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domingo, 30 de agosto de 2020

PAPO DE BOTEQUIM: A POUCA VALIA DOS RATES, PARA MIM

Como no caso das bruxas, não acredito que coisas ilógicas, venham a dar certo no turfe. Mas da mesma forma as respeito, pois que elas como as bruxas, existem, EXISTEM! Vejam o esdrúxulo caso de Sea Biscuit. 

Vocês tem noção de quantas vezes ele veio a correr aos 2 anos? Nada menos que 35 vezes, perdendo as 17 primeiras. Sim 35, mas ele não apenas perdia. Ele chegava descolocado, sempre no fundo do pelotão, nas últimas colocações. Um Nada com letra maiúscula.

Ai, surpreendentemente, ele atraiu o olho de um profissional, que viu o que ninguém em era capaz de ver - talvez a alma do cavalo - convenceu a um seu proprietário a compra-lo e as coisas mudaram, da água para o vinho. Nas 18 carreiras seguintes,  desta mesma temporada, venceu cinco, sendo sete vezes segundo colocado. Não deixava de ser um melhora. Mas daí a ele se transformar, no que se transformou, a partir do aumento da idade, me pareceu incrível de se explicar. Uma verdadeira Cinderella.

Outra coisa que acho ilógico é o processo de metrificar a performance dos cavalos. Não importa que seja pelo Timeform ou pelo Byers Speed. Sem enfrentamento você não tem como aquilatar quem é o melhor. Pois ainda não foi inventado um processo seguro de se metrificar classe.

Rates são metrificações pontuais. Pois, se assim não o fossem, ao sair o programa, não seriam necessárias nem serem disputados as carreiras. Bastava distribuir-se as premiações, obedecendo os valores dos mesmos. Aceito-os, mas não os sigo. São para mim, referências que desejam qualificar cavalos, que na grande maioria das vezes nunca se defrontaram.

Quem pode garantir que Sea Bird, bateria ao invicto Ribot, nos 2,400m de um Arco ou de um King George, apenas por seu rate ser superior? Teria ele mais vontade de vencer que a do italiano, quando rosçassem pelo? Pouco me importa que a imprensa norte-americana possa achar que Man O´War tenha sido melhor que Secretariat. O que eu queria na verdade, é que Zenyatta tivesse vindo enfrentar na pista a Rachel Alexander e eu finalmente tivesse resposta à minha dúvida.


Enable

Numa entrevista da TV inglesa, Gosden veio a ser perguntado, quando Cracksman viria a enfrentar Enable, já que os dois estavam sob sua tutela, e o macho tinha um rate - dado pelos experts - como mais alto. Ele fingiu que não ouviu a pergunta. O repórter deixou passar uns dois minutos e voltou a carga e ele desviou o assunto e falou sobre um outro cavalo. Pois bem, no final da entrevista, foi a vez do repórter o encostar na parede e desafiar se ele ia ou não responder a pergunta, ao que Gosden respondeu que o tempo da entrevista estava findo. Logo, ele disse tudo sem dizer absolutamente nada.

Se você perguntar a alguém que esteja gozando de suas faculdades mentais quais dos cinco escolheria para defender suas cores, Enable, Sea The Stars, Zarkava, Montjeu ou Cracksman, não tenho duvidas que nove em dez pessoas devolveriam a lista nesta exata ordem, mesmo com o rate do quinto sendo maior que o dos outros quatro. Por isto pergunto: qual a validade dos mesmos? 

Tendo em vista esta visão que considero lógica, fica difícil para mim, respeitar os rates, que levam em consideração de quem ganhou, por que distância, em que tempo, dentro de especificações numéricas, quando na verdade cada corrida é uma questão diferente. É o olho no olho que decide a questão.  E uma largada mal dada. O encaixotamento prevista. Um erro de cálculo no pace.

O Zequinha Fragoso Pires, foi muito claro em sua explanação. Ele demonstrou como a coisa funciona principalmente no decréscimo ou acred+cimo da qualidade de uma referida prova, dentro do conceito atual vigente. Infelizmente são os rates que determinam a qualidade de uma corrida numa visão mundial. Resta saber se isto é uma ação lógica. Eu acho que não. Principalmente para um pais como o nosso, cuja tendência natural e se vender os melhores. 

Assim sendo na carreira seguinte o rate médio tende a cair. Ao contrário de Europa e Estados Unidos, onde os grandes corredores se mantém em atividade em seus países de origem, ou onde exercem suas funções atléticas. E o rate médio de disputa é alto. Assim sendo, o que serve para lá como altura de um sarrafo, não necessariamente deveria ser utilizado para aqui.

Manter um rate médio alto no Brasil, parece ser uma missão quase que impossível. Ai eu pergunto, nosso último ganhador do Derby paulista teve um rate de expressão apenas regular. Mas como justifica-se ele ir ao Pellegrini e o ganhar? Seu rate na prova paulista espelhava então a realidade? Ou ele se transformou de uma corrida para a outra? Fica difícil se aceitar esta imposição e pensar que estamos nos nivelando em termos de conceito a Europa. Sim porque isto é uma imposição europeia. O Byers Speed para o norte-americano serve mesmo como mais uma detalhe para se levar em consideração no jogo. E é o da última corrida que se mantém na mente do jogador.

Hard Buck era o menor rate em seu King George, e apenas um cavalo teve a capacidade técnica de batê-lo. Como explicar que Sulamani não tenha conseguido o bater, tendo um rate superior? Quem ganharia num embate entre Adil, Farwell, Itajara, Much Better e Bal a Bali numa milha e meia? Não me interessa saber seus respectivos rates. O que me interessa é que eles pertenciam a um mesmo patamar. Compara-los, acho uma asneira.

Existe também uma parte comercial. Dar um rate a Cracksman superior ao dado a Enable, é uma medida mais comercial para a atividade. Cracksman vai para a reprodução e venderá centenas de serviços e filhos por anos a fio. Em contrapartida, Enable, não terá serviços a venda, produzirá apenas um produto por ano e ainda por cima, este produto certamente será reservado por seu proprietário. Vocês acham que isto não influi nas decisões? Ou você acha que são todos anjinhos, as pessoas que militam nesta área?

O que se passa na Austrália, é desapercebido por norte-americanos e europeus, pois, aquele pais é uma grande fonte de negócios. Ninguém vai querer bater de frente e perder uma boa fonte de renda. Logo, o que acontece na Austrália, fica na Austrália, e que os canguru vivam felizes para sempre. O mesmo acontece com o Japão, e em proporções menores com Hong Kong.

O mais importante é não deixar que a qualidade de nosso cavalo decaia. Que os vendidos para o exterior se saiam bem. Pois, eles, mesmo com seus rates mais baixos, são capazes de ir e fazer um bom serviço. Mas até quando? Anualmente menos são exportados, e o número menor são os bem sucedidos. As taxas de importação tem que cair, ou cairemos nós, pouco importando  que sejam os rates a nós aferidos.