GLADIATEUR
O VINGADOR DE WATERLOO
A história do turfe francês é longa, mas sua importância, mais recente. O primeiro resquicio de competitividade do turfe francês em relação ao britânico se deu com Gladiateur, que venceu o Derby no ano de 1865. Aquele, hoje representado por uma escultura à frente da tribuna principal de Longchamp. Gladiateur era o que comumente chamamos de um freak. Traduzindo, um aborto da natureza: pouco pedigree, mas muita qualidade locomotora. Como tal, toda a sua pujança, ele a deixou em pista, fracassando reprodutivamente.
Todavia, seu feito foi excepcional. Para terem idéia, foram necessários quase 50 anos, para que outro cavalo francês viesse a brilhar em Epson. Seu nome? Durbar. Em que ano? 1914.
Mas foi também, exatamente neste período, que a criação francesa plantou seus primeiros sólidos alicerces: The Flying Dutchman, Flying Fox e Rabelais. Estes foram os pilares.
The Flying Dutchman, ganhador do derby e do St. Leger de 1949 e vencedor da mais badalada match race, com o ganhador destas mesmas duas provas no ano seguinte Voltigeur, foi vendido para França, em 1858, pela quantia de 4,000 pounds. E na França, ele gerou a Dollar. Aquele mesmo Dollar cuja estatua está no meio do paddock do hipódromo da Gávea, e cujas raízes estabeleceram as primeiras grandes tribos do turfe da terra de Asterix.
Em 1910, a linha de Dollar, cinco gerações adiante, produziu a Bruleur, que embora não tivesse a classe de Dollar, foi terceiro no derby Francês e estabeleceu-se como um extraordinário fundista, vencendo o grand Prix de Paris (3,000m), o Prix Royal-Oak (3,000m) e o Prix la roquette (4,400m). E Bruleur produziu ao grande corredor Ksar e este por sua vez ao grande chefe de raça Tourbillon. E dai para frente, todos nós sabemos o que veio a acontecer.
Com a morte do Duke of Westminster, seu triplice coroado de 1899, Flying Fox, foi posto a venda, aos quatro anos de idade, em Kingsclere, onde era treinado e o criador francês Edmond Blanc o adquiriu por 37,500 Guineas. Uma soma absurda para um cavalo em treinamento. Tanto isto é verdade, que foram necessários, sessenta e seis anos para este recorde ser batido, por Vaguely Noble, ao final de sua campanha de dois anos. E ai entra um caso pitoresco, que me dou a liberdade de contar.
Edmond Blanc foi um dos maiores criadores do mundo e dono de uma fortuna brutal. Todavia, por ser filho de um homem, que montou esta fortuna delapidando com os casinos de Monte carlo, Nice e arredores, nunca foi aceito no Committee de la Société d'Encouragement. Como retaliação ao esnobismo, ele não aceitou uma égua sequer, para servir com Flying Fox, de criadores franceses. Cobria tão somente as suas e de criadores ingleses. E de Flying Fox, nasceu aquele que viria a ganhar ao Prix du Jockey Club e o Grand Prix e Paris, Ajax. E Ajax foi o pai de Teddy. E dai para frente todos vocês sabem o que sucedeu.
E finalmente Rabelais, que era mais novo que Flying Fox, inferior em pista a ele e a The Flying Dutchman, e longe de ser o melhor que St. Simon produziu, e que tinha seu exílio já oficialmente decretado para servir na Russia, só não indo, por causa da eclosão da guerra Russia-Japão. Vendido a França por 900 pounds produziu ao meio puro Durbar, que ganhou o Derby francês, assim como seu outro filho Ramus e ao ganhador do Grand Prix de Paris, Verdum. Todavia foram seus filhos Rialto e Havresac II, que notabilizaram sua linha, respectivamente por Wild Risk e Ribot.
A industria do cavalo de corrida na França, produziu nos anos que precederam a primeira guerra mundial, quatro cavalos soberbos: Sans Souci, seu filho la Farina, Alcantara II e Sardanapale. Porém, foram os citados Wild Risk e Ribot que mantiveram acesa a chama da transmissão de bons caracteres gerações adiante.
A primeira guerra mundial, quase que aniquila com a criação francesa. Mas querendo ou não, foram Ksar, Teddy, Wild Risk e um homem chamado Marcel Boussac, que a mantiveram viva e deram segmento ao grande trabalho de seus antecessores.