Tem que se ter muito cuidado com as tentações, pois elas podem atrair você, a fazer coisas que o prejudicarão, a curto e médio, prazos. Seja com uma maça, para o expulsar do paraíso, ou com uma picanha, para trazer alguém do inferno, a forma de fazê-lo, pouco importa. O cuidado de não se deixar levar pela tentação exige de você, um mínimo de cuidado, E aqui entre nós, todo cuidado me parece pouco.
Um belo fisico, engana. Seja se tratando de uma mulher ou de um cavalo de corrida. Embora Vinicius tenha defendido a idéia que beleza não põe a mesa, mas ele não estava acostumado a comer no chão, no caso de equinos destinados a corridas, exigi-se algo mais, e dentro destes detalhes penso que o pedigree, tenha muita importância.
Quem seleciona apenas por fisico, tem suas virtudes. Mas se a estas virtudes, soma-se o conhecimento de pedigrees, as chances tornam-se maiores. O feio também ganha corridas. Mas em que proporção? O sem pedigree, também ganha corridas, porém, numa proporção muito inferior, até que o dos feios.
Pico Central e Duplex são exemplos de dois cavalos que considerava fora dos padrões fisicos e com pedigrees abaixo da média. Mas corriam para burro. Outrossim, peço a aqueles que estejam lendo esta nota, que citem outra dúzia de exemplos, que como eles, chegaram ao patamar mais alto de qualidade locomotora, com físicos e pedigrees de mesma envergadura.
Beleza em cavalo de corrida não é apenas uma bela cabeça e um forte empurrados. Na minha opinião é muito mais. É desenho, é harmonia, é potencia muscular, é correção, é boa ossatura, tendões aparentes, que aliados a expressão e imposição ao se movimentar, forma o arcabouço daquilo que ele poderá vir a ser como atleta.
Há de se ter noções básicas de como se forma o fisico de um atleta equino, da importância que deve ter seu trapézio de formação. Outrossim, tem que haver consciência que até um formula um com gasolina de baixa qualidade, tende a falhar em suas atribuições. E o que é a gasolina? Seu pedigree.
Conheci grandes selecionadores de inéditos que sobressaíam mais em físico do que pedigree, e obtiveram sucesso. Mas tenho certeza que seus sucessos seriam maiores, se estivessem afeitos a estudar com mais afinco os pedigrees.
Por anos participo de selecionamentos de inéditos, e a cada jornada, descubro algo de distinto, tanto em pedigrees como fisicos, pois, todo este processo é mutável. Hyperion e Northern Dancer, tinham fisicos, que desafixam a lei natural das coisas, em seus respectivos tempos. Eram lindos, mas numa proporção distinta em termos de tamanho e foram dois dos mais proeminentes sementais da história. Nearco não podia ser considerado para sua época como o protótipo perfeito e Nijinsky um Apolo, teve seu apix tanto na pista como no breeding-shed, mas não dominou como dele era esperado.
E somado, a tudo isto que foi levantado, existe algo mais, que não é possível de se detectar: a vontade de vencer. Que Tesio definia, como um dom do cruzamento.
Logo, selecionar atletas para o turfe, é uma tarefa difícil, pois, vencendo-se todas as barreiras, existe o trabalho de outros profissionais, que agem, antes e depois, sobre aquele que você examina e seleciona, em um ponto temporal.
Esta é a resposta para aquele, que gentilmente me sugeriu que eu ministrasse um curso ou um manual para se selecionar inéditos. Desculpe, não é falta de vontade, mas é com certeza, uma inabilidade minha de colocar no papel, aquilo que você sente ao vislumbrar a sua frente, um inédito que um dia vai se transformar num cavalo de corrida.