Querendo ou não as pessoas são as mesmas e a índole e o perfil de uma população se faz com o passar dos anos e das experiências vividas.
O Brasil foi descoberto por acaso. Se tornou independente por acaso. E alcançou a Republica por acaso. Logo, mesmo nos três mais importantes eventos de sua história, foi o acaso que prevaleceu. Assim sendo, desacreditar o acaso, não pode ser levado a ferro e fogo, mesmo por aqueles, que como eu, acreditam
em conceitos, projetos e situações onde a lógica sempre irá prevalecer sobre o acaso.
O acaso faz parte do cotidiano da existência brasileira. E tenho que concordar que dentro da inviabilidade de princípios a que nos sujeitamos, os resultados obtidos, acabam sendo conseguidos bem acima da média. Principalmente no turfe. Qual seriam os criadores que realmente coadunam de uma forma racional em seus procedimentos e escolhas? Quantos deles não se deixam seduzir pelo moda e a cópia do que está sendo feito pelo vizinho? Pela crença que o quadro a se colocar na parede tem que combinar com o sofá da sala? Ou mesmo que o simples fato de estar morando num estado tórrido, não impede que uma lareira se torne necessária em seu ambiente principal?
Somos escravos do supérfulo. Do não necessário. Do dispensável. O maior reprodutor de nossa era de Pattern Races, Ghadeer foi produto de um feliz acaso. Tinha defeitos físicos dignos de exclusão, não foi de grande valor em pista e mesmo seu pedigree, não pode ser considerado até hoje de grande importância. Porém, funcionou. O mesmo não pode ser dito de Clackson, Wild Event e Roi Normand, que tinham substância em suas utilizações, no mínimo pelo que fizeram em pista.
Outrossim, não acredito que Much Better, Quari Bravo, Rhiadis, El Santarém e Cacique Negro possam ser vistos, apenas como produtos do acaso. Tinham fisico de atletas e se prevaleceram dos mesmos para se impor na pista. Mas que não foram suficientes para transmitir aos seus. O que sugere, que fisico no Brasil, ainda tem seus pontos positivos. Outrossim, pontualmente...
Nos centros mais desenvolvidos, é necessário que este fisico venha acompanhado de uma carga genética especial. No Brasil, o pais do acaso, não necessariamente, pois, nosso sarrafo medidor de qualidade está no item da genética, lá em baixo. Por isso me refiro a nosso mercado com um que alguém terá que ganhar. O roto do esfarrapado. O CSA do Avai. E assim por diante.
Os anos pouco nos ensinaram. Elegemos para nosso cargo máximo, torneiros mecânicos que não deram certo nem um sua profissão e este no auge de sua popularidade elege a postes para substituí-los. Importamos para nossas lides de criação de cavalos de corrida, tribos que demonstram estar em extinção nos centros de maior sucesso e exportamos para exterior, atualmente cavalos que não estão conseguindo sequer ganhar claimings e que aqui foram eleitos Champions. Evidente que falo de uma maioria, não de uma totalidade.
Tanto a Australia, quanto o Japão e até a Argentina, igualmente trouxeram seus bondes. Tribos em extinção. Mas igualmente foram capazes de trazer outras que se mantiveram e coincidentemente ou não, Sir Tristram na Austrália, Sunday Silence no Japão e Southern Halo na Argentina, arrebentaram com a boca do balão. Três Hail to Reasons? Quantos trouxemos para o mesmo período? O que nos sobrou de Ghadeer, Waldmeister, Locris e Earldom?
Fomos o pais dos Toubillons, Hyperions, Wild Risks e Harry Ons. Trouxemos elementos de nivel médio para cima consubstanciados nestas tribos. Não de outras que demonstravam, mesmo que pequena capacidade de sobrevivência em centros mais adiantados que o nosso. Alguém pesquisou? Algum elemento foi estudado com mais atenção? Duvido. Preferimos selecionar dentro do acaso. Do quem sabe. Do talvez funcione. Do custo sem benefício. E hoje estamos pagando este preço.
Ainda bem que nos aspectos de produção fisica evoluímos de uma forma espetacular. Orgulho-me do fisico de parte de nossa população equina. Vejo que com a base genética que temos, muitos milagres estão sendo levados a efeito em nossos campos. Milagres como afastando-se de uma calmaria, fomos descobertos. De um príncipe mulherengo com diarréia que recebeu de seu pai um império e as margens de um riacho, decretou nossa independência. De uma princesa que aboliu a escravatura - a última a ser abolida do planeta - para consolidar o poder de um império falido. Da inexistência de um embate, entre um imperador velho e cansado, com um marechal velho e moribundo, tudo supervisionado por uma professor velho e injustiçado, e mesmo assim foram os contribuintes principais para o inicio desta República em que vivemos.
A união do Brasil como nação, deu-se numa guerra contra os paraguaios. Até ali, gaúchos e cearences nunca tinham se visto, ou mesmo ouvido falar um do outro. O efeito da televisão consolidou esta unidade. A Globo tentou criar um padrão global de gosto popular. O acaso nos levou a ditadura. O acaso acabou nos tirando dela. E ganhamos de volta algo que nunca realmente tivemos: uma democracia. Moral, em poucos anos apareceu o PT.
No turfe deveríamos exercer com mais vigor não só uma democracia, como também um combate maior ao acaso. Deveríamos instituir a força do porque? Indagar, cavucar, pesquisar até ter certeza do que deverá ser importado. Para definitivamente colocar um fim nestas soluções que por acaso caem do céu.
