Uma vez alguém de grande sensibilidade, com muita propriedade disse: "podem cortar todas as flores, mas não podem deter a primavera ". Você saberia dizer quem foi?
Da mesma forma que apregoavam os antigos radialistas brasileiros, que o futebol era uma caixa de surpresas. Hoje coaduno desta mesma opinião, mas acrescentaria que o turfe é um baú de mistérios, mesmo nos grandes centros. E mais do que tudo isto, que ninguém pode deter a primavera... O que quero dizer com isto? Que surpresas existem forem onde forem, mas a realidade é só uma.
Da para entender por que houve um período muito longo, onde o north-american champion 2yo, não ganhou o Kentucky Derby? Pois é de Spectacular Bid até Street Sense, foram nada mais, nada menos, que 30 anos de espera e penúrias. Não lhes parece um mistério digno de se estudar? E depois deste "longo e tenebroso inverno" onde até chegou-se a duvidar, se em algum ponto, voltaríamos a ter a primavera, o que se passou?
Em 16 anos, somente três o conseguiram, a se conhecer Hansen, American Pharoah e Nyquist e até um que nem correu aos dois anos e se tornou triplice coroado, Justify. Logo, até que me possam provar ao contrário, deve haver algo de errado com o calendário para os dois anos, nas terras de tio Sam. Ou seriam os animais eixos acima do permitido?
Coisa que nos anos 60, não acontecia vide os champions 2yo igualmente ganhadores do Derby, Riva Ridge, Secretariat, Foolish Pleasure, Seattle Slew (foto acima), Afirmed e Spectacular Bid, sete em dez, com direito a três tríplices coroados. A pergunta é simples, objetiva e direta: onde os norte-americanos erraram? Porque a primavera foi deixada em um segundo plano?
A verdade nua e crua, é que a primavera nunca deixou de existir. Foi apenas oculta por uma falsa ilusão.
Não acredito que tenham tido mudanças radicais na criação de cavalos de corrida, muito menos na exploração genética de pedigrees. O que houve, a meu ver, foi uma valorização financeira nunca antes vista para os dois anos, que propiciou que treinadores dividissem seus barns em dois grupos: aqueles que visavam ser grandes dois anos. E aqueles que deveriam ser direcionados para a campanha dos três anos. E isto a meu ver ficou bastante caracterizado a partir de 1984, com o inicio da Breeders Cup, pois as Juvenilles decretaram não ser mais esta, apenas uma opção e sim uma total necessidade.
Quanto iniciei meus estudos no turfe, a triplice coroa era o alvo principal dos grandes investidores do mercado. Dos dois lados do Atlântico. Todavia, a coisa em termos de custo de aquisição se tornou tão grande, que ressarcir-se de seus investimentos, o mais rápido possível, se tornou uma necessidade. Para muitos, ate uma obrigação. E foi ai que a precocidade passou a ser o elemento chave para este fim.
Hoje não existe mais nenhum interesse dos grandes investidores em sequer disputar uma tríplice coroa na Europa. E mesmo o doublé inicial Guiness-Derby, passou a ser secundário no velho continente, já que cada vez mais a criação mundial - a exceção do Japão e da Alemanha - se aproxima mais do milheiro, do que - como antigamente - do elemento essencialmente clássico. Embora Galileo tenha provado o poder que um verdadeiro clássico trás consigo.
Exceções a parte, hoje tenho. certeza que se não fosse o enorme respeito que os britânicos mantém nas tradições, a triplice coroa inglesa e irlandesa, seriam mais próximas do molds norte-americanos. Aboliria-se os 2,800 e seria adotado os 2,000 metros.
Mas nos Estados Unidos, ao contrário da Europa, a tríplice coroa se tornou uma febre, principalmente depois do "longo e tenebroso inverno" de abstinência que foi de Affirmed a American Pharoah. Não teria sido também este "longo e tenebroso inverno", causado por este extremo posicionamento em prol da precocidade? Tenho plena convicção que sim. Como tenho que ano após ano, a primavera há de vir. cabe a você, nota-la.