O turfe me deu muitas alegrias. Na verdade, me deu mais até do que isto. Deu-me uma vida. E entre estas alegrias que me permearam a vida, uma delas foi o convívio de quase uma década, com o Dr. Linneo de Paula Machado.
Se algo posso colocar em meu currículo, é que prestei serviços, por um breve período, para o Rio Claro Thoroughbreds, a branch norte-americana da família Paula Machado nos Estados Unidos. Muita coisa boa pintou neste período e dentre elas a potranca que para ele selecionei e que teve um sabor especial: Sea Girl.
Só uma pessoa como o Dr. Linneo poderia adquirir nos Estados Unidos uma potranca filha do ilustre desconhecido Royal Roberto, criada no não muito reconhecido estado de Illinois. Mas a grande vantagem de selecionar animais para o Dr. Linneo, é que em poucas palavras ele entendia todo o teor da história.
- Dr. Linneo, achei aqui uma potranca da linha da Orsa Maggiore num filho de Roberto que não foi matungo, mas que nada deu ainda na reprodução.
Sua imediata resposta foi uma indagação.
- O que ele ganhou?
. Um grupo 2 e um Grupo 3, mas não passou de 14th no Derby e oitavo no Belmont.
- Não ganhou mas correu duas provas da tríplice coroa. Se ela for boa compraremos.
- Dr. Linneo, mas um detalhe, ela não é santa de aprumos, mas nada que a impeça de correr.
- Eu também não sou santo de aprumos.
E foi assim que a ganhadora de dois 25 de Mayo e do la Mission, ingressou nas fileiras do Rio Claro na Argentina, nas cocheiras de Alfredo Gaitan, ela avassaladora quantia de US$1,000.
Desta forma as coisas eram decididas pelo Dr. Linneo. Falávamos por código e sempre o padrão, era uma la Troienne, uma Pretty Polly ou uma Mumtaz Mahal. Não se perdia tempo com a descrição do pedigree. Apenas os pontos chaves.
Como todos, de sua familia, o Dr. Linneo tinha no turfe francês sua formação. E quiz o destinos qua a três dias da disputa de um Arco, ele viesse a falecer. Tomei conhecimento por uma nota no Instagram do Gaitan e na manhã seguinte pelo Linneuzinho por gentil whatzapp.
O que posso dizer que aprendi com ele? Muito.
Primeiro a saber ficar esperando atrás do toco, a espera da oportunidade. Antes confesso que ía muito seco ao pote. Segundo o valor do dinheiro. Um dia perguntei a ele, numa discussão sobre o valor de uma égua, o que fariam na vida dele mais ou menos US$10,000? E ele respondeu como um banqueiro responderia; Muito. Porque sei como transformar os US$10,000 em mais. Você parece que não. E ele estava absolutamente certo. Tive outros ensinamentos no tocante a conduta que hoje tendo usar dentro de minhas possibilidade.
Ele me ligava todo dias a mesma hora. Quando chegava a seu escritório, As 8 horas em ponto. Que as vezes em Lexington eram cinco da manhã. Ele sabia, mas não se importava, pois parecia precisar de revigorar suas forças falando sobre cavalos e pedigrees. Conheci muitos no turfe, e sei de vários criadores e proprietários que estão na atividade, que gostam, mas realmente tem os cavalos como simples acessórios. O Dr. Linneo, não, amava-os.
Era uma pessoa tímida. Sentava nas arquibancadas da Gávea sempre no mesmo lugar. E falava com poucos, não por soberba, mas por ser este seu jeito.
A prematura partida de dona Sandra, seu companheira de batalhas, foi um golpe muito duro em sua vida. Pereceu perder gosto do entorno. Ve-los juntos, era a prova exata que existia felicidade em uma união matrimonial.
A última vez que estive com o Dr. Linneo? Fazem anos, foi quando nos cruzamos no consultório de nosso dentista, o José Humberto, no Leblon. E sua pergunta ligeiramente capciosa, foi por mim aceita com satisfação. -Ainda ganhas o King George? e minha resposta foi. Sem o senhor esta se tornando cada vez mais difícil. Mas que na realidade era uma verdade.