Sempre temi atribuições aceitas e não cumpridas. Logo, só coloco a minha mão aonde posso alcançar. O navegante Luiz Oswaldo me lançou um desafio, que atualmente parece ser acima do que possa cumprir. Principalmente por tratar-se de uma tarefa que exige pesquisa e muita reflexão. Falar sobre grandes criadores, seus métodos, e seus êxitos. e algo que me empolga fazer. Apenas não sei se tenho as condições mínimas de assumir um desafio destes.
Vó Adelina dizia que você sõ conhece seus limites quando os testa e é o que intento fazer, mesmo sabedor que haverá chance de parar a qualquer momento. E vou começar com um dos precursores desta atividade, por ter plena certeza que ninguém no Brasil, se preocupou bem saber quem foi ele.
LORD FALMOUTH
Em apenas 20 anos e com um grupo reduzido de 34 éguas, Lord Falmouth atingiu um sucesso muito difícil de ser igualado. Ele veio a criar 14 individuais ganhadores de 19 clássicos britânicos em seu Stud, o Mereworth Castle in Kent. Como proprietário ele igualmente veio a vencer o Two Thousand Guineas de 1862 com a adquirida Hurricane e creio que poucos homens na historia de corridas de cavalo de corrida tenham atingido o sucesso e a seguir o tenham mantido por tanto tempo como Lord Falmouth.
Seria isto apenas produto do tempo em que foi levado a efeito ? Acredito que não, porque seus conceitos em termos de criação eram claros e sua metodologia consubstanciada em total bom censo. Muitos anos depois, na primeira metade do seculo XX, com conceitos distintos outro criador de 25 eguas na Inglaterra, um com sessenta na França e um terceiro de pouco mais de 20 na Italia igualmente atingiram o mesmo patamar de grandiosidade em que Lord Falmouth reinou no período de 1859 a 1881.
Lord Falmouth acreditava na precocidade e acima de tudo na velocidade, assim como anos depois, Aga Khan. O fato que pode ser constatado na obra de Abram S. Hewitt, The Great Breeders and their Methods, que de 22 de suas 24 reprodutoras tenham vindo a ganhar aos dois anos é um detalhe que de maneira alguma pode passar desapercebido do consciente pesquisador. Seu treinador Mat Dawson captou a mensagem erigida pelo jockey Tod Sloan e sentiu que nos mais velozes dois anos estavam as maiores chances de se encontrar o individuo capaz de ganhar um clássico britânico. Anos depois St. Simon, em seu "barn", apenas veio a corroborar esta sua tese.
Um século se passou e nos EUA os leilões de 2 anos em treinamento simplesmente provam dia após dia, que o veloz dois anos, aquele que tem realmente velocidade e não apenas precocidade, acaba por se tornar um elemento clássico aos tres, mesmo em um turfe onde os treinadores exigem por demais destes ainda em seu primeiro estágio.
Sorte sempre foi um fator de importancia em qualquer atividade e Lord Falmouth a teve quando Fred Archer iniciou como aprendiz nas cocheiras de Mat Dawson. Todavia, sorte acompanha aqueles que teem competencia e Lord Falmouth mostrou esta caracteristica quando selecionou Dawson como treinador e posteriormente por 100 Pounds anuais, reteve os serviços de Fred Archer de forma privada. Lord Falmouth nao era apenas perspicaz em seu julgamento em relação a raça humana. Ele era igualmente profissional na forma de dirigir o seu negócio e fazer com que aqueles que para ele trabalhavam, se mantivessem dentro de suas regras de conduta.
George Blackwell, o homem que descobria as maiores barganhas do mercado, um dia me repassou em Keeneland que seu pai que havia trabalhado para Mat Dawson, em uma oportunidade lhe contou o ocorrido com Dutch Oven no St. Leger de 1882. E eu acredito que vale a pena repetir por aqui.
O ano de 1882 foi considerado o ano das águas. Afinal, três delas vieram a ganhar todos os clássicos da tríplice coroa britânica, demonstrando uma vez mais, que sexo nem sempre pode ser considerado documento, pelo menos na velha Albion ... Pois bem, Fred Archer queria montar a Oaks winner Geheimniss no St. Leger, já que em sua opinião ela era imensamente superior a pupila do Duke of Westminster Shotover, que havia desbancado os machos no Derby.
Mat Dawson contava apenas com Dutch Oven de propriedade de Lord Falmouth, que alinharia na melhor das hipóteses, com uma cotação não inferior a 50/1. Desta forma ele achou que não haveria nenhum problema em liberar Archer, mas quando emitiu esta mesma opinião para Lord Falmouth ouviu de volta que de maneira alguma ele iria liberar seu jockey do compromisso de montar sua pupila. Fred Archer como profissional que era, mesmo que a contragosto teve que aceitar a ordem e para total supresa do publico turfísta britânico, simplesmente destrocou a Geheimniss ganhando o St. Leger.
Lord Falmouth, Fred Archer e Mat Dawsom formaram o primeiro poderoso triunvirato da história do turfe europeu. Eles atingiram a glória. No ocaso da mesma, quando da pouca explicável participação de Galliard no Derby de 1883, separaram-se de uma forma digna e respeitável. O clássico cruzamento de classe, stamina e consistência pelo reprodutor e velocidade e precocidade pela égua mãe, funcionou de maneira precisa para Lord Falmouth, assim como a situação inversa o fez para James Keene, Jack B. Joel e Lord Derby este ultimo com Phalaris, provando que não existe apenas um método para se atingir sucesso no mercado de thoroughbreds. Existe sim uma metodologia e esta é baseada em conhecimento, observação. bom senso bastante criatividade.