Minha vó Adelina sempre me dizia que a gente não deve chover no molhado. Creio que a doce criatura está certa. Mas, neste caso, apenas até certo ponto. Explico-me por que.
Em muitas oportunidades devemos repetir e repetir, quantas vezes forem necessárias, para que as pessoas entendam que aquilo que está bem à sua frente, reluzente como o próprio ouro. Não se trata de uma miragem e sim a mais pura realidade.
Não estou brincando, nem jogando conversa fora. Sinto isto em cada conversa que tenho. Ou em textos que escrevo e recebo feedbacks. E quando nos atemos a estruturas pedigrísticas isto se torna mais do que necessário, principalmente no Brasil, onde há uma tendência histórica a se preocupar apenas com quem seja o pai. O resto? Para muitos trata-se apenas de mera consequência.
Ledo engano. Um cavalo tem mãe. E seus progenitores a mesma coisa. Logo, temos que abrir seu pedigree até um certo ponto.
Concordo, que cada um pensa de uma forma. Eu tenho a minha, que até que me provem ao contrário, está me agradando. Não acredito que depois da quinta geração se possa pedir muito em termos de saltos atávicos, mas a estrutura que se forma nestes 62 nomes, para mim tem suma importância. Abro meus pedigrees até a sexta, por causa dos Rasmussen Factors, pois, éguas que estejam na sexta geração têm seus filhos na quinta e estes podem aparecer em forma de um imbreed, como no caso de irmãos inteiros. Creio que isto faça senso.
As teorías dos imbreeds e daquilo que hoje é cognominado como Rasmussen Factor, foram aplicadas de forma constante por H.H. Aga Khan, Lord Derby e Federico Tesio e acrescentaria que de maneira quase que brutal por Marcel Boussac. Quem acha que estes senhores pouco sabiam de criação, por favor, consultem os resultados dos mesmos, comparem com os seus e depois, se possível, se recolham as suas respectivas insignificâncias. Logo, não está aqui em discussão se estas duas formas de engenharia de estruturas genéticas, são válidas ou não. Pois elas funcionaram. isto não é uma opinião. isto é um fato. Nos resta apenas constatar, se continuam funcionando.
Hoje eu creio que a Oceânia, o Japão estão a frente nestas experiências, seguidas logo a seguir pela Europa, que embora tenha basicamente inventado este esporte, não age de forma retrógrada. Ao contrário procura o mais rápido possível se adequar perfeitamente as mudanças que se fazem necessárias para se manter na proa da embarcação. Em contrapartida, os Estados Unidos relutaram um pouco em seguir e nós da América do Sul ainda não nos imbuímos totalmente da necessidade de entrar neste bondinho. O por que? Juro que não sei. talvez inércia cultural turfistica...
O que sinto é quanto menos forte for o pedigree, mais você deve se valer destes artifícios. Não é uma questão de moda. É sim uma questão de sobrevivência. Da mesma forma que se afastar-se do chefe da raça, me parece perigoso, e o uso indiscriminado de linhas maternas que nas últimas três gerações foram incapazes de produzir pelo menos um cavalo capaz de ganhar uma importante carreira, entre as muitas de graduação máxima, para mim, soa qual um suicídio premeditado. Por isto o saldo bancário nesta atividade ajuda, mas nem sempre resolve.
Mas vamos à pratica. Esta semana no Japão, como publiquei no blog, uma potranca de 3 anos chamada de I'M YOURS, venceu uma prova de graduação 2. Ela que já havia ganho ano passado - ainda aos dois anos de idade - uma outra prova de grupo 3 e raspado um grupo 1, é uma filha de Falbrav numa mãe El Condor Pasa, o que a primeira vista não trás muito apelo, embora individualmente tanto o filho de Fairy King, como o de Kingmambo, foram dois cavalos em pista, considerados por mim, de exceção. Dois fora de série, por assim se dizer. Pois bem, quando você "abre" este pedigree chega a conclusão que se trata de uma perfeita obra de engenharia genética. Mesmo levando-se em consideração tratar-se de uma descendente direta de uma das linhas de maior produtividade clássica entre as modernas, a 8-f, o que sempre ajuda. Imaginem, ela tem 5 Rasmussen Factors e 3 imbreeds. Dá para se acreditar? Sim, principalmente quando se tem que ganhar no Japão de Sunday Silence e seus filhos, King Kamehameha, Galileo e Cia. Desculpem os céticos e os detratores do óbvio, outrossim, com todo respeito, não dá para ir de peito aberto com um Falbrav e esperar que as coisas venham a acontecer. Tem que se ter uma 8-f, e uma estrutura de repetições em pontos de força no pedigree até a quinta geração, que possam de alguma forma contrabalançar, as enormes diferenças genéticas.
