Morei quase toda a minha juventude ali no finalzinho de Copacaba, inicio de Ipanema, a menos de 300 metros do escritório do Pasquim, que para aqueles que não sabem, foi o melhor jornal de critica, que o Brasil já teve. Era um grupo de jornalistas, que tinham no sarcasmo a sua maior força. O próprio nome, Pasquim, refletia o que o italiano reconhecia como sátira.
A idéia de seus iniciadores, o Jaguar, o Tarso de Castro, o Sergio Cabral, o Ziraldo e o Millor Fernandes, era achar algo que viesse a substituir o A Carapuça, de Sergio Porto o Stanislaw Ponte Preta, igualmente reconhecido como o selecionador das certinhas do Lalau. E acabou por se transformar numa resistência lúdica em tempos de ditadura. Era um jornalismo inteligente de uma esquerda cultural. Foi lá que comecei a ler o Paulo Francis e amar a Graúna da Caatinga Nordestina criada por Henfil, um hemofílico, cuja acidez em seus desenhos, era absurdamente relevante.
O frade Baixim e sua postura sardônica, , o bode Orelana um emérito pensador, o cangaceiro Zeferino ferrenho partidário da graúna, caboclo Mamadô, que enterrava os mortos vivos - desavenças do cartunista - foram no barato, personagens inigualáveis.
Concomitantemente passei a me interessar no turfe e tive a sorte de ter meu caminho cruzado com o senhor Atualpa Soares e foi assim que tudo começou. Deixei de lado uma pouco o Pasquim e cai de cabeça na British Racehorse, Stud and Stabile e Courses et Élèvage. Logo minha formação foi Pasquiniana, com pitadas e toques de turfe europeu.
Pois bem, o convívio com o senhor Atualpa me levou a conhecer melhor os élèvages das famílias, Seabra, Peixoto de Castro e Paula Machado. Suas linhagens femininas e os reprodutores europeus que tiveram o ensejo de importar. Sem querer atestar o que quer que seja, estas três famílias tiveram uma importância vital no desenvolvimento de nossa criação.
Em São Paulo, acreditem ou não, com um turfe fortíssimo, pouco ou praticamente nada vi do São Bernardo, mas em compensação, acompanhei o final do Jahu e Rio das Pedras e os momentos gloriosos do Faxina, Rosa do Sul, Malurica, Inshalla e outros grandes do turfe daquele Estado.
E como por encanto, o êxodo dos criadores cariocas de Teresópolis para São José dos Pinhais e aquilo que pode ser considerada a nova era de Bagé, com o Sideral, depois seguidos por Mondesir e outros. Foi ou não foi um turfe que parecia decolar para um futuro certo.
Mas quiz o destino, que o certo fosse trocado pelo incerto. Achei que era uma questão de tempo e uma nova leva de investidores haveria de aparecer. Ledo engano. Grandes potentados criatórios simplesmente desapareceram. O publico minguou nas arquibancadas e sobrevi nos Estados Unidos, graças ao apoio de alguns. Ec a nossa queda como atividade podem ser notada a olhos vistos.
O turfe na Argentina e no Uruguay, continuou a ser uma febre. Um misto de paixão e orgulho. No Brasil, seus grande número de adeptos migrou para outras atividades. O glamour foi substituído pelo vicio, e de repente nos tornamos párias de uma sociedade que prefere a raspadinha. Nosso espaço nas midias de massa, simplesmente desapareceu e ficamos pequenininhos como nunca antes havíamos sido. O mesmo aconteceu com a mídia sarcástica do Pasquim, e do grande jornal do Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil.Passamos a vir dentro de nosso próprio mundo, onde uma número muito superior de gente que sai, se contrapõe inferior dos que entram. E justamente no período em que as midias sociais passaram a bombar nos quatro cantos do pais.
Como ressurgiremos das cinzas? Está ai uma pergunta que muitos deveriam fazer. Como cobrar de nossas autoridades governamentais um tratamento digo de uma atividade, que gera empregos e divisas e não um hobby de meia dúzia de pessoas que erroneamente é vista, como aquelas que não tem o que fazer?
Unindo-nos, organizando-nos e batendo nas portas certas. Pois, o que vejo atualmente são muitas graúnas e caboclos Mamadô enterrando-nos vivos no cemitérios dos vivos.