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sábado, 29 de janeiro de 2011

RESPOSTA DE UM LEITOR: BOUDOIR II

Renato,

Finalmente tomei coragem e resolvi lhe escrever.

Já houve algum caso de você achar que um reprodutor iria ser um espetáculo, do tipo impossível de não dar e ele tenha falhado feio em relação as suas expectativas?

Se lembrar de um caso pode explicar o porque da razão do fracasso?

Atenciosamente

Aurelio de Mattos

Aurelio,

Não sabia que se necessitava de coragem para escrever neste blog. Seja benvindo.

Não houve um caso. Houveram sim na verdade vários casos e também poderia dizer, que na ordem inversa. Aqueles que não acreditava que dariam e simplesmente deram. Graças a Deus acertei até aqui mais do que errei, mas tenha sempre em mente que o cavalo de corrida é o primeiro a o desmentir.

Um caso que me lembro bastante, pois, o discuti com com o saudoso criador colombiano Eduardo Gaviria, foi o referente ao aproveitamento reprodutivo de Real Quiet. O Eduardo o criou e eu o auxiliei na seleção da mãe de Real Quiet, Really Blue.


As razões pelas quais adquirimos Really Blue foram simples. Ele era uma égua de bom porte, honesta ganhadora em pista de 3 carreiras, tinha para mim um interessante imbreed em Discovery - que provei ao Eduardo que sempre funcionava - e acima de tudo por ser uma descendente direta de Boudoir (4-d) - foto acima - , pelo ramo Your Hostess. Contudo minha defesa maior para a aquisição desta filha de Believe It - cavalo por quem eu não nutria o minimo respeito - estava consubstanciada no fato que aquela ramagem viera a produzir a três ganhadores de Derby nos anos 60, nos três mais importantes centros turfísticos do planêta: Caracolero na França, Secreto na Inglaterra e Majestic Prince nos Estados Unidos. E ai lhe peguntei: porque está égua não poderá dar mais um ganhador de Derby onde este filho seu vier a correr.

Ainda mais que Boudoir era avó da ganhadora do Delaware Hcp., Flower Bowl, e esta por sua vez responsável pelo aparecimento também nos anos 60 de Graustark - que não ganhou o Derby por não ter corrido - e seu irmão His Majesty, que anos depois produziu ao ganhador do Kentucky Derby de 1981, Pleasant Colony.


O Eduardo aceitou minha defesa e foi lá e adquiriu Really Blue, que não foi barata. Custou mais de US$40,000 se minha memória não estiver falha. O que para uma filha de Believe It, cheia de Alwuhush no inicio dos anos 90, para muitos poderia parecer um absurdo. Mas Real Quiet - seu segundo produto com o Eduardo - simplesmente preencheu nossas espectativas, ganhando não só o Derby, como o Preakness e perdendo a chance de ser triplice coroado por diferença minima, ao ser derrotado no Belmont por Victory Gallop.

Nunca na verdade imaginei que Real Quiet - foto ao lado - pudesse ser ganhador do Derby, pois, o estudo elaborado por Jack Werk e que levou a efeito Real Quiet, em todos os reprodutores indicados, demonstrava a possivel produção de um elemento para a milha aos 1,800m. Quando o Eduardo me trouxe o estudo, um calhamaço de mais de 100 páginas, disse a ele que dentro das várias sugestões propostas, a que mais agradava era a de Quiet American. Primeiro, por em sua primeira geração ter eu selecionado e adquirido a Cara Rafaela e segundo porque o produto a nascer seria imbreed em dois lídimos transmissores de velocidade, Raise a Native 4x3 e Rough'n Tumble 5x4x4, além de Nearco 5x5, este um transmissor de velodidade e stamina.

Era igualmente o preferido de Eduardo, pois, foi Cara Rafaela que propiciara nos conhecermos e nos tornarmos amigos. Mas, a partir desta data, colocamos em nossas cabeças, que poderiamos almejar no máximo, a um grande milheiro.

Graças a Deus erramos.


Gay Hostess
.....Betty Loraine
..........CARACOLERO - Prix du Jockey Club de 1966
..........Bettys Secret
...............SECRETO - Epson Derby de 1964
.....MAJESTIC PRINCE - Kentucky Derby de 1964
.....Meadow Blue
..........Really Blue
...............REAL QUIET - Kentucky Derby de 1989

Quando Real Quiet estava em seu processo de sindicalização, O Eduardo me perguntou qual era a minha opinião sobre ele e se deveria comprar uma cota. Eu lhe disse, que não faria isto, pois, embora o fator sentimental fosse intenso, todos os reprodutores desta família, haviam falhado fora das pistas. Dei os exemplos de Majestic Prince, Secreto e Caracolero. E que do ramo de Boudoir, apenas a ramagem eregida por Flower Bowl demonstrava ser esta capacidade a produzir reprodutores, já que outro grande corredor como Your Host - ganhador do Santa Anita Derby de 1950 e nono colocado no Kentucky Derby - igualmente não poderia ser considerado um bom garanhão.

E para reforçar ainda mais meu ponto demonstrei que Caracolero tinha tudo para ter dado e não dera, mesmo tendo sido relativamente bem amparado. Este, Aurélio, foi um daqueles que achava chance zero de dar erro e deu.

Caracolero era um cavalo de excelente porte, que ganhou 4 de suas 7 tentativas, sendo três na esfera clássica, french champion 3yo e ainda por cima filho de Graustark - foto ao lado - numa mãe Prince John, numa mãe Royal Charger, na citada filha de Mahmoud. Logo, possuía um Rasmussen Factor do estilo formula 1 - por linhas baixas -  nela, a segunda colocada do Irish One Thousand Guineas, Boudoir, além de três imbreeds em Alibhai 3x4, Pharos 5x5 e Papyrus 5x5.

Mas ele não deu Aurélio. Porque? Talvez por ter vindo a servir aqui nos Estados Unidos, onde os maiores criadores, não se importavam - como ainda teimam em não se importar - com um cavalo de grama para a milha e meia.

O fato de notar o que havia acontecido reprodutivamente com Secreto, Majestic Prince e Caracolero, pelo menos me serviu para dar ao Eduardo um bom conselho. Mas se você me perguntar se o Midnight Lute pode dar, eu diria que sim, pois, ele foi um elemento extra-classe. Totalmente distinto de tudo o que Real Quiet foi capaz de produzir.

Espero que isto tenha respondido a sua pergunta.

Abraços

Renato Gameiro