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sábado, 22 de dezembro de 2012

PEQUENO PAPO DE BOTEQUIM: A CITTÁ SE FARÁ BELLA

Existiria mais emoção do que ver a luz? O nascer de um sol? O arco iris por ela formado? O reflexo da lua em águas paradas? Escrevi isto, horas antes da possibilidade do mundo virar farinha. Graças a Deus, os Mayas estavam errados. Aliás é mais um grupo de profetas metendo os pés pelas mãos, com suas predições apocalípticas. Melhor para nós, pois, em toda e qualquer profecia antevejo armadilhas de sentido dissimulado, debaixo de aparências, as mais respeitadas possíveis.

O que defendo, é muito simples: é ser a luz, a fonte maior de emoções, pois sem ela, é impossível que sua retina, capte o que acontece à sua frente. O importante é captar-se e deliciar-se com o que a luz, propicia você ver. Outrossim, quando falo de pedigrees, e vira e mexe nomes como Galileo, Danzig, Shirley Heights vem a baila, quero lembrar que para atingir o seu núcleo de emoções, não é necessário se conhecer o oceano. Ele pode estar muito aquém de suas possibilidades visuais. Pode-se mesmo viver a realidade de seu mercado, como esta sendo um lago. E isto me faz lembrar de um dos primeiros poemas de Drummond, que como todo bom mineiro, sonhava com o mar, mas contentava-se de viver o melhor do que a lagoa lhe poderia proporcionar.

Eu não vi o mar
Não sei se o mar é bonito
não sei se ele é bravo
o mar não me importa

Eu vi a lagoa
A lagoa sim
A lagoa é grande
e calma também

Na chuva de cores
da tarde que explode
a lagoa brilha
a lagoa se pinta
de todas as cores
Eu não vi o mar
Eu vi a lagoa...

O importante é ver. Sentir. Conciliar. Se neste momento, é impossível interagir diretamente com o mar, faça-o com a sua lagoa. Mas faça-o bem. De forma consciente.  Afinal, se não temos o poder financeiro de chegar a Galileo, que usemos Roderic. Mas saibamos como usar Roderic. Tirar dele, tudo que ele pode nos proporcionar. Moldando seus filhos no Brasil, de cimento e ferro, não mais de pedra e tijolo. No turfe moderno, precisamos de aranha céus, não mais sobradinhos.

Volto a lembrar que minha formação é de arquiteto. Logo, em tudo que me meto, tento transformar minha ação como em um projeto. Seja em vida pessoal, como na profissional. Tudo preferencialmente com um inicio, um meio e um fim. Preferencialmente, feliz... 

Garanto por experiência própria, que para se ganhar uma Dubai Cup, uma Breeders Cup, correr-se um Arco sem pagar mico ou ser segundo em um King George, não basta apenas colocar seu cavalo em um avião e esperar que ele venha a reproduzir em outro hemisfério, aquilo que você sabe que ele é capaz de fazer, no quintal de sua casa. É necessário um projeto. Normalmente entro no âmago de certas situações, que não estão funcionando muito bem, por não terem sido projetadas, de forma abrupta. Estas situações, na verdade são frutos de concepções sem uma moderna análise lógica. Como uma cidade nasce e se desenvolve de uma maneira natural, mas ilógica em termos de sua funcionalidade. Ai você tem que primeiro agir qual um bombeiro, para apagar o incêndio e depois, tentar urbanizar os escombros.

Na concepção básica da palavra, a função de se urbanizar algo é construir ou modificar cidades, que cresceram sem um projeto básico, com o fito primordial de facilitar a vida em comum daqueles que a habitam. O elemento estético passa a ser secundário. A função tem que ser o foco principal. Por isto disse anteriormente que a beleza não ser mais o fator fundamental. Ela resultará como consequência de uma solução técnica bem acertada. Pelo menos é assim que vejo acontecer na criação de cavalos de corrida.

É evidente que uma cabeça nobre agrada. Mas o que será dela sem uma perfeita inserção de pescoço, ou um equilíbrio, que considero fundamental, para que uma melhor velocidade seja atingida, com a menor perda de energia possível? De há muito acabamos com as exposições de cavalos de corrida. Eles são feitos para se provar em pista, não no palco.

Não se desesperem, pois, isto não decreta o fim da beleza. Existe sim, um novo conceito de beleza, seja na arquitetura, seja na criação de cavalos de corrida: o da harmonia das partes entre si e do todo, com a finalidade a que se propõe o objeto em questão. Em nosso caso, chegar a frente dos demais. 

Um edifício comercial tem a mesma estrutura que o mantém em pé, de um outro de moradia, mas suas funções e a forma como são projetados, são distintas. As fachadas podem ser até as mesmas. O mesmo acontece em relação ao cavalo de corrida. Ele pode ser mais direcionado para a grama ou para a areia. Para a velocidade ou para a stamina. Outrossim, na visão moderna, você procura projetar, não mais o especialista e sim o elemento eclético, capaz de ter sucesso em diversas distâncias, em todas as idades e preferencialmente em qualquer pista, independentemente de seu desenho ou sua superfície. Já que o ganhador do Arco, pode estar de olho na Breeders Cup Classic. E o do King George, na Dubai Cup. Isto não impede que você igualmente atente para o especialista, e ganhe um Pellegrini.

A preocupação estética de uma grande parcela dos criadores brasileiros tem impedido o natural desenvolvimento de uma "construção" moderna, mais de acordo com as necessidades que o novo mercado de corrida exige. E para nós que, como agentes, selecionamos cavalos para os outros, fica cada vez mais difícil se achar o diamante. Hard Buck, era para mim o cavalo de pedigree perfeito. Tinha o brilhantismo de um Spend a Buck, a imensa coragem de Secreto e toda a classe de uma Gazala. Vi nele o cavalo com a capacidade de conquistar o planeta. Não era um cavalo de milha e meia, mas nela não se saiu mal, sendo segundo colocado, nas duas mais importantes carreiras que veio a disputar. Todavia, dentro do espaço milha a milha e meia, pode-se, pelo menos, trabalhar com ele no mais alto padrão de carreira exigido pelo mundo. E ele não decepcionou.

O mundo da criação de cavalos de corrida, está hoje cravejado de elementos ecléticos. Acho que Holy Roman Emperor e Roderic O'Connor podem ser considerados dois deles, embora, não tenham atingindo com sucesso, distâncias acima da milha. Porém, penso que eles podem ser nossas lagoas, que formarão cavalos mais ecléticos e estes sim, poderão um dia conhecer o mar e nele não se afogarem. Não desprezo os Sulamanis, Sinddares e os Shiroccos da vida. Mas há de se convir que existem maiores chances de com eles ficarmos limitados a apenas uma determinada função. desprezo sim os Sagamixes e os Miesques Son's da parada. Os irmãos dos bons, que particularmente nada apresentaram de útil. estes poderão nos levar a lagoas, mas em sua grande maioria, povoada de jacarés famintos.

Urbanizar e usar dos artifícios da construção moderna, estão consertando as cidades. Por que não fazer o mesmo em relação a nossa criação de cavalos de corrida?

Por isto sempre alerto a aqueles que me perguntam como mudar as coisas em seus núcleos. Eu creio que seja urbanizar a solução, pois, como diria Leonardo Da Vinci, um dos primeiros grandes urbanistas de nossa história, fazendo isto como consequência La città si farà bella...

Um bom 2013 para todos.