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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

A COLUNA DE QUARTA-FEIRA

 O Turfe é Cruel

Esses dias tivemos uma produtiva discussão sobre teorias aplicadas aos cruzamentos de cavalos de corridas no grupo de watts da APPS. Por óbvio, não há técnica de cruzamentos conhecida nos dias atuais que atinja cem por cento de acerto em futuros animais clássicos em pista. E entende-se desde 1974 para cá como animais clássicos, são aqueles que obtiveram vitórias em provas de grupo I, II ou III.

Acredito que seja aceito que não há 100% no Turfe, mas o 0% com certeza há. Aquele cruzamento tentado por diversas vezes com resultado de ZERO por cento em ganhadores de provas de grupo. Querem um exemplo, qual sua opinião sobre os reprodutores Forestry e Put It Back? Acredito que a grande maioria goste de ambos, assim como Eu.. E se eu te disser que o resultado de um cobrindo com a filha do outro foi tentado por diversas vezes com resultado zero de ganhadores de grupo? Como explicar? Melhor não se complicar.

E pelo que tenho acompanhado, os filhos deles (Forestry ou Put It Back) cobrindo as filhas um do outro, também estão indo pelo mesmo caminho. A turma continua tentando, vários físicos de éguas com pedigrees variados sendo tentados e ainda assim a coisa não ocorre. 

Duas oportunidades passaram à minha frente este ano, primeiro uma reprodutora filha de Forestry que coberta por Put It Back nada produziu, mas desta vez era apresentada uma potranca filha der outro reprodutor, de físico impecável, foi apresentada em leilão. Indiquei ela a um grande proprietário e criador como oportunidade boa e possível preço baixo pelo histórico de fracassos de seus irmãos. Oportunidade do tipo "te consagra e me consagra"... Na hora do leilão, o criador que a colocou à venda exerceu a defesa do lote. Balde de água fria em mim. Faz parte e o criador tem o direito de fazer o que bem entender com animais de sua propriedade. Boa sorte a ele.

Alguns meses depois, em leilão de reprodução, tinha um lote de outra reprodutora filha de Forestry com mesmo histórico de coberturas. Trocando ideia com o Adriano Quadros, eu brinquei com ele, compra essa que está na medida para cruzar com o teu reprodutor, de nome Pueblero. Ainda falei para ele, "além da égua de bom pedigree, agora ela está com a barriga do reprodutor certo, deve sair baratinha". E não é que ele comprou. Boa sorte ao Adriano Quadros.

Além dessas crueldades que o turfe nos impõe, muitos dos percentuais são baixos. Veja que um Jóquei ou um treinador que atinja 20% de eficiência certamente estará entre os melhores das estatísticas anuais. Ou seja, ganhar duas vezes a cada dez tentativas.

Gameiro mesmo fala dos 20% de acerto dele nas seleções de potros. A cada dez elementos que ele seleciona, dois serão ganhadores de grupo. Os outros oito, ou não passará nos exames veterinários, ou terão lesão em treinamento, ou colocados em provas de grupo, ou ganhadores de Listed, entre outros resultados...

Outro percentual cruel do turfe é em relação aos reprodutores. Um reprodutor com 6% de filhos ganhadores de grupo pode ser considerado no mínimo um bom reprodutor. Ou seja, a cada 100 filhos, apenas 6 serão ganhadores de prova de grupo. E se formos para os ganhadores de GI o percentual cai para 2%, a cada cem filhos, dois ganharem GI já é considerado um bom índice. E os demais filhos, bom deixa para lá....

Uma coisa é ficar dentro dos percentuais de acertos, uma segunda é se tentar cruzamentos com ZERO % de resultado e uma terceira é ir para uma região ainda não explorada. Um exemplo é o novo reprodutor do Santa Rita de nome Sangarius. Tanto o pai dele, Kingman, como sua família materna deu certo com determinadas tribos específicas. Sangarius no Brasil, no país de todas as tribos, cobriu tudo quanto é tipo de tribos das matrizes. O que irá acontecer? Juro que não sei. E que fique bem claro que não é uma crítica a quem quer que seja. São escolhas e apostas que os criadores fazem, e eu as respeito com toda certeza.

Querem um exemplo de algo que somente se tentou no Brasil e sei lá porque, aqui deu certo? Filhas de Wild Event sendo cobertas por descendentes de Halo, seja por Verrazano, Hat Trick e principalmente Agnes Gold. Halo e Icecapade, acredito que somente aqui no Brasil deu certo. E o que imediatamente me vem à cabeça é a falta que Daniel Boone faz no Brasil para cobrir as filhas de Agnes Gold e dos demais descendentes de Halo presentes no Brasil.

Mas não esqueça, o turfe é cruel. Toda filha de Wild Event coberta por um reprodutor descendente de Halo vai dar ganhador de grupo? É óbvio que não. Mas melhor cobri-las com um reprodutor Halo do que um dos filhos ou com Forestry, se este fosse vivo ainda, que o resultado beira a insignificância. De qual lado dos percentuais você prefere ficar?

Tento publicar em cima de dados do passado no intuito de fazê-los refletirem se faz sentido para você. Este é meu objetivo quando vos escrevo. Não quero convencer quem quer que seja.

Lembre-se, o turfe é cruel.

Até a próxima quarta, abraço virtual.

Marcel Bacelo