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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

NA LUPA DO BARONIUS

 

Bem-vindo, 2025!

Bom dia, amigos do turfe. Vamos romper 2025 com muito trabalho, saúde e esperança. Só com trabalho e boas ideias chegaremos no alvo desejado.

Nesta primeira coluna do ano vou trazer alguns números que coletei, referentes aos vencedores do GP Carlos Pellegrini e mostrar em gráficos as linhas de tendência que o percentual de carga genética e o percentual de ancestrais comuns dos vencedores da prova nos mostra. Antes dos gráficos, vou reforçar os conceitos que coloquei no artigo anterior. Primeiro, INBREEDING são as duplicações cruzadas que aparecem até a quinta geração no pedigree do produto. Exemplo é o australiano Storyville, nascido em 2021. Peguem os exemplos que cito, coloquem no https://www.pedigreequery.com/, com 5 gerações, “cross duplicates”, não utilizo X-Factor e uso Roman-Miller no sistema de dosagens (Chef List). Vai sair tudo bonitinho para vocês analisarem e estudarem. Em seguida, OUTCROSS, são produtos que não têm qualquer duplicação cruzada até a quinta geração. Exemplo do caso é o brasileiro Aero Trem, nascido em 2015. Finalmente o conceito de LINEBREEDING, que são as duplicações cruzadas que aparecem a partir da 6 geração dos pedigrees. Aqui usarei o recente ganhador do Pellegrini, Intense For Me, onde as duplicações mais próximas ocorrem já na sexta geração e vão muito além, se observarmos o pedigree até a décima geração. Interessante notar que em 2024 tivemos aproximadamente 19% de vencedores de provas de grupo na condição do Outcross, que representa uma subida considerável em relação aos patamares de 10% sempre relatados pelo Renato Gameiro. 

Vale um estudo apurado para sabermos o que está acontecendo, como está acontecendo e onde ele mais se manifesta. O GP Carlos Pellegrini tem uma grande história, que começa em 1887 com a vitória do britânico Stilleto no hipódromo de Palermo, que foi local da peleja até 1940, ano da vitória da grande égua La Mission. Vamos agora ver o gráfico de distribuição da carga genética até a décima geração dos ganhadores da prova:

 
Os dados apresentam um claro declínio em relação aos valores dos primeiros anos de disputa e uma linha de tendência bem definida que mostra a diminuição da carga genética ao longo do tempo, como era esperado com a evolução da raça e a ampliação das trocas de garanhões e matrizes entre os países. Ressalto que nos últimos 10 anos a tendência tem se revertido e há um suave aumento da carga genética no período mais recente e não considero que a mudança trouxe malefícios aos nossos "hermanos". Esta nova tendência pode nos indicar que havíamos chegado a um limite na abertura dos pedigrees da raça. Não tenho dados suficientes para fazer a afirmação categoricamente, mas os indícios me levam a crer nessa hipótese. A segunda fase da prova começa em 1941, com a disputa indo para o norte no hipódromo de San Isidro, sendo conquistado pelo nativo Bubalco. Com um pequeno período nos anos 70, onde a disputa voltou a Palermo, o palco do norte da província sempre fez a disputa no seu relvado e firmando-se como grande fecho das disputas sul-americanas desde 1980. Agora vamos ver o quadro percentual de ancestrais únicos até a décima geração:



A linha de tendência também é visível e confirma o que vimos no quadro anterior. No princípio trabalhávamos com muito menos ancestrais, por volta de 25% de pais e mães únicos e caminhamos para algo acima dos 40% como um limite no número apresentado. A linha de tendência aqui também confirma que, salvo algum choque inesperado, estamos caminhando para atingir um limite neste percentual e que provavelmente iremos ficar oscilando em torno dos valores atuais. 

Esses eram os números e histórias que tinha para contar hoje. Complementando o material gostaria de dizer que o estudo de Emmeline Hill, que citei na semana passada, usou uma amostra de 6.218 animais e mediu apenas a probabilidade de os animais correrem conforme variava a sua carga genética. Na sua conclusão, ela aponta que para cada 10% no aumento da carga genética, a probabilidade de seu animal correr diminui em 44%, logo uma correlação negativa. Conclusão interessante, mas não suficiente. Efetivamente o estudo só mede uma variável e não é de desempenho. 

Gostaria de ver outros fatores sendo medidos como eficiência das matrizes em cobertura e outros dados relacionados a reprodução do rebanho. Penso que a amostra é boa, mas muito inferior ao estudo australiano de Todd e também o estudo de Hill foi financiado por uma empresa que vende consultoria em cruzamentos de PSI, conflito de interesses inclusive descrito no paper. A pesquisadora Hill rotineiramente coloca suas descobertas de baixo do braço e faz declarações definitivas sobre os inbreedings na raça, atitude que mais parece de uma ativista do que de uma cientista. Link do estudo: https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rspb.2022.0487

Enfim encerro por aqui minha jornada em uma parte das teorias de reprodução da raça. Espero ter contribuído para o debate com muita informação e trazendo os estudos mais contemporâneos que conheço sobre o assunto. O debate está aberto. Quanto mais estudos e troca de informações melhor ficaremos. Até uma próxima aventura pelo fascinante mundo do puro-sangue inglês.

Abs, Baronius