De vez em quando recebo um mail elogioso. Embora seja sempre gratificante, e com certeza esporádico, confesso, nem sempre eles espelham a realidade. E eu tenho que replicar que agradeço mas não mereço. Portanto, meu caro Aurélio, me envaideci com seus elogios, mas creio que não seja merecedor dos mesmos, no patamar em que você os coloca.
Realmente estudo pedigrees há mais de 40 anos. Isto cria certamente uma base e o auxilia em seus instintos. Algo cultivado em mim pelo senhor Atualpa Soares, que queria deixar seu legado com alguém. Nem sei, porque fui o escolhido. Sorte talvez.
Outrossim, algumas coisas sedimentaram-se em minha maneira de ver o problema. Primeiro, seja ele qual for, tento achar a solução, pois, para mim o importante quando se tem um pedigree aberto a sua frente, é ter a cabeça igualmente aberta, seu senso de observação afiado e desta forma poder estudá-lo de uma maneira racional. Sem prevenções ou gostos pessoais. Vou tentar explicar.
Sou um Wagneriano, como Paulo Francis. Com a desvantagem de não entender patavina de alemão, idioma que o grande jornalista dominava. Pois bem, quando você escuta Wagner e não entende o teor das palavras, tem que ter o sentimento de receber a informação e deduzir sua mensagem. Não importa que seja a melancolia de um funeral de Siegried em Gotterdammerung, ou a eloquência da cavalgada das Walkyrias do inicio do ato 3 de Die Walkyrie, ou mesmo a beleza monumental da abertura de Tristram e Isolda. Você tem que sentir. A mensagem tem que penetrar em sua mente. Afinal, os sons determinam o que o compositor estava sentindo no exato momento em que compunha. E você não necessita saber de cor e salteado a trilogia do Der Ring dês Nibelungen para entender o significado das coisas.
O mesmo acontece, com um pedigree. A junção de todos aqueles nomes determinam o que o criador estava sentindo no exato momento em que montava o cruzamento. Principalmente no caso dos europeus, você tende a sentir este sentimento, pois, pessoas preparadas tem a função de montar os pedigrees. Com um objetivo, que na sua grande maioria das vezes não é comercial. O objetivo é se tentar chegar ao apix do seu desenvolvimento clássico, no produto a ser concebido. E levar ainda em conta, a necessidade de ter que enfrentar os Galileos da vida, que desequilibram o mercado, como o seu pai já o tinha o feito como ele a nível continental e seu avô o fizera a nível mundial.
Moro num pais tropical, nem sempre abençoado por Deus e incrédulo por natureza. Durante anos fomos infestados por eletricistas e maus mensageiros. Mas milagrosamente sobrevivemos até aqui, o que determina que de certa forma, saltos atávicos aconteceram e pontos de força conseguiram furar o bloqueio impetrado por seres inferiores. Principalmente em se tratando de linhas maternas. Mas por quantas gerações? A genética brasileira não simplesmente envelhece. como em outros mercados, ela igualmente apodrece.
Tesio tinha um objetivo. A velocidade através da distância. Criava cavalos com a precípua finalidade de que eles ou corressem ditando a sorte da carreira, ou acelerassem em qualquer ponto da carreira quando acionados e assim as decidissem. Nem sempre você terá em suas mãos as ferramentas necessárias para fazer isto acontecer. Mas o objetivo deve ser este ou algum outro que deseje. O importante em um cruzamento é seu objetivo. Um elemento precoce? Veloz? Estaminado? Resistente?
Duplicar pontos de força, é para mim, uma saída, principalmente quando dependemos de saltos atávicos. Para alguns criadores do hemisfério norte, é igualmente a única chance . como já frisei - de se enfrentar aos Galileos, Dubawis e Deep Impacts, da vida.
No mesmo email, o Aurélio pergunta quais foram os reprodutores que realmente contribuíram para o desenvolvimento de nossa genética. E respondo, que vários. Ghadeer por exemplo foi um deles e creio que o trabalho do colaborador Marcel Bacelo, apenas corrobora este ponto de vista. Ele funciona em um pedigree, na posição que esteja. Wild Event, Roi Normand, Known Heights, Waldmeister e Clackson, certamente que também. Mas nem todas as posições. Uns mais, outros menos. Entre os mais novos, tenho esperanças que Agnes Gold, Drosselmeyer, First American e mais alguns possam manter a chama acesa.
Ele perguntou-me se eram poucos? Talvez sejam, mas o mais importante quando nos atemos a continuidade de transmissão, para mim, estão nas linhas maternas. Algumas mesmo açoitadas por implacáveis eletricistas, conseguem sobreviver e creio que exista no momento uma dezena de veios, já nacionalizados que podem gozar da confiança de estudiosos, como eu.
Querem que cite alguns? Sem pesquisar, poderia deixar minha impressão a respeito do já antigos veios formados pelas argentinas Castelana e Appeal, pela uruguaia Monyagua, pela britânica Skyle, pela francesa Duna, pela irlandesa Redbrick. Elas vieram de diferentes partes do mundo para somar e estabeleceram veios, que acredito eu, que não deveríamos se deixar perder. Eles são chamas ardentes de transmissão de classicismo.
E existem outros. Apenas citei seis, que gozam de minha ampla respeitabilidade. Algumas já como sexta ou sétima mães, constituídas. Pois bem, estas que amadureceram e não apodreceram mesmo à ação nociva de ferozes eletricistas, são capazes de tudo, até de criar uma própria extirpe. E teríamos resultados ainda melhores com elas, se fossemos mais atentos em relação ao reprodutor de origem nacional.
Hoje valho-me de uma recente, a britânica Clare Gardens, mãe de Acteon Man e avó de Momento de Alegria. Trata-se de uma bisneta de Key Bridge, égua base do élèvage Mellon, com um dos mais valiosos pedigrees já importados para a nossa criação. E aí me pergunto, porque não unir a velocidade estonteante de Momento de Alegria, na stamina que as filhas de Acteon Man possuem em suas correntes genéticas? Momento e Acteon, eram elementos que demonstraram em pista uma fonte intensa de vontade de vencer. O que para mim, é outro ponto de muita importância. Seria que esta vontade não tenha sido um legado de Clare Gardens, que embora não tenha corrida, é formada por elementos que igualmente demonstraram esta característica de gostar de vencer como Shirley Heights, Little Current, Tom Rolfe e Princequillo?
Senhores, volta a afirmar, sou um Wagneriano e como tal sucinto a sensações. Se elas estão corretas ou não, passa a ser um outro problema.
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