IM YOURS é Fairy Bridge 4x5 (por seus filhos Fairy King e Sadler's Wells), Special 4x6x6 (por Fairy Bridge e Nureyev), Lady Angela 5x6 (mãe de Nearctic e de Lady Victoria, a avó de Northern Taste), Thong 5x6 (mãe de Special e Lisadell a terceira mãe de El condor Pasa) e Almahmoud 5x6 (por suas filhas Natalma, esta a mãe de Northern Dancer e Cosmah, esta a mãe de Halo). E se isto por si só não bastasse ela é igualmente inbreed em Northern Dancer 3x5x5, Seattle Slew 4x5 e Hail to Reason 5x5. Vocês sabem o que em outras palavras isto representa? Que 58,75% de seu peso genêtico está em 5 matriarcas distribuídos da seguinte forma: Fairy Bridge 19,84%, Special 12,91%, Lady Angela 9,26%, Almahmoud 8,13% e Thong 8,61%. Se a isto considerarmos que I'M YOURS possui entre seus linebreeds, nada menos que 13 linhas de Selene, e 14 por duas filhas de Mumtaz Mahal - Mumtaz Begun e Mah Mahal - entenderemos sem muito ter que pensar, que este se trata de um pedigree mais que incomum. Diria, diferenciado. Nem mesmo os dicionários de bolso do turfe brasileiro seriam capazes de refutar.
Pode isto ser feito no Brasil? Respondo que pode e mais do que isto. Deve ser feito!
Se ROMANZZA de propriedade do Haras Regina, for coberta esta temporada pelo reprodutor Crimson Tide evidenciará uma estrutura baseada em Special 4x5, Thong 5x6, Be Faithful 6x6, Northern Dancer 3x5 e Native Dancer 5x5. Com esta finalidade esta neta de Griffe de Paris foi adquirida. Logo, não foi aberta a porta para o acaso. Ela é uma 9-h. O mesmo deve ser dito em relação a filha de Green Desert, chamada MARIA NUNZIATA, recém adquirida nas vendas de Janeiro em Keeneland, para o Stud Colorado, com a única finalidade de ser coberta pelo reprodutor Acteon Man, evidenciando a seguinte estrutura genética: Somethingroyal 6x6x6, Natalma 6x6x6x6, Danzig 4x3, Sir Ivor 4x4x5, Northern Dancer 5x4x5 e Never Bend 5x5. A linha materna? A 1-k.
Se ROMANZZA de propriedade do Haras Regina, for coberta esta temporada pelo reprodutor Crimson Tide evidenciará uma estrutura baseada em Special 4x5, Thong 5x6, Be Faithful 6x6, Northern Dancer 3x5 e Native Dancer 5x5. Com esta finalidade esta neta de Griffe de Paris foi adquirida. Logo, não foi aberta a porta para o acaso. Ela é uma 9-h. O mesmo deve ser dito em relação a filha de Green Desert, chamada MARIA NUNZIATA, recém adquirida nas vendas de Janeiro em Keeneland, para o Stud Colorado, com a única finalidade de ser coberta pelo reprodutor Acteon Man, evidenciando a seguinte estrutura genética: Somethingroyal 6x6x6, Natalma 6x6x6x6, Danzig 4x3, Sir Ivor 4x4x5, Northern Dancer 5x4x5 e Never Bend 5x5. A linha materna? A 1-k.
E evidentemente que estes cruzamento, como qualquer um que você idealize, tem que ser repetido pelo menos 3 vezes, porque nem sempre a Gisele Buchen aparece de primeira. E ademais eles devem ser elaborados em grande número, pois, a gente nunca pode precisar, onde o raio vai cair. Para se ter uma ideia, quanto isto é verdadeiro para mim, nos retratando a estes dois Haras a quem fui convidado a desenhar as coberturas deste ano, no Stud Colorado, das 21 éguas que compoem seu plantel, apenas três não apresentarão em seus produtos de 2013 Rasmussen factors, mas todas terão pelo menos uma duplicação em forma de imbreed. No Haras Regina das 32, já tenho desenhado 26 coberturas, dos quais apenas duas são consideradas de abertos.
Me parece ilógico, se ir a Keeneland, se comprar a peso de ouro uma égua de régio pedigree, se ela não descender de uma das 18 linhas maternas dominantes ou seu adquirente não saber com quem ela possa vir a cobrir, para se montar um pedigree moderno, como a atual conjuntura exige. Mas cada um pense como quiser. Todavia não é obrigatório ser um Einsten para sacar que embora a tribuna seja livre, o winners circle, só é visitado em constância, nos grandes eventos, por alguns...E na maioria das vezes, são sempre os mesmos...