quarta-feira, 26 de agosto de 2020

PONTO CEGO: CEREBROS COMPRIMIDOS

Quando está no fogo, as chances de se queimar são muitas. Logo, ao ter um blog, você está sujeito a ter que ouvir opiniões. E nem todas elas podem ser consideradas abalisadas. 

Outro dia o Marcel Bacelo, notou que nas estatísticas chilenas por mim publicadas para reprodutores por prêmios ganhos, dos 30 primeiros colocados, nada menos que 14 eram filhos, netos ou descendentes de Storm Cat. Pois bem, isto eu considero uma sacada inteligente. Pois não é que no mesmo dia, um desavisado comentou que não entendia porque os Storm Cats funcionavam no Chile e não no Brasil. A principio pensei tratar-se de uma gozação. Mas, pasmem, não era...

Senhores com a devida vênia, mas não dá para comparar os Storm Cats que o Chile levou e os que aqui aportaram. Northern Dancer deu certo em quase todos os cantos do planeta. Mas seus filhos fracassaram no Brasil. Pensem no que trouxemos? No lixo a que fomos submetidos. Bastou-se trazer um ganhador de Gr. 3, neto seu, filho de Lyphard e esta dúvida, pelo menos para mim, dissipou-se.

Acompanho as vindas de reprodutores para a América do Sul, e posso dizer, sem medo de estar cometendo um exagero, que trazemos reprodutores - evidente que não em toda a sua totalidade - que não seriam aceitos no Chile, na Argentina e arrisco a afirmar que nos dia de hoje, até no Uruguai. Apenas o Peru e a Venezuela, coadunam neste padrão de condescendência... 

Sim somos condescendentes demais. Aceitamos com resignação elementos de listas que correm o mundo, sendo rejeitadas onde quer que sejam apresentadas, E acreditamos em milagres. 

Evidente, que como disse, existem exceções, mas esta de trazer o matungo filho do chefe de raça, nunca funcionou Brasil, desde os tempos de Nearco, Hyperion e Nasrullah. O que define que não é um problema exclusivo dos criadores atuais. Ou melhor a situação financeira de nossa atividade, não pode ser responsabilizada. É um cacoete que pegamos de nossos antecessores, pois, nos tempos áureos, éramos igualmente capazes de trazer, os High Sherrifs e Nalandas da vida. Sem ter a experiência que hoje tenho, fui uma vez a Lorena curioso de ver o único filho de Nasrullah importado para o Brasil. E mesmo jovem, senti que aquilo, mesmo com as melhores éguas do Brasil, não iria funcionar.

Acreditar na genética não é trazer um pedigree perfeito num cavalo ou de mal fisico ou de péssima campanha. Ai se trata de acreditar em milagre. Acreditar em genética é trazer um pedigree perfeito, dentro do melhor que seu bolso possa suportar. E é o que o Chile está fazendo de uns tempos para cá. Logo este mercado, que por décadas trouxe os irmãos dos irmãos e nada ganhou com isto, amadureceu. Deixou de acreditar no milagre divino, o de que Nero ou Caligula  tinham na verdade bons corações, precisavam apenas de uma mudança de ambiente. 

Senhores, Nero colocaria fogo mesmo sediado em Curitiba e Caligula faria de Incitatus um companheiro de Dilma. Aliás, neste caso, poderiam até se dar bem, depois que decidissem quem montaria em quem... Logo, me desculpem os que assim não coadunam de minha maneira de pensar,  mas os chilenos aprenderam a lição e enveredaram por outros caminhos. Nós ainda não. Trazemos fracassados em grandes breeding sheds ou nas pistas, basta terem fashionable pedigrees.

Nós nunca aprendemos nossa lição, e quando algo como Earldom, Executioner ou Spend a Buck pintam no ar, imediatamente sonhos de milagres passam a pairar novamente em cérebros comprimidos. E imediatamente se esquecem dos outros mais de 500 que aqui aportaram, com as mesmas características destes três,  nada de útil fizeram.