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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

RESPOSTA A UM LEITOR: RAZÕES QUE A PRÓPRIA RAZÃO AS VEZES NÃO SABE EXPLICAR

Prezado Sr. Renato Gameiro,

Muito obrigado por ter respondido a minha última mensagem. Acho um grande feito o fato de você encontrar tempo para responder todos os seus leitores apesar do tempo empreendido na análise das carreiras que ocorrem diariamente no mundo inteiro e na sua busca incessante por cavalos que sobressaem aos demais.

Fiquei arrepiado com o relato de como você encontrou o Much Better. A história é muito emocionante mas fez com que eu ficasse curioso em relação ao que aconteceu com o Glória de Campeão. Como foi que você decidiu adquirir o cavalo para o Stud Estrela Energia? Ele apresenta uma duplicação no americano Good Manners e na égua argentina La Farnesina, o que sem dúvida alguma contribuiu para o seu sucesso nas pistas. No entanto, é possível que você tenha visto algo a mais no filho do Impression, assim como enxergou no Much Better no dia do leilão?

Além disso, gostaria da sua opinião quanto a uma coisa que tem acontecido ultimamente. Como é que o treinador sul-africano Mike de Kock obtém tantas vitórias em Dubai e poucos treinadores brasileiros conseguem melhores colocações com os animais apresentados lá? O que você acredita ser o fator impedindo o nosso sucesso nos Emirados Árabes: a qualidade dos nossos cavalos quando comparados com os americanos, europeus e australianos, entre outros, ou a forma com que muitos dos PSI saídos do Brasil têm sido apresentados em Meydan, sem a aclimatação necessária no hemisfério norte?

Obrigado pela atenção,
Gabriel de Moraes Leme


Gabriel,


Inicialmente obrigado por suas gentis palavras.


É sempre bom contar com a ajuda do destino. No caso de Much Better eu estava no lugar certo, na hora certa e fui ao banheiro na hora que tinha que ir. Uma conspiração que me fez adquirir Much Better. Que depois teve a ajuda de um cenário perfeito, com o Gonçalo, o João e o Ricardo. 


Mas tem horas que você faz o seu próprio destino, e mesmo nestes momentos certos fatores astrológicos podem ser considerados úteis.


O Estrela Energia me contratou para selecionar os produtos das gerações 2002 e 2003, coincidentemente ou não, os melhores cavalos que teve a seu serviço, até o presente momento. Você acredita que num espaço de 24 horas entre São Paulo e Paraná, eu selecionei e adquiri de forma particular três elementos e todos tiveram sucesso na esfera de provas de grupo? Estava definitivamente em meu período astrológico positivo. 


Passei em São Paulo, chegado do Brasil, em apenas um haras. O Smith de Vasconcellos e lá examinei e me decidi por adquirir Lira da Guanabara, ganhadora de listed e quarta colocada no GP. Henrique Possolo (Gr.1). Ai no dia seguinte no Paraná, no haras LLC, em compania do veterinário Fernando Perche me decidi por Hamadria, igualmente ganhadora de listed e segunda colocada no GP. Diana (Gr.1). Saído do LLC entrei no Santarém e foi ai que vi, gostei e comprei o Gloria de Campeão.


O fato dele ter um significativo Rasmussen Factor  - acredito eu, bolado pelo próprio Fernando - e ser um neto de Clackson apenas me fizeram pagar mais do que achava que um filho de Impression poderia valer. Que na verdade não acho ser muito. Mas ele foi daqueles cavalos que me agradou sobremaneira, a primeira vista. Não como Much Better, pois, não se impunha como ele, nem mesmo tinha a sua grandiosidade. Todavia, a harmonia de suas linhas e o jeito como se locomovia, foram fundamentais em minha decisão.


O resto vocês já sabem. O fato de ter corrido três Dubai Cups e ter ganho a última com o treinamento de Patrick Barry, demonstra que não são muitos os profissionais brasileiros que a gente se pode dar o luxo de achar que possuem um nível internacional. Elementos como o Mario Campos, o Dulcidio Guignone, o Venâncio, o nosso Paulinho Lobo e o Pirata, talvez tivessem a capacidade de repetir o feito.


Muitos foram os treinadores que por lá passaram e pouco e absolutamente nada, conseguiram.


Hoje o mesmo Estrela Energia, está acumulando uma série de dissabores em Meydan, já que voltou a estaca zero, utilizando-se de profissionais brasileiros, que devem ter ser valor, mas não acredito que possam estar aínda preparados para este nível de competição. E olha que Dubai é uma espécie de nível 3, em se tratando do carnival. Nível 2, no dia do festival. 


Não conheço os cavalos, logo, não posso garantir se são eles a causa de tanto insucesso. Outrossim, é fácil de notar que eles não tinham respaldo técnico pelo que fizeram anteriormente no Brasil, para lá estar tentando a sua sorte. 


Sorte... É exatamente este o termo que acredito que este grande stud baseado em nossa terra, precisará para obter alguma coisa neste meeting.


Quanto aos pedigree, posso apenas lhe garantir, que a primeira vista não animam muito, para poder enfrentar os Sadlers Wells da vida.


Temos a capacidade de produzir ao cavalo diferenciado, outrossim, não no mesmo número que outros centros mais desenvolvidos. Much better, Immensity, Duplex, Farwell, Escorial, Xin Xu Lin, Eu Também, Hard Buck, Light Green, Glória de Campeão, Eisntein, Siphon, Sandpit, Pico Central, Riboletta, Al Arab e mais alguns outros, já provaram que isto não é apenas uma opinião. Isto é um fato. Eu mesmo selecionei cinco dos citados acima e sei do porque fiz e mais importante do que isto, do porque eles fizeram o que fizeram em provas internacionais. Porém, há de se saber separar o joio do trigo...


O Mike De Kock, um grande separador de trigo sabe disto e andou procurando por aqui. Hoje creio que ele se sente mais a vontade de se utilizar do produto de sua própria casa, a África do Sul. De Kock, é um dos maiores treinadores de atividade no mundo, e só a sua batuta, já faz uma diferença.


O periodo de transição necessário para uma perfeita da aclimatação do hemisfério sul para o norte, hoje aceito e utilizado pelo De Kock, é ainda motivo de galhofas por parte de grupos brasileiros, que não sabendo que o galo canta, nem onde possa estar seu galinheiro, simplesmente afirmam que canja não pode fazer tão bem a saúde. É a maneira mais simples de se negar o óbvio.


No mais Gabriel, é cada um tocar o seu barquinho e torcer que o destino, a astrologia e até um pouco de seu conhecimento, o façam seguir as correntes certas.


Um bom dia para você.


Renato Gameiro