Ter conhecimento de sua ignorância no assunto, é o ponto de partida, de seu crescimento no turfe, uma atividade na qual você aprende a cada manhã, o que o fará pensar e the trazer mais dúvidas ao entardecer. Eu era jovem, sedento por aprender e me dispus em enfrentar a situação. Passei a importar-me com o pedigree, enfronhando-me no assunto com aos armas que dispunha. E um dia, aproveitando uma ida a Londres. Entrei numa livraria chamada J. J. Allen, juntinha ao Palácio de Buckingham e depois de duas horas, sai com dois contamines de livros. Mandados de navio, para infortúnio de meus pais, para nosso apartamento no Rio de Janeiro. Quando cheguei, passei a lê-los com a avidez de um ignorante no assunto. Fi-lo por meses, sem chegar a lugar nenhum.
Na época ainda vivíamos sob a influência de um governo militar e ler para um jovem era a solução mais segura naqueles tempos. Afinal ler tendo como assunto principal cavalos de corrida e corridas de cavalos, não era terrorismo nem implicava em uma má fé ideológica. Mas como tudo no turfe, querer não é poder. A avidez do conhecimento, não lhe garante o aprendizado. Muito pelo contrário, as vezes o embaraça ainda mais. Mas em si, havia uma vontade férrea de entender De transpor aquelas barreiras do desconhecimento. Foi exatamente neste momento que cheguei ao senhor Atualpa Soares, que me ordenou como lê-los e dissipou os mistérios daquelas palavras que chegavam a meu cérebro, mas até aquele momento, não faziam o menor sentido.
A ajuda que recebi dele, foi incomensurável. Um homem esquecido por trás de uma mesa de uma das instituições do Jockey Club Brasileiro, porém dotado de um grande conhecimento e uma maior ainda sensibilidade para com os pedigrees. Coisa, que hoje, décadas depois, reconheci em muitos poucos, entre os milhares que conheci em minha vida. E ademais, ele tinha o tempo e a necessidade de conversar e ensinar e eu de aprender. Devoramo-nos.
Por intermédio dele, aprendi a importância de se separar o joio do trigo e o mis importante de tudo: o porque uma coisas aconteciam e outras não. O que era regra e o que era exceção. Sua idolatria por um cavalo chamado Albatroz, de crias da família Paula Machado, me fez escolher o nome de minha empresa. Foi neste período de estudos que vim a ter conhecimento de um outro senhor, jáw falecido a duas décadas, de origem italia, chamado Federico Tesio, o Mago de Dormello.
“Ele sabia de tudo. Criar, gerenciar, treinar e até montar. Estava cem anos a frente de todos”. Bramia o senhor Atualpa de dedo em riste. E complementava “Boussac, Lord Derby e Aga Khan, o velho, nenhum conseguiu o nÍvel de resultados dele, gastando muito mais”.
A partir deste momento, li tudo sobre Tesio e seus três maiores rivais. Um italiano, um inglês, um francês e um árabe. Cada um com sua forma de pensar e agir. Porém, o que mais me intrigava, era a forma deste italiano agir. Tinha uma maneira distinta de selecionar pedigrees e de engendrar cruzamentos. Mas o tempo, me fez vislumbrar que tudo tinha um sentido racional. Nada a volta de Federico Tesio, aconteceu por acaso. Hermético em sua forma de pensar, sempre perdido em observações, suas atitudes não eram vistas como amistosas. Levei anos tentando decifrá-lo. O senhor Atualpa o definia como único. E todos nós sabemos a dificuldade de algo que é único, se mixar. Todavia, havia um parâmetro em todas as suas atitudes. Alguns pedigrees considerados medíocres para muitos, para ele tinham um sentido adquiri-los, pois sabia como explora-los. Após anos, de estudos, Tesio tornou-se a base de meus estudos. Décadas depois, já militando profissionalmente na área dos cavalos de corrida, tive a oportunidade de visitar seu centro de criação, no norte da Itália, quase nas divisa com a Suíça. Foi quando tive o prazer de examinar suas antigas tábuas de cruzamentos, elaboradas por sua mulher e com comentários por ele feitos em sua bordas. Foi um aprendizado maior do que aprendera sobre ele, nos livros escritos em seu louvor.