sábado, 7 de março de 2009

A SAGA DA SOBREVIVÊNCIA DE SIR TRISTRAM


Cinco provas de graduação máxima este fim de semana no conglomerado Austrália e Nova Zelândia me deixaram sem dormir nesta madrugada de Sábado. Mas como sempre, valeu a pena. As corridas naquela parte do mundo foram, como sempre, excitantes.
Negrito
O castrado de 3 anos Kaaptan (Kaapstad-Fanny Black por Chem) ganhou os 1,200m do ARC Ford Diamond stakes (Gr.1) em Ellerslie, na Nova Zelândia.

Kaaptan não possui um pedigree que possa se dizer fashionable. Talvez por isto tenha sido castrado, como a maioria dos machos o são naquele continente. Aliás, como veremos a seguir, os cinco vencedores deste fim de semana eram todos castrados e isto elevou o número de 30 provas, entre as 42 disputadas, vencidas por elementos do sexo masculino. O percentual de 71,42% em favor dos castrados é aterrador. Penso que cala qualquer detrator, de qualquer óbvio possível e imaginário. Mas voltemos aos nossos trilhos.

Kaaptan é filho de Kaapstad, um dos últimos artífices daquele que um dia foi o rei do pedaço naquela região, o inesgotável Sir Tristram (foto). Este filho do derby winner Sir Ivor, em pista ganhou apenas duas carreiras, era dotado de um temperamento irascível e por isto foi servir do outro lado do mundo. Colocou-se no Derby, mas sem impressionar. Na Nova Zelândia, dominou o cenário vencendo múltiplas estatísticas e estabelecendo um índice de quase 11% de ganhadores clássicos sem nunca ter feito parte de shuttles. Em minha opinião, Sir Tristram foi o que foi, por seu régio pedigree, já que mesmo fisicamente possuía defeitos que fizeram no inicio muitos criadores não optar por seus serviços. Curvilhões proibitivos me repassou uma vez, meu vizinho em Lexington, John Aiscan. E o que havia de tão interessante no pedigree dele? Eu diria que quase tudo.

Aliás, vou publicar qualquer dia deste uma entrevista que fiz com John Aiscan, voltando de um Kentucky Derby.

Seu pai, de Kaaptan não de John Aiscan, era um indivíduo acima de qualquer suspeita em pista e possuidor de um interessante Rasmussen Factor em Plucky Liége, por seus filhos Admiral Drake e Sir Gallahad III. Outrossim, ele possuía um número por demais convincente de outras grandes éguas em seu pedigree como Mumtaz Mahal, Selene, Lavendula para se citar apenas algumas.

A inclusão de Isold em seu book of mares, foi para mim um must. Pois deste cruzamento, do qual foi gerado Sir Tristram, propiciou a obtenção de três Rasmussen Factors em outras três matriarcas do turfe moderno a serem enunciadas: Mumtaz Mahal 6x6, por sua filha Mah Mahal, mãe de Mahmoud e seu por seu filho Baddrudin; Lavendula por suas filhas Source Sucree, mãe de Turn-To e por Perfume, mãe de My Babu ; e Selene na razão 5x4 por seu filho Pharamound e por sua filha All Moonshine, esta a terceira mãe de Sir Tristram

Era de se esperar que quando Sir Tristram viesse a receber o significante rebanho de filhas de Star Kingdom existentes naquela região, este último um neto de Hyperion (filho de Selene) dotado de um insinuante Rasmussen Factor em Canterbury Pilgrim, que este cruzamento s tornasse um sucesso. Como o foi, transformando-se em um nick.

Mas como tudo na vida, a linha de Sir Tristram está se definhando como tantas outras. Para se ter uma idéia, na atual temporada apenas seus filhos Zabeel e Kaapstad foram capazes de produzir ganhadores de grupo. Quatro em seu total. Os três de sexo masculino, infelizmente todos castrados.

Kaapstad foi a seu tempo um ganhador de sete carreiras em 22 saídas as pistas. Foi precoce e dotado de velocidade, mas sem poder ser considerado de primeiro nível. Vejamos porque.

Aos dois anos triunfou nos 1,400m do VRC Sires Produce stakes (Gr1) em 1’24”60 e nos 1,200m do VRC Ascot Vale stakes (Gr2) em 1’10”60 e do SAJC National stakes (Gr3) em tempo inferior. Aos três anos levado a maiores distâncias apenas conseguiu sobressair na esfera de grupos 3, onde ganhou os 2,000m do SAJC Birthday cup e dos 2,000m do Rain Lover plate. Foi ainda terceiro par Marwong e Our Poetic Prince na milha do VATC Caulfield Guineas (Gr.1) e segundo na milha e meia do South Australian Derby (Gr.1) para Celtic Spirit. Estas duas últimas carreiras, seus melhores resultados no patamar máximo.

A mãe de Kaaptan, Funny Black, foi um vencedora de duas carreiras em dez saídas as pistas, descendente da família 14-f. Pelo ramo estabelecido por Duke’s Delight. Esta vertente foi introduzida em 1975 na Austrália quando da importação da britânica Some Swallow (My Swallow). Na Nova Zelândia esta forasteira produziu em cruzamento com Sound Reason (Bold Reason), a ganhadora de graduação 3, Some Reason (mãe de Funny Black) que consagrou-se ao produzir com o norte-americano Casual Lies, ao ganhador do Derby da Nova Zelândia, So Casual.

Kaaptan é até o presente momento, o terceiro elemento da discreta extirpe Some Swallow a triunfar em provas graduadas. E acredito que o segundo melhor dele, sendo o terceiro sua já citada avó Some Reason, ganhadora em 1987 da milha do CJC Lion Bron stakes (Gr.3) em Riccarton na Nova Zelândia com o tempo de 1’35”34. Acentue-se que esta foi a melhor marca para esta carreira desde 1983, até que em 2005, quando então Sand Sweeper estabeleceu 1’33”82 no CJC Easter Cup stakes, como esta prova é hoje nominada.

Logo, não há de se negar, que existem resquícios de classicismo no pedigree de Kaaptan, mas não creio a ponto de fazê-lo chegar onde chegou. Para mim, como observador, a razão de seu sucesso está na estrutura de seu pedigree. Seu Rasmussen Factor em All Moonshine na razão 5x6 e seu imbreeding na razão 5x5, no chefe de raça Princequillo, devem ter ajudado na garantia da classe.

Embora exista uma forte concentração de sangue de Nearco (por seis linhas, sendo cinco por distintos mensageiros - quatro de sexo masculino e apenas um de sexo feminino) não acredito que nenhum de seus linebreeds tenham tido força suficientre na indução do produto final.