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quinta-feira, 21 de julho de 2011

LUCIEN LAURIN - PRIMEIRA PARTE

ENTREVISTA COM LUCIEN LAURIN,
O TREINADOR DAQUELE É CONSIDERADO
COMO UM DOS MAIORES CAVALOS
DE TODOS OS TEMPOS: 
SECRETARIAT



Era o ano de 1998. O mês, Janeiro. Como sempre, havia me transferido de Lexington, em Kentucky, para Hallandale na Flórida, para fugir do inverno e assistir ao meeting de Gulfstream. Mas naquele ano eu tinha um plano em minha cabeça: entrevistar a Lucien Laurin, o homem que havia treinado 25 anos antes a Secretariat.

Como Cristina queria conhecer as chamadas Keys, e ele morava em uma delas, Key Largo, empreendi minha jornada. Consegui que ele me recebesse, graças a uma intervenção de Mrs. Penny Chenery – a dona de Secretariat, com quem eu e Cristina sempre mantivemos excelente relações de amizade – e foi exatamente assim como tudo aconteceu.

A casa era acolhedora. Pequena mais cheia de calor humano. Fomos recebidos a porta por um senhor baixinho, já quase careca e com um protuberante abdômen e trazidos a um ambiente que tinha a sua cara. Lucien, mantivera aquela sua mania de usar cores. Agora não só em suas roupas,  bem como nas paredes e em seus móveis. Estava sozinho, trajava bermudas, chinelos e uma camiseta que deixaria o arco íris inibido. Deixou claro que não gostaria de ser fotografado, ao que concordei. Sentamo-nos no par de sofás à frente de uma lareira sem madeira aparente, e que me objetivou fazer-lhe a primeira pergunta e assim quebrar aquele gelo inicial:

RG – O senhor usa muito? - perguntei apontando para a mesma.

LL – Nunca, mas me faz lembrar minha terra.

Não deixava de ser uma explicação. Principalmente para alguém nascido e criado no Canadá.

RG – Senhor Laurin, sou um estudioso do turfe e sei dos feitos que o senhor conseguiu como treinador em sua brilhante vida profissional, mas o senhor há também de convir que Secretariat sempre será o ponto que o unirá a mídia. Assim sendo vamos direto ao assunto. Qual foi a sua primeira impressão ao ver Secretariat?

Ele sorriu.

LL - Seria bárbaro eu dizer que logo que o vi, imediatamente senti o cavalo que ele iria ser. Mas não seria verdade. Ele no inicio parecia para mim grande demais, lerdo e preguiçoso. Perdeu na estréia uma carreira que não deveria perder. Coloquei Turcotte (Ron) e eles se acertaram. A partir da terceira carreira não tinha mais dúvidas que tinha algo que nunca tivera o ensejo de ter anteriormente em minhas mãos.”

RG – E como o senhor chegou a Secretariat?

LL – Na verdade foi de forma inversa. Ele é que chegou a mim. Já estava praticamente aposentado, quando Mrs. Chenery me procurou e me ofereceu um emprego como seu treinador. A indicação de meu nome foi de meu filho (Roger), que achava que eu não estava satisfeito apenas jogando golfe e andar ...

RG – E o senhor estava?

LL - Na verdade nunca consegui jogar bem golfe e sempre tive problemas com o sol. Mas creio que meu filho, que trabalhava para os Chenerys, vislumbrou a oportunidade de eu voltar a ter sucesso, já que embora as coisas não estivessem muito bem em termos financeiros para aquele estabelecimento, um potro de 2 anos chamado Riva Ridge acabara de sagrar-se Champion 2yo. Foi o que me atraiu.

Ele pigarreou e perdeu por alguns segundos sua vista em algum ponto acima de minha cabeça. Ficou fora do ar momentaneamente como estivesse procurando achar algo no fundo de sua memória, mas não tardou a continuar:

LL - Relutei a principio. Seu Stable (Meadows) que um dia fora dominante quando seu pai tinha forças para o dirigir, estava em baixa e confesso que achei Mrs. Chenery um pouco sonhadora para o meu gosto. Mas aceitei o convite de forma temporária, até eles acharem um treinador definitivo. Aliás, era muito difícil se dizer não para Mrs. Chenery. E quase ganhei a tríplice coroa com Riva Ridge. – ele parou um pouco para pensar - Pouco se fala sobre isto. Ele era um cavalo extraordinário. Profissional ao extremo. Teria o feito (ganho a triplice coroa) se o terreno estivesse normal em Baltimore (onde é disputado o Preakness, a segunda prova da tríplice coroa)...

RG – Foi esta a razão porque Riva Ridge deixou de ser tríplice coroado?

LL – Não encontro outra. Riva Ridge nunca conseguiu sequer andar no muddy (quando a areia está encharcada). Provou no Derby (Kentucky Derby) e no Belmont (Stakes), que não tinha adversários naquela geração. Não posso imaginar que fosse inferior a Bee Bee Bee. Como igualmente nunca me passou pela cabeça que Secretariat pudesse ser inferior a Onion, Prove ou a Sham. Após estas derrotas, Secretariat triturou o cavalo de Jerkens (Allen – e o cavalo era Onion) na Marbolro Cup e o de Pancho (Frank Martin – e o cavalo era Sham), como se estes simplesmente não existissem. Cavalos tem seus dias...

