
Improfícuas e desatinadas me parecem algumas opiniões atiradas a esmo, por aqueles que querem defender um ponto, sem ao menos tê-lo. Geralmente exaladas por elementos que ainda confundem desejo com realidade, e não dizem o que pensam, apenas dizem aquilo que acham licito acreditarem. É o mundo da evasividade. Da Alice nos país das maravilhas.
Toda tribuna deve ser livre e cada um tem o direito de acreditar naquilo que quiser. Mas colocar palavras na boca dos outros ou deturpar um raciocínio que se não é límpido, pelo menos o tenta o ser, para mim é demais. Bule com meu ácido carbólico.
Outro dia recebi um e-mail, que aqui publiquei com a resposta dada a um filho de um criador que acusou-me de atrapalhar a aquisição de um reprodutor de origem alemã, que seu pai estava propenso a trazer para o Brasil. A razão da mudança de pensamento de seu pai, foi segundo ele, por eu ter publicado um artigo no Jornal do turfe demonstrando a fragilidade dos até então elementos de origem germânica, trazidos para as nossas lides. Segundo ele, seu pai o leu, refletiu e chegou as mesmas conclusões que cheguei, parabéns a ele: o pai, não o filho que afirma que seu pai quebrou a cara, pois agora que Stacelita venceu o Diane, o cavalo (que cheguei a suspeitar ser Monsun, mas acredito que não seja) hoje vale muita grana. Quem seria este misteriosos cavalo que se valorisou de uma forma tão rápida?
Interessante que o referido filho daquele que ansiava em importar um semental alemão não refutou o fato dos resultados que apresentei estarem errados. Apenas afirmou que eu mudava de idéia e agora idolatrava o sangue alemão. Surprise! Eu não idolatro o élèvage alemão, mas o respeito. Principalmente no concernente as suas linhas maternas.
Reparem, que desde Neckar que nenhum outro reprodutor alemão conseguiu um sucesso internacional como Monsun. Para os que não tem conhecimento, Neckar remonta aos primeiros anos da década de 50. Tentando ser o mais benevolente possível, diria que para este longo período, o igualmente derby winner Surumu, tenho sido - dentro de suas fronteiras – um também bom reprodutor, que conseguiu produzir a um cavalo internacional, Acatenango (foto), que por sua vez, foi grande reprodutor na Alemanha, onde ganhou quatro estatísticas, mas sem impacto internacional.
Na atualidade este descendente de Blandford, para mim, não representa o élèvage de um pais. Ele é um individuo. Da mesma forma que não irei saindo por aí, a adquirir todo e qualquer nativo do Canadá, pelo simples fato dele ter nascido nas mesmas terras que produziram a Northern Dancer, Nijinsky ou Storm Bird. Décadas se passaram e nenhum outro reprodutor canadense veio a produzir o que estes três sementais produziram. Da mesma forma que não vou criar cavalos na Itália, por ter sido lá que Federico Tesio criou os seus.
Dito isto vamos a alguns fatos. Dia após dia, Monsun vem produzindo cavalos de nível internacional. Outrossim, isto aconteceu até 2007. Shirocco, Schiaparelli e Manduro encheram as páginas nos diários especializados europeus. Monsum ganhou imensa popularidade e acredito eu, projeção junto a criadores que possuíam mais importantes éguas. Ganhou quatro estatísticas em seu pais de origem, andou entre os primeiros nas estatísticas francesas e italianas e não deixou de pontuar em provas de grupo 1, tanto na Grã-Bretanha quanto nos Estados Unidos. Mas em 2008 ele teve um ano apagado. Nenhum ganhador de Grupo 1. Nenhum três anos ganhando uma pattern race sequer e apenas Gateway, ganhador de grupo 2, pareceu fazer sua luz brilhar por um muito breve período de tempo. Moral, Monsun chegou na décima sétima colocação como reprodutor.
Até eu me enganei, achando que Gateway poderia ser um fator no Arco. Afinal era treinado por André Fabre. Mas suas 5 corridas subseqüentes a seu esplendoroso Jockey Club stakes, nada mostraram. Algo que sequer lembrasse sua apresentação em Newmarket. A única coisa que não foi notada por mim e por ninguém, foi a vitória de uma filha sua, aos dois anos, sendo ela treinada por Jean Claude Rouge. Seu nome Stacelita.
Pois bem, é ela Stacelita que solitária traz de volta o nome de Monsun à tona na tul temporada, apenas que o faz, advindo na mesma consagrada linha materna que produziu à melhor potranca japonesa, a três anos, Buena Vista. Ambas descendem da maior corredora (juntando-se machos e fêmeas) da história do turfe moderno alemão, Schwarzgold que em 1940 ganhou o Diane por uma arquibancada e o Derby alemão por dez corpos. Por intermédio de apenas duas filhas nascidas, é considerada a maior fonte de transmissão de qualidades hoje existente naquele élèvage. Não sou eu que o digo. É o mercado que atesta.
Monsun não está morto e acredito que o melhor que ele possa produzir ainda há de vir. Teve uma má temporada em 2008 e anda sendo carregado por Stacelita, na atual. Ele já provou exceder em qualidade. E como diria minha avó Adelina, "quem foi rei, nunca perde a sua magestade".
Na realidade, embora Monsun possa ser visto por alguns como um produtor de machos, ele já provou - pelo menos para mim - ser capaz de produzir potrancas de alto nivel. Para se ter uma idéia, Stacelita, é a quarta ganhadora do Oaks entre os integrantes de suas dez primeiras gerações. Se não, vejamos, Guadalupe foi a vencedora da versão italiana de 2002. E o fez, apenas três semanas antes que Salve Regina vencesse o equivalente na Alemanha. Em 2004 foi a vez de Amarette voltar a ganhar o Preis der Diane. E pode ser que este ano
Contudo, não nos enganemos: os resultados, à nível internacional das linhas maternas alemães, sobrepõem em muito aos de suas linhas paternas. Isto não é uma opinião. Isto é um fato. As linhas maternas alemães tem tido a chance de cobrirem com o melhor que existe em reprodutores em serviço na Grã-Bretanha e França. Veios paternos de muito maior adaptação as necessidades que o turfe moderno exige. A recíproca não me parece verdadeira em relação aos reprodutores alemães.
Talvez por este fato, não existam no presente momento, reprodutor de origem germânica, à exceção de Monsun, que possa ser considerado elemento de reconhecido sucesso internacional. Ele até aqui mantém o recorde de 34 idividuos que ganharam o montante de 73 pattern races européias, sendo 21 de graduação máxima. Isto fez com que seus serviços pulassem de 40,000 Euros até 150,000 Euros, o que foi cobrado este ano. Evidentemente que a qualidade de éguas que compõem seu book, certamente foi update.
Não creio que possa ser comparado a Northern Dancer, Mr. Prospector, Danehill, Sadler's Wells, Lyphard, Blushing Groom e Rainbow Quest, para nos ater entre os mais recentes.
Apenas a titulo de elucidação, de 1974 para cá, quando foram instituídas as pattern races igualmente no Brasil, temos até este fim de semana que passou, 1879 ganhadores. Destes, pasmem, apenas um, isto mesmo apenas um, é filho de um reprodutor nascido na Alemanha, e mais de 10 para aqui foram importados. Trata-se de Ana Queen, uma filha do derby winner Anatol, que laureou-se em prova de grupo 3.
Acho que o pai do citado rapaz, não errou ao pensar duas vezes e disistir...