Ao longo dos anos, a quase seis décadas, minha família entrou para a criação de PSI, e pequenos em número de animais, sempre priorizaram o reprodutor nacional devido a localização distante dos centros de reprodução no sudoeste do estado de SP (sendo o Posto de Fomento do JCSP o mais próximo a aproximadamente 500km) necessitando assim de pelo menos um reprodutor residente para viabilizar a criação. Dando sequência a criação do Haras de Theotonio Piza de Lara, de onde vieram as primeiras reprodutoras e garanhões, meu avô José Eugênio e meu pai Henrique puderam ver filhos de cavalos nacionais que admiravam nas pistas, também desempenhar em alto nível através de seus filhos. Faxeiro e Venabre foram provavelmente os garanhões mais marcantes na história do Haras Estrela Nova, mas Jade Hill (Tumble Lark x Emerald Hill) sem dúvida deixou sua marca como reprodutor, principalmente para mim, uma vez comecei a acompanhar a nossa criação e o turfe mais ou menos junto com a chegada dele para a reprodução em 1988. Assumi a criação em 2013 com um lote de 5 reprodutoras e o mandato de mudar a criação para um pensionato em um dos dois grandes centros (Curitiba ou Bagé) atrás da mão de obra mais especializada, de uma maior gama de opções de garanhões, e assim voltar a criar um produto competitivo. A estratégia funcionou, já em 2014 veio o Arrocha, e em 2017 veio o Uttori, ressaltando apenas os dois vencedores de G1, sendo este último descendente das mesmas linhas que demos sequência desde o início da nossa criação (2º avô Jade Hill, 3º avô Faxeiro, 4º avô Zenabre), uma conquista que significou muito para todos nós. Difícil dizer qual foi minha maior alegria no turfe, vencer um G1 com um animal de criação é mágico, mas devo dizer que “hoje” minha maior alegria é ver o que o Arrocha está sendo capaz de fazer na reprodução! O Arrocha sempre nos passou uma confiança muito grande na raia, difícil de descrever em palavras: ele trabalhava muito bem, tinha muita vontade de ganhar e era muito fiel em corrida…tamanha vontade de vencer que na segunda coroa venceu na pista após perder a ferradura no canter, chegando manco após o páreo, e não muito tempo depois disso veio a ser segundo no Brasil por diferença mínima e a vencer a Copa dos Criadores. Fez coisas inusitadas, saiu de um páreo de sem vitória em 1300m para vencer o Clássico Sandpit em 2000m com pouco menos de 1 mês de preparo, desceu direto de 2400m do Derby Paulista onde foi 3o para a primeira coroa em 1600m com 3 meses de ausência e perdeu por pescoço no tempo de 1’32’08…a milha mais veloz desde o recorde de Bal A Bali. Ver que o sonho de reproduzir um craque com seu coração e alma de vencedor está próximo é uma emoção muito grande, só de reconhecer suas qualidades nesses 4 produtos que até agora estrearam é algo indescritível. Eles trabalham bem como ele, eles confirmam como ele, eles vencem brigando como ele fazia…para mim é muito mais do que eu poderia imaginar até aqui, mas quem sabe podemos sonhar ainda mais alto? A excessiva mídia que tenho feito a seu respeito e sobre as corridas dos seus filhos, e também oferecendo cotas e coberturas ao mercado, não é visando um lucro rápido, mas sim para que os colegas criadores possam ver o que estou vendo, uma história se repetindo, reconhecendo em seus produtos características que o fizeram diferente dos demais, não necessariamente fisicamente falando, mas principalmente sua atitude de raia. E quem sabe assim, darem a ele a chance na reprodução que merece.
Hoje sinto a alegria que minha família sentia ao ver os filhos de garanhões nacionais por eles revelados mas com o algo mais que no caso o Arrocha também foi criado por nós e fez campanha com nossa farda, logo, a emoção chega a transbordar. Fica aqui um agradecimento especial ao Haras Fronteira que cria meus animais a quase dez anos e também aloja o nosso garanhão, e também ao treinador Luiz Esteves que enxergou algo a mais nos produtos do Arrocha, já que foi o primeiro a valorizar seus produtos e comprar em leilão para seu cliente e assim o fez novamente no leilão desse ano. E aproveitando a oportunidade gostaria de dizer que sou eternamente grato meu avô já falecido e ao meu pai, que sempre me apoiou, por terem me dado a oportunidade de viver isso de perto desde criança e dar sequência no trabalho iniciado por eles.
Mario de Rezende Barbosa