ano ele me dá provas de sua imensa capacidade de transmissão de classe e velocidade através da distância.

Se vocês analisarem as estatísticas para reprodutores por prêmios ganhos na Europa, que publiquei a dias atrás, verão que dos dez primeiros colocados nas mesmas, dois são seus filhos, Invincible Spirit (2º colocado) e Oasis Dream ( 6º colocado) e um seu neto Sea the Stars (10º colocado). Ai a gente olha as estatísticas para avôs maternos e constataremos que o pai de sea the Stars, Cape Cross é o terceiro colocado, apenas atrás dos monstros sagrados, Sadlers Wells e Danehill. Agora atentem para o fato de Sadlers Wells ter 465 corredores, Danehill 317 e Cape Cross apenas 113.

Cape Cross era um milheiro de alta classe sem ser soberbo. Mas demonstrou a rara capacidade de produzir elementos staminicamente superiores como seus filhos Sea the Stars (Arco e Derby) e Ouija Board (Oaks) e agora a um dual Derby winner como avô materno, Australia. Logo a presença dele, em pedigrees me parece importante. Imaginem numa criação como a nossa, onde existem alguns inacreditáveis mesmo assim capazes de fazer os seus nomes.

Ai eu pergunto: Quantas filhas de Cape Cross servem atualmente a reprodução brasileira? A resposta é vexatória: duas. Cara Sola e Jafool. A primeira que saiu do Mondesir com a liquidação do mesmo e entrou nas lides do haras Cima e a segunda, no Stud Colorado.

Cara Sola, que tem uma mãe Sadlers Wells e além disto possui uma alta concentração de linhas 5, sendo três delas pela exuberante 5-h, e responsáveis por uma duplicação em Thong, teve colocado a venda este ano, um filho de Nedawi - que não sei por que continua sendo tratado como um proscrito - que para mim era um sonho. Até em seu nome, Piggott. 

Jafool, irá ter seu primeiro produto pelo brasileiro Acteon Man, tem mãe Gone West, irmã inteira de Elusive Quality, e como tal, com duplicação em Somethingroyal.

Houve uma época no Brasil, que criadores se juntaram para trazer grupos de éguas. Independentemente dos resultados que cada uma possa ter tido era o esforço que trouxe progressos para a nossa criação.