Dizem que Deus descansou no sétimo dia. Para mim, o sétimo e o sexto dias sã o domingo e o sábado, e justamente os dias que tenho menos descanso. Mas aproveito um dos mesmos - que acredito serem os dias que meus leitores tem mais tempo para ler - para tecer comentários de assuntos polêmicos, mas que considero importantes, mesmo tendo em vista não me sentir preparado para contribuir com soluções.
Things change, dizem muito os americanos por aqui. E realmente as coisas mudam. Fazem parte da evolução do mundo. Quando se é jovem faz-se exercícios para queimar energia. Quando se é velho para mante-las. O melhor companheiro de um jovem é a taça de chopp. Já de um idoso um livro. E assim por diante, que vão da Balada a Ópera. Não é que propriamente os gostos se modificam. Mas as necessidades passam a ditar as regras da vida. Como o uso do óculos e da bengala...
Hoje existe uma polêmica sobre o uso do chicote no turfe. Polêmica esta que não estou apto a participar, pois, não tenho o conhecimento suficiente para tal. Tudo que possa comentar seria como um "achismo". Outrossim, comento o fato, pois, outro dia foi me mandado o video da Breeders Cup Turf de Enable, onde a vencedora realmente foi duramente acionada por Dettori. Como disse aquele que me mandou, entrou no pau!
Revi a carreira três vezes, e posso quase garantir que Dettori a pegou firme em seis oportunidades na reta. Não mais do que isto. E ai passa a termos a primeira pergunta. Se ele não usa deste recurso extremo, Enable venceria Magical naquela oportunidade? Eu arrisco a dizer que nação. E se assim o fosse, poderiam os comissários de corrida puni-lo por falta de intensidade? Acredito que sim.
Não sei quantas batidas possam ser dadas ou não, ou qual seriam os critérios numéricos do limite do número de chicotadas que podem ser dadas. Se assim o forem, acredito que assim mesmo não propriamente resolveria a questão. Mesmo que isto crie um critério subjetivo, pois, o que na verdade deveria ser julgado na questão, seria a força utilizada e não tão somente o número de vezes. Mas qual o comissário de corrida, que garantiria que houve excesso de força? O veterinário poderia de uma forma, que ainda assim vejo como subjetiva, analisar as marcas no couro do animal. Porque subjetiva? Eu por exemplo, depois do derrame a que foi acometido, tomo um remédio para afinar o sangue. Qualquer encostada mais forte me causa uma mancha na pele. Em outras pessoas não. Não haveriam cavalos sucetíveis por natureza e que suas marcas se mostrassem mais visíveis que os outros?
E como funcionaria o processo? Antes da fotografia e da comemoração o cavalo deveria ser levado a um exame do copo delito? E ficaríamos que nem no futebol a espera se foi impedimento ou não? Esta passa a ser a segunda pergunta passa a ser, seria que teríamos que instituir uma espécie de VAR para se analisar se houve brutalidade ou não?
Mas voltando a citada Breeders Cup. O que passou a ficar mais latente na cabeça de Dettori que sentiu que poderia ser batido? Afinal ninguém conhece mais Enable que ele. A duvida deve ter sido: o uso enérgico do chicote e ganhar a corrida, ou arrefecer a utilização do mesmo e perder algo, que era tremendamente importante naquele momento? Não só para ele, como também para toda a coletividade? O que diria John Gosden e o Principe Khalid Abdullah sobre a decisão de trazer-la apenas na boca e chegar na segunda colocação? E o publico que nela apostou e por ela torcia? Qual o profissional que puniria a Dettori, por ter feito o seu trabalho, que é tentar sobrepujar seus adversários? É complicado.
Não tenho conhecimento necessário para dirimir esta duvidas. Vejo as corridas como um analista, não como um comissário de corrida. E certamente sinto assistir um animal ser abusado em pista. Principalmente quando o uso é desnecessário, que não me parece o caso da Breeders Cup Turf ganha por Enable. Excesso de energia? Com certeza que sim. Espancamento? Teria minhas duvidas em concordar. Alguém, ama mais Enable do que Dettori? Todavia, como distinguir este limite onde termina o uso da energia temperada e o inicio do abuso, confesso, que não tenho a capacidade de traçar uma linha. Logo, levem em consideração minhas premissas apenas como "achismos".
Entendo e louvo a intenção de quem se indigna com o sofrimento de um animal, principalmente de um que está dando o máximo de si para provar sua superioridade. Imaginem, algo do tamanho de Enable? Mas sem o uso enérgico desta força, poderia este animal exercer esta sua superioridade naquele momento? Esta é a grande pergunta a ser respondida.
Quem tiver esta capacidade que o faça. Que use de seu conhecimento e de sua capacidade de julgamento, para punir os jockey que se excedessem. Teriam estes comissários que avaliar, que o animal já estava no limite de suas forças, e o jockey estaria exigindo por algo que ele não tinha mais como dar. Mas isto também não seria uma linha de raciocínio ainda embargada em subjetividade? Pois, o que menos queremos, é ver a real razão deste esporte, - os cavalos de corrida - sofrerem desnecessariamente.