Renato,
A tua nota sobre o Que Fenômeno e tuas postagens sobre a maior utilização do reprodutor nacional são muito válidas e oportunas.
E não digo isso por conta da promoção do Que Fenômeno, que obviamente me interessa, mas sim pensando no bem da criação nacional.
É fato que não temos conseguido importar cavalos que comprovadamente agreguem e sim somente cavalos limitados ou bilhetes fechados que preferiram não abrir na origem em virtude do risco alto de insucesso, o que inviabilizaria uma comercialização futura. Acho que uma das poucas exceções nos últimos vários anos é o Hat Trick, que, muito embora tenha chegado aqui já com alguma idade, imagino que só tenha vindo pois seus últimos animadores resultados apareceram após sua comercialização. De qualquer forma, penso que ele será um reprodutor altamente útil aqui.
Mas, para que não dependamos da sorte ou de somente importar cavalos com idade avançada, parece-me que nos resta melhor utilizar o reprodutor nacional.
Neste sentido, como em qualquer seleção de cavalos de corrida, os critérios são: (i) campanha; (ii) físico; e (iii) pedigree.
A diferença é que no caso de um reprodutor, diferentemente de uma égua de cria ou de um prospecto para campanha, não é possível se abrir mão de nenhum dos três critérios e nem flexibilizá-los. Quando os flexibilizei, o resultado não foi o esperado e o estrago que um mau reprodutor faz a um haras é tremendo.
Quanto à campanha, pra mim não importa muito se o cavalo ganhou um Grupo 1, ou não, todos que utilizei ganharam, mas isso muitas vezes não traduz a categoria do cavalo de maneira definitiva. O que é importante é ter aquilatada a categoria do cavalo e não o que consta no papel. Cavalos com problemas físicos que superaram os mesmos em campanha, ao menos pra mim, são até mais valorizados pois é a única maneira de se avaliar o coração do mesmo. Danzig é o maior exemplo de tal análise ajustada, correu apenas 3 páreos de turma e ganhou os 3.
Sobre o físico, gosto de cavalos com boa cabeça, expressão e ossatura e não tolero cavalos com problemas de garganta. Quanto a animais hemorrágicos ou com problemas de tendão, precisamos separar o joio do trigo. É importante se entender se o cavalo tinha pré-disposição à hemorragia ou se algum evento extraordinário o causou (gripe forte ou corrida onde foi por demais exigido sem ter o preparo para tal, por exemplo). Exemplo de cavalo que teve uma lesão eventual no tendão é Northern Dancer, sendo que isso não o impediu de ser o maior chefe de raça da era moderna. Mas antes havia corrido são ao menos 16 vezes em menos de 2 anos de campanha.
Agora, por fim, vem pra mim o ponto chave: o pedigree. Precisa ser entendido que existem bons pedigree e pedigrees de reprodutor, existem sire of sires e existem bons reprodutores e existem linhas maternas que se firmaram produzindo éguas e linhas maternas que fizeram através dos tempos diversos garanhões.
No caso do Que Fenômeno, o encontrei por conta do resultado do primeiro filho de seu pai na reprodução nos EUA, Afleet Alex. O resultado de Afleet Alex me fez analisar um a um o pedigree de todos os melhores filhos do Northern Afleet no Brasil. E, pasme, não existia só o Que Fenômeno entre os aproveitáveis, tinham outros, mas ele era sem dúvida o melhor em termos de pedigree.
Mas, uma vez que se entenda que o pai do cavalo é ou pode vir a ser um sire of sires, é hora de olhar a linha materna. Primeira coisa que não gosto é se nas primeiras três gerações constar algum péssimo reprodutor (o teu eletricista), destes fujo pois se existirem não poderia usar o cavalo com qualquer égua que fizesse inbreeding fortalecendo tal ponto franco no pedigree. Mas considerando que não hajam eletricistas até a terceira geração materna, vou atrás da família e de todos os cavalos daquela família que foram pra reprodução buscando seus resultados.
Curiosamente, dos dois mais notórios cavalos que vieram em sistema de shuttle nos últimos tempos e que poderiam fazer um garanhão aqui, Northern Afleet e Elusive Quality, o Northern Afleet era o que tinha melhores prospectos seguindo o critério de pedigree.
Hoje, um cavalo que ficaria de olho nos filhos quando começarem a encerrar campanha, seria sem dúvida o Forestry. E, dos nossos mais conhecidos, penderia para Wild Event e First American, muito embora com ressalvas pra estes que não teria com um filho de Forestry, por exemplo.
Bom, é mais ou menos isso, o resto é feeling e principalmente análise das primeiras geração pra saber quando cair fora do cavalo. Se a primeira geração não agradar fisicamente, coloque o reprodutor na geladeira até ela correr, ao menos essa sempre foi minha postura pra não me deixar contaminar com opções erradas a que todos estamos sujeitos.
Adolpho Smith de Vasconcellos Crippa.