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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

TURFE TAMBÉM É CULTURA: A CARA E A COROA - PRIMEIRA PARTE





Existem grandes cavalos e existem legendas, e mesmo, entre estas duas gamas de excelência, existem grandes diferenças. Os primeiros contribuem continuamente para que a roda do turfe se mantenha em movimento, no entra e sim de aficionados. No calor de cada nova disputa. Mas é do segundo grupo que está a garantia da "longevilidade" deste mercado. Eles atraem multidões aos hipódromos. Eles fazem com que a mídia se sinta impelida a cobrir seus eventos. 


São poucos, pois, tudo que é muito bem, normalmente não vem em grandes quantidades. Ribot, Sea-Bird, Man O' War, Sea the Stars, Seabiscuit, Zenyatta, Zarkava, Ruffian. Todos foram a seu tempo responsáveis pela inclusão de sangue novo, diversas energias Geraram expectativas, contribuíram para novos sonhos. Tornara-se personagem de livros, alguns até em filmes. Eles me fizeram como turfista, analista e pequeno criador e proprietário que um dia fui. Eles são a razão de eu estar aqui sentado, escrevendo todos os dias as linhas que escrevo.



Outro dia me perguntaram mais uma vez quem foi o maior cavalo norte-americano de todos os tempos. E novamente respondi, como o sempre faço. Acho impossível se comparar grandezas. Assim como não sei quem foi melhor Beethoven ou Mozart, Rubens ou Monet, Drumont ou Vinicius, fico meio sem jeito de ter que decidir quem possa ter sido o melhor cavalo de todos os tempos, aqui ou acolá. Ademais desenvolveram-se em épocas distintas e enfrentaram adversários e situações de pista, medicação e calendário talvez não comparáveis em uma análise científica.

Lembro-se que a Blood-Horse, uma espécie de Bíblia por aqui, um dia publicou um livro onde elegeu Man O’War, o numero 1 de todos os tempos neste pais.  O painel montado era constituído de sete experts – seis homens e uma mulher – que embora nunca tenham tido a propriedade sequer de uma mula, votaram e chegaram a conclusão que vos apresento a seguir. Da mesma forma que Einstein pregava que a pessoa que nunca cometeu um erro é porque nada de novo tentou, eu diria que mesmo errando ou não estes sete panelistas chegaram a uma lista de 100 cavalos, que segundo eles, foram os melhores no século XX.

Antes que possa ser mal entendido, afirmo com convicção que você não precisa ser proprietário de um cavalo de corrida para saber se um cavalo é bom ou não pelo que apresentou em pista. Da mesma forma que você não precisa ter sido um grande jogador em campo para comandar uma grande seleção de futebol. Mas ter participado ativamente desta atividade como proprietário, ou profissional do ramo, o leva a conhecer outros meandros que não apenas aquilo que foi traduzido em pista. E isto para mim é de suma importância em sua avaliação final. Mas voltemos aos trilhos e aqui está o produto deste trabalho, com os doze primeiros colocados:


1. Man O’War
2. Secretariat
3. Citation
4. Kelso
5. Count Fleet
6. Dr. Fager
7. Native Dancer
8. Forego
9. Seattle Slew
10.Spectacular Bid
11.Tom Fool
12.Affirmed


Mas se eu fosse obrigado   dar uma opinião a iniciaria com a análise de alguns fatos, tais como O fato de ter sido o primeiro tríplice coroado depois de Citation, e isto acredito eu por si só serviria para colocar Secretariat em uma posição distinta entre os demais. Ter ganho o Belmont Stakes em recorde mundial por 31 corpos seria outro ponto que não poderia ser deixado de lado. Outrossim ser considerado o melhor de uma década, a de 70, que creio terem sido os anos dourados do turfe norte-americano, me faz crer, com todo respeito que Man O’War merece, que Secretariat foi o maior cavalo de corrida já aparecido em território norte-mericano.

Desde as primeiras décadas do século passado que o cavalo de corrida nascido nos Estados Unidos, iniciou seu processo internacional de colocar os casquinhos de fora. O Belair Stud de Woodward para mim foi o primeiro ponto de importância neste processo, outrossim foi Sir Ivor e habitat, no final da década de 60, treinados ambos por Vincent O’Brien o aríete que derrubou as fortes muralhas erigidas até ali sobre a superioridade genética dop nascido no velho mundo. O vingativo e estúpido Jersey Act, que segregava muitos dos cavalos nascidos nos Estados Unidos, descendentes de éguas que não fossem aquelas 74 fundadoras da teoria de Bruce Lowe, quis tirar a criação norte-americana do mapa, até que alguns destes seus descendentes foram lá e provaram a sua superioridade, naquilo que os britânicos mais acreditavam, a pista.

E dentro da pista, a prova que os organizadores deste esporte – já que os inventores foram os romanos – mais respeitavam era o Derby de Epson e este para um período de 5 anos – de 1968 a 72 – foi vencido por quatro oriundos norte-americanos, a ficha finalmente caiu. E os anos 70 se transformaram em uma nova base genética para os pedigrees clássicos da modernidade. Dos doze primeiros selecionados pelos panelistas, mais de 1/3 dos mesmos correram na década de 1970 – Secretariat, Forego, Seattle Slew, Spectacular Bid e Affirmed - assim como os dois mais importantes chefes de raça da era contemporânea, Raise a Native e Northern Dancer (43º).

Não vi Secretariat correr. Apenas por filmes. Logo, o meu cavalo favorito entre os que acompanhei ao vivo e a cores, continua sendo Seattle Slew, que teve o ensejo em ser o primeiro tríplice coroado a alcançar esta honraria, ainda invicto. Mas há de se convir que Secretariat atraiu mais a atenção do publico. Foi capa do Times e embora sempre exista um detrator do óbvio a bramir que ele não ganhou de ninguém, discordo. De sua turma fazia parte Forego, que quando esteve em confronto com Secretariat e os demais que o enfrentaram, inclusive Sham, assumiu a posição de ninguém, pois, assim todos pareciam aos olhos do público, quando comparados a Secretariat.

Champion 2yo e elevado a posição de Horse of the Year, numa idade que poucos o foram, Secretariat venceu o Kentucky Derby em recorde, 1’59” 2/5 para os 2,000m em duas curvas, batendo por 3/5 o recorde estabelecido por Northern Dancer em 1970. 


No Preakness parou o relógio de dois experientes cronometristas do Daily Racing Form em 1’53” 2/5, mas a versão de 1’54” 2/5 obtida pelo cronometrista de Pimlico se manteve oficial por décadas, até que o recorde de Secretariat foi definitivamente homologado e passou a ser oficial. Uma marca 3/5 melhor do que o obtido por Canonero II na carreira de 1971. Canonero II era cavalo que adquirido para interesses venezuelanos por US$1,200 ainda como yearling, voltou aos Estados Unidos e quase foi tríplice coroado, treinado por Juan Arias, um ilustre desconhecido. 


E ai veio o Belmont...






A CONTINUAR DIA 08 PRÓXIMO