RG – Entendi que o senhor então atribui a estas duas derrotas de Secretariat em Saratoga e as duas em Aqueduct, para dois distintos pupilos de Allen Jerkens, a ele não estar verdadeiramente em seus dias?

Ele fez menção de responder, mas algo o fez estancar. Voltou a perder suas vistas naquele ponto citado anteriormente. Tamborilou seus dedos sobre os lábios, mas quase que de forma instantânea respondeu a minha indagação:

LL – Não propriamente. Houveram falhas humanas em pelo menos duas das ocasiões. Em Saratoga (Whitney Hcp.), Turquotte o manteve preso por muito tempo junto a cerca. Não valeu a carreira, pelo menos para mim. Quando veio, a corrida já estava decidida. Jerkens evidentemente teve outra opinião. Em Aqueduct (Wood Memorial stakes), substimei Sham e tinha Secretariat um pouco relaxado. Pensei que o Gothan (Stakes) tivesse tirado alguma coisa dele. Pensei que o acelerara demais. Imagine ele ganhou pela primeira vez de ponta a ponta em recorde com os 1,200m passados no bridão em 1’08” e um troquinho. O preparei para Churchill (onde é corrido o Kentucky Derby) muito de leve. Mas mesmo assim, se tivesse puxado um pouco mais no apronto por ele, não teria perdido a carreira. E se você conhece a história, tem consciência que aquela derrota no Wood (Memorial) poderia ter decretado o final da carreira de Secretariat. O que teria sido uma lástima. No Woodward, a pista nos foi desfavorável.

Cabe-se aqui uma explicação. Secretariat foi eleito Horse of the Year, aos 2 anos de idade. Um fato difícil de acontecer, tanto que depois disto, apenas Favorite Trick em 1997, conseguiu repetir o feito. Secretariat largara mal na estréia e perdera, ganhado a seguir suas 5 remanescentes carreiras, o que o fez sagrar-se igualmente, Champion 2yo. Foi sindicalizado por quantia recorde. Trazido a correr aos 3 anos, e ainda administrado por Mrs. Chenery, ele deu um galope de saúde no Bay Shore Stakes de Aqueduct e na carreira seguinte ganhou de ponta a ponta o Gotham Stakes, estabelecendo 1’08” 3/5 para os 1,200m e igualando o recorde da pista de Aqueduct para a milha, vencida em 1’33” 2/5. Mas no Wood Memorial, não passou de uma terceira colocação, chegando atrás de Sham e de seu companheiro de barn Angle Light. O sindicato exigiu de Mrs. Chennery que ela desse por terminada a carreira de Secretariat ali mesmo. Não queriam correr o risco de uma ainda maior desvalorização. Havia uma imagem que depois da milha os filhos de Bold Ruler tendiam a esmorecer em seu ímpeto. E ela recusou. Não me contive e perguntei a Lucien:

RG – Porque Mrs. Chennery, quando pressionada por seus sócios de sindicato, não terminou ali a carreira de Secretariat? Houve o seu dedo nisto? 

LL – De maneira alguma e nem poderia ter. Para salvar a imagem do cavalo, naquele exato momento, ele teria que ser tríplice coroado e desde Citation ninguém o fizera. Eram 25 anos de espera. Eu não poderia garantir a Mrs. Chennery a tríplice coroa. Inclusive temia pelo Derby (Kentucky Derby), e ela sabia muito bem disto. Pois não podia re-acelerar o cavalo, na forma que precisava para enfrentar um cavalo como Sham. Tinha que ir de mais para mais, o tempo era pouco, a distancia era inédita e Pancho (o treinador de Sham) estava com toda a corda. Tinha a vitória como favas contadas. Não sei mesmo porque não o fizeram favorito.

RG – Seria a força do cavalo deste lado da costa?

LL – Possivelmente. Eu sabia que Secretariat tinha espaço de evolução. Mas o publico não. E ademais ninguém sabia o que Sham poderia evoluir.

RG – E porque então Mrs. Chenery teimou?

LL – Que me desculpe a senhora aqui presente (Cristina minha mulher) mas você sabe como são as mulheres. Quando colocam algo na cabeça, é difícil de lhes contrariar. E ela tinha uma fé no cavalo impressionante. Acho até que os dois se comunicavam. Muitas vezes os flagrei cochichando...

E sorriu com a prºopria observação.

RG – Sei que é difícil se resumir em poucas palavras um momento tão grande como a tríplice coroa. Mas como o senhor a descreveria.

LL – Como um conto de fadas. Em minha vida profissional, eu ganhei seis provas da tríplice coroa. Uma com Amberoid, duas com Riva Ridge e três com Secretariat. Logo, me acho capaz de definir o que são estas carreiras. O que nunca consegui definir é como um cavalo possa correr os 2,400 metros com parciais constantes de 12” como Secretariat o fez no Belmont. Cavalos não são supostos a fazer isto. Talvez Chic Anderson tivesse razão. Ele era uma tremenda maquina!” – e como tivesse sido transportado para um lugar do passado, repetiu tentando imitar a voz de Chic Anderson - Secretariat is Blazing Along. The first three quarters of a mile in 1’09” 4/5. Secretariat is widening now. He is moving like a tremendous machine ...

Não posso garantir que lágrimas tenham lhe vindo aos olhos. Mas estes brilharam de uma forma incomum. Eu mesmo me emocionei. 


CONTINUA NA SEMANA QUE VEM.