Sem precisar alardear o uso de sandálias de humildade, mas ciente de poder olhar nos olhos de quem quer que seja, afirmo que aprecio o que faço, e amo a forma como o faço. A considero simples e com conteúdo, desde o seu principio a seu fim.
Selecionar elementos inéditos, seja na idade que lhes são apresentados, carece de um dom herdado maior, mas evidencia a necessidade de uma metodologia baseada em conhecimento e imaginação, elementos estes que a vida lhe dá a possibilidade de angariar para si, com o passar dos anos. Mas necessita de muito trabalho e atenção. E você sabe que adquire estes dons, não quando acerta em sua primeira, seleção, nem na segunda ou na terceira. Toma ciência do fato, sem notar, quando da certeza que passa a ter de levantar incontinente seu dedo ou indicar que alguém o faça. E sei por que assim o digo.
Uma vez tomado pelo arroubo da juventude afirmei a um cliente - igualmente jovem - que havia acabado de arrematar um cavalo de duvidoso pedigree, mas que ganharia o Brasil, o São Paulo, o Latino, o Pellegrini e o Arco. Errei, mas apenas não fiz no Arco, mas pelo menos o corri. Em outra oportunidade visualizei em um desmamado a oportunidade dele ser o tipo de um cavalo a correr o Brasil. Ele não só correu como ganhou e foi exportado. Na mais cara yearling que adquiri em Keeneland, fiz questão de garantir que ela seria a nova versão de Winning Colors. Na verdade não o foi, usando inclusive o mesmo treinador, mas ganhou grupo 1 e na reprodução suplantou a mesma. E quando disse a um outro proprietário que tinha a minha frente uma yearling, também de mesma pelagem e em Keeneland, mas cujo pai eu exorcizara a tempos de minha mente, que era a imagem da outra que havia selecionado anos antes, não estava errado. Predizer, não é uma questão de vangloriar-se ou tentar vender sardinha na escama de um salmão. Trata-se apenas de confiar no que a atividade lhe ensinou.
Recentemente entre os não por mim selecionados, creio que Jolie Olimpica e Wared Bryan foram os elementos que mais atenção me chamaram. Entre os que selecionei, Flight Time, Glorioso Quality e Hamburger - que estreou e teve dores de canela - foram os que determinei como possíveis lideres de geração. O primeiro provou imensa qualidade, foi exportado, mas infelizmente teve que passar por agruras outras, que acredito nada tem haver com a qualidade que possui. Ou possuir ... E recentemente estreou nos Estados Unidos, fracassando em carreira e hipódromo, de pouca valia. Glorioso Quality, tem no Uruguai a quase impossível tarefa de ser, aquilo que vislumbrei quando o vi pela primeira vez, o novo Much Better. E o disse maravilhado ao lado do Mauro Silva, que se surpreendeu por ser o primeiro cavalo que examinei, de uma longa lista que se seguiu em meses de inspeções. E espero que Hamburger não me deixe na mão, pois, o senti como o líder de sua geração, desde o primeiro momento que coloquei meus olhos sobre ele e relatei ao interessado assim que cheguei no hotel.
Se eles vão ser ou não, agora já não mais depende de mim. E sim dos profissionais que tem a responsabilidade de dar curso em suas vidas atléticas. E estes profissionais, não responsáveis por meus sonhos e arroubos de coragem, ou loucura. Mas nesta atividade, aprendi - a duras penas diga-se de passagem - que você tem que acreditar naquilo que seleciona. Uma coisa é garanto. É mais simples se afirmar que Much Better, Cara Rafaela e Estrela Monarchos poderão ser, do que quando crianças Michael Jordan, Pelé e Mohamed Ali.
POR TUDO QUE FOI DITO,
POSSO APENAS GARANTIR,
QUE VOCÊ PODE USAR
AS SANDÁLIAS DA HUMILDADE
E AINDA ASSIM SE DAR AO LUXO DE
ACREDITAR EM SONHOS MAIORES.
E UMA COISA POSSO GARANTIR
A TODOS VOCÊS QUE ME LEEM,
QUE SEU SALMÃO EM MOMENTO ALGUM
IRA TER O GOSTO DE UMA SARDINHA.
