Um leitor, me perguntou o que em minha opinião é mais importante na formação de um jovem atleta ainda inédito aos dois anos. E eu respondo exatamente o que o João Maciel me respondeu quando a décadas atrás fiz esta mesma pergunta: estar feliz.
O bom cavalo de corrida, como o grande profissional, quando gosta do que faz e sabe o que está fazendo, tem tudo para evoluir, qualquer que seja a atividade. Do contrário, se trabalhar não é a sua índole, e não lhe trás prazer, simplesmente decepa o dedo e vai tentar ser presidente de sindicato.
Tive a felicidade de trabalhar com alguns treinadores, que tinham a sensibilidade de ver detalhes. Entre os que mais me impressionaram certamente devem ser mencionados foi o João Maciel e o Richard Mandella. Nunca me esqueço o João depois de dar a resposta que citei acima, explicar o porque da mesma. Em seu parecer, este fora uma dos principais ensinamentos que os jovens atleta equinos lhe haviam ministrava.
Para ele, cavalos diferentemente de pessoas, eram autênticos. Demonstravam o que realmente desejavam e o que certamente os irritava. E quanto mais jovens, melhor demonstravam suas vontades. Eram seres autênticos. Sem nenhuma hipocrisia. Para o João tão importante como trabalha-los pela manha, era ver como eles reagiam a tarde. Os via caminhar e ficava minutos perdido, simplesmente os observando em silêncio. Ia de cocheira em cocheira examinando o tempo que levavam para terminar suas respectivas rações e aqueles que haviam deixado algo. Era assim que planejava o trabalho do dia seguinte, pois a tarde, aquele potro reagia ao trabalho da manha, mostrando se evoluíra, se algo lhe irritava, ou mesmo este trabalho o havia prejudicado.
Much Better foi um dos mais difíceis de se formar aos dois anos. Tinha habilidade mas um gênio difícil. Pouco a pouco o João foi acertando-o, e um dia, depois dos infortúnios iniciais, ouvi dele pelo telefone aquilo que mais um profissional quero ouvir: se não ganharem dele hoje, nunca mais o farão...
Dificilmente você vê hoje um treinador hoje dizer isto e se preocupar com detalhes. Uns nem na cocheira de manhã vão. Preferem esperar os cavalos na raia. Ministram o trabalho e vão cuidar de suas vidas. E a tarde, quando muito, decidem escutar o que seus empregados tem a dizer. Desculpem o ceticismo, mas por melhor que seja o empregado, a sensibilidade é distinta. Não é a mesma de um profissional que tenha jeito para o negócio. E afinal você contratou ele, o treinador, não seus empregados.
O fundamento em um cavalo de corrida é construído em seu inicio. Depois dele passar pelos traumas de um desmame, de uma mudança de ambiente e de uma doma, iniciar seus treinamentos, não pode se constituir em outro trauma. Ele tem que achar alegria no que faz. Como nos tempos que galopava em seu paddock.
Nenhum ser humano pode treinar com a mesma qualidade de detalhes, mais de 50 cavalos. Isto também me foi dito pelo João. Hoje, mesmo no Brasil, os treinadores mais cotados, possuem centenas de cavalos e dependem não mais de seus olhos, mas dos de seus auxiliares. E na grande maioria das vezes, só tem acesso real a aqueles dois anos, depois deles terem passado um certo volume de tempo com um auxiliar. E ai pode estar o verdadeiro problema: o produto, já pode estar deteriorado...