Nós brasileiros, nutrimos maiores sensações por um esporte chamado futebol. Os norte-americanos pelo basquete e por algo também chamado futebol, mas jogado com as mãos. Os indianos veneram o cricket. Os neozelandeses o rugby, os espanhóis as touradas, os ingleses o tênis e o gold. Cada povo vibra com o que mais lhe apetece. Contudo todos estes povos, independentemente da região em que se encontrem, mantem um lugar especial para o turfe em seus corações. Isto é que faz este esporte, desfrutar da grandeza que possui. O agrado a ele, não parece ter fronteiras.
Eu nunca escondi ser Flamengo, e ter amplas simpatias - que chegam a ser escandalosas - para com o Santos e o Internacional. As razões aqui já foram expostas. Pelé e Falcão me fizeram ter as simpatias e até Botafogo seria por causa de Garrincha, se já Flamengo não fosse. Vi estes craques jogarem e digo, sem medo de estar cometendo uma injustiça, que nosso futebol caiu ladeira abaixo. Felizmente, o time de minha paixão e os outros dois de minha simpatia este ano estão bem na tabela. São times invariavelmente presentes na pagina 1 do campeonato brasileiro e se não fosse um erro de direção, nenhum deles teria, até hoje, ido parar um dia na segundona. Mas em contrapartida, os três já foram campeões do mundo.
O turfe no Brasil, também despencou ladeira abaixo. Vivi uma época distinta que me fez amar a atividade pelo simples fato de fabricar heróis, quase que anualmente.
Venho de uma familia que nunca frequentou o hipódromo da Gávea, e desconheço o que me fez realmente apaixonar-me pelo turfe. Sei apenas que quando pela primeira vez compareci ao hipódromo, me maravilhei com as cores das blusas, a beleza dos cavalos e a sensação que aquelas corridas traziam aos presentes à minha volta. Tinha tanta gente nos hipódromos nos dias das grandes carreiras, como no Maracanã, num dia normal. Tudo parecia fazer parte de um sonho. Nunca fui de jogar, mas isto não me impedia de torcer. Por isto cultivei em mim, a crença que independentemente de quem fosse, o melhor deveria ser o vencedor. E com isto passei a idolatrar os diferenciados em pista.
Esta seria a meu ver a essência principal desta atividade. O culto ao melhor independentemente da cor de sua farda. Duplex, Itajara, Much Better, Immensity, Riboletta, Pico Central ou Bal a Bali devem ser venerados pelo que foram. Mesmo que possam terem eles um dia enterrado com os sonhos de um pupilo seu. O desenvolvimento do turfe depende do melhor.
Todavia, isto não o impede de torcer. Confesso, que lendo as histórias provavelmente seria um fervoroso torcedor de Tesio em relação a Bouussac e de Lord Derby em relação ao velho Khan. Embora como profissional devesse sempre manter-me neutro, nutro hoje exageradas simpatias para com a Juddmonte, embora tenha um respeito muito grande por Khan, Coolmore e Godolphin.
Em pedigrees, é claro que existem as preferências, Um dia fui apaixonado pelos Harry Ons, Hyperion, St. Simons e Nearcos. Tinha simpatia pelos Tourbillons e Blandford, mas eram as quatro primeiras tribos que sempre mantiveram minha maior atenção. Hoje os Nearcos, praticamente dominam todo o cenário clássico moderno. E o mais impressionante, o fazem em quase todas as posições principais de um pedigree. E cada vez, as demais tribos, estão sedto "empurradas" para posições menos importantes, a exceção da Native Dancer. Mas uma coisa é bastante clara. Da mesma forma que Eclipse se eternizou para sempre, assim também Nearco o fará.
Seja pelo ramo Nearctic, Nasrullah ou Royal Charger, seus tentáculos são cada vez mais visíveis na constituição dos pedigrees dos ganhadores de grupo modernos. Muitos acreditam que isto danifica a atividade. Eu penso que não. A dignifica ainda mais, pois por intermédio de consanguinidades, estes elementos intervenientes no processo de contrição genética. se fortalecem e mantém a linha de transmissão de classicismo, aberta.
Pedigree considerados abertos, não são prejudiciais ao turfe. Apenas são mais facilmente dominados e com isto susceptíveis ao desaparecimento. Sou contra a achar que os mesmos sejam antídotos. pois, o que os imbreeds e as duplicações proporcionam, não pode ser considerado um doença e sim uma sanidade maior em relação ao desenvolvimento positivo da raça. E em grade parte, a prova disto é que recordes são ainda batidos, e elementos com Frankel, Sea the Stars, Enable, Zenyatta e Zarkava. tem aperecido com certa assiduidade nestas últimas décadas.
O mesmo, infelizmente não pode ser dito em relação ao Brasil. De Much Better e Itajara a Bal a Bali, existe um espaçamento muito grande, como o foi de Duplex aos dois primeiros. Não temos safras. Temos anos - poucos a meu ver - dignos de nota. E a coisa está se mostrando ainda pior, se levarmos em conta nossos últimos resultados, além de nossas fronteiras.
Não quero ser o pai do pessimismo, mas longe de querer dourar a pílula com um otimismo verde e amarelo. Outrossim, algo tem que ser feito, e feito ONTEM, pois, a vaca já chegou ao brejo e a tendência é atolar