Hoje vou escrever sobre um tema diferente do que costumo abordar. Falarei sobre meus instintos e de um turfe fora de suas mentes, tendo como parâmetro minha esposa, que sempre gostou de cavalos mas nunca foi turfista.
Começo, como sempre do princípio. Tínhamos acabado de nos conhecer então nem namorando estávamos ainda. Mas, em uma brincadeira, mediante um replay da Breeders Cup Juvenile Fillies de 1995, falei para minha então futura esposa escolher uma égua para vencedora. Eu, claro, já sabia quem havia vencido. E ela, que na época literalmente nunca havia visto uma corrida de cavalo na vida, falou sem titubear: “Ah, gostei do nome, vou escolher essa My Flag”. Eu, impassível, ainda lhe “dei uma chance” para mudar de ideia, mas ela foi firme na escolha. Para quem não se lembra, foi exatamente a My Flag que ganhou em cima da Cara Rafaela (alô RG!). Sorte de principiante?? Instinto?? Who knows... e fiquei pensando que deveria tê-la conhecido antes dessa BC 1995, pois havia jogado na Cara Rafaela...
E nesses anos todos juntos, vocês não têm ideia do quanto ela já acertou sem sequer analisar os elementos que os turfistas apostadores analisam: pedigree, pista, retrospecto, etc etc. Tem dia que ela olha os rateios, acha o cavalo bonito e pimba. Nunca medi sua “taxa de sucesso”, mas eu chuto dizer que ela acerta tanto quanto nós, turfistas clássicos. Detalhe, acertou o “trio” do Futurity Stakes ontem em Hanshin. Pena que agora não dá mais para jogar no Japão. Tristeza.
Creio que um dos charmes do nosso querido esporte é esse, o da diversão. Você não precisa ser conhecedor para apreciar ou participar da festa. O Japão por exemplo já entendeu isso faz tempo, tanto que seus hipódromos principais são feitos para o público leigo.
Aqui em casa vira e mexe eu testo a memória dela e faço “quizes”. Na última, pedi para ela falar o nome do filho mais famoso de Cape Cross. Ela pensou por alguns segundos e disparou: “Ele não é o pai do Golden Horn??”. Olhei incrédulo porque ele definitivamente não é o filho mais famoso, mas ela estava certa. E ela ainda emendou: “Acho que a Ouija Board também é, né?” Ainda não era a resposta que esperava, entretanto achei incrível que a memória dela ativou obviamente o cavalo que nós vimos ao vivo ganhar o Arco com o Dettori e também ativou a Ouija, porque é o nome daquele jogo dos espíritos. Cruz credo! A resposta que eu queria, Sea The Stars, ela não lembrou de jeito nenhum. Ou seja, para ela, Ouija Board é muito mais importante que Sea The Stars. E está tudo certo. Como dizem, “tá valendo”.
Este contraponto para mim traz um equilíbrio interessante pois consigo entender a visão de alguém que não é fanático pelo turfe, mas participa da brincadeira.
Fazendo uma reflexão, convido a todos os amigos a trazerem seu círculo de conhecidos para este mundo sem inundá-los com análises que só interessam para quem é da área. Obviamente que, para quem tem o turfe como negócio, análises e estudos embasados são essenciais, mas não se esqueçam de envolver quem apenas tem como “obrigação” se divertir com este esporte tão querido. Fico por aqui, informando que a coluna estará de férias por ao menos duas semanas. Com isso deixo meu Feliz Natal e próspero Ano Novo. Que venha logo 2026.
Abs, Baronius