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terça-feira, 21 de julho de 2009

PAPO DE BOTEQUIM - CARÍSSIMA, A MAIS VELOZ ÉGUA DA HISTÓRIA DO TURFE BRASILEIRO


Muito tem se falado em velocidade por aqui. Eu mesmo criei junto com o Antônio Cláudio Assumpção uma potranca que para muitos foi considerada uma das melhores que já passou pelas pencas. Seu nome junto ao stud book brasileiro Cat's Night. Seu nome artistico nas pencas do sul do país: Preta do Mangeirão.

Tratava-se de uma descendente direta de Queen Bertha (1-w) por seu ramo mais proeminente, o erigido pela grande égua Marchetta. Adquiri sua mãe Celina Igi, numa lista de éguas colocada a venda pelo criador Leonídio Ribeiro, que a conceituava com a de menos expressão em seu plantel. E talvez por isto fosse a que menos custasse dentro da lista apresentada. Mas era a única que eu queria.

Celina Igi era um égua pequena, muito feminina e equilibrada, filha de Pass the Word na importada se não me engano por Mariano Raggio, a britânica Sweet Apple. Sweet Apple tinha em seu pedigree a conjunção de seu pai, o clássico francês Nelcius com o eclético britânico Honeyway, seu avô materno. Este filho de Fairway, era um cavalo dotado da rara qualidade de poder correr qualquer distância na mais alta esfera clássica da Inglaterra. Tanto que foi capaz de bater ao refinado sprinter Golden Cloud nos 1,000m da July Cup de 1945 em Newmarket e neste mesmo hipódromo sobrepujar a Claro nos 2,000m do Champion stakes de 1946. Um feito hoje dificil de ser repetido.

Eu admirava a tragetória de Honeyway. Segundo para o mesmo Golden Cloud no quilômetro do Nunthorpe stakes de York, para The Bug na July Cup de 1946 e terceiro nesta mesma prova em 1947 para Falls of Clyde e Closeburn, ele foi ainda capaz de ganhar o quilômetro do King George stakes de Goodwood, os 1,200m do Cork and Orrery stakes de Royal Ascot (hoje Golden Jubilee) e os 1,400m da Victoria Cup de Ascot.

Numa época que spriters eram vistos com excessiva desconfiança na reprodução britânica, ele por ter vencido o Champion stakes teve a sua chance e a aproveitou. Quanto ao fracassado na reprodução Nelcius, um ganhador do Derby francês de 1966 e segundo colocado para Charlottown na Coronation Cup de 1967, nada podia fazer. Ele estava lá no pedigree.

Celina Igi ganhou quando em campanha nas mãos do haras Sideral duas corridas em nove saidas, com uma segunda e uma terceira colocações a seu favor. Nada de especial. Mas como toda Pass the Word, era imbreed em Hyperion, que para mim transmitia excelente velocidade.

Achei que poderia tirar proveito do imbreed em Hyperion na parte alta do pedigree e da presença de Honeyway no pedigree de sua mãe, cruzando-a com um elemento tipicamente norte-americano de forte constituíção fisica e muita velocidade. Assim a mandei para Slap Jack. Eu queria velocidade e creio que a consegui. Tanto na pista, quanto no breeding-sheed, já que Cat's Night é a mãe da excelente sprinter American Night.

Preta do Mangueirão, segundo soube, perdeu apenas uma penca para um cavalo quarto de milha em carreira e assim mesmo po diferença minima. Pela que me foi passado, neste dia ela largou mal. Trazida para a Gávea, estreou ganhando por uma arquibancada em sua preparação para o GP.Major Suckow. Outrossim, mancou após a carreira sendo imediatamente levada a reprodução. Logo, achei que havia criado a mais veloz potranca já nascida no Brasil, até ouvir a história que lhe repasso a seguir. Uma história de também rejeições, já que poucos foram os que se interessaram por Cat's Night quando potranca e depois ao ser adquirida por um dos maiores criadores brasileiros, teve sua filha American Night recusada por aquele que a comprou, em outro ledo engâno, tipico daqueles que ouviram o galo cantar, mas não sabem exatamente onde.

Nunca imaginei que Cat's Night poderia ser tão veloz. Imaginei que ela poderia ser uma milheira de mão cheia. Mas velocidade eu tinha certeza que teria, pois, seu pedigree foi moldado para tal.

Na primeira parte do livro que estou tentando levar avante sobre o grande veterinário brasileiro Alceu Ataide é apresentado em forma de um capitulo a história daquela que para os mais velhos, foi a mais veloz égua do turfe brasileiro. O pai de Alceu, Trajano Ataide é o personagem central, e assim a história me foi contada pelo próprio Alceu.

Atílio Irulegui trouxe uma reprodutora argentina chamada Confiada prenhe de Blason para o haras Paraná. O produto desta união foi uma potranca de pequeno porte físico ao qual foi dado o ousado nome de Caríssima. Como sempre, o haras Paraná vendia toda a sua produção para uma clientela fixa, mas Caríssima não teve interessados. Como o senhor Alô Guimarães não corria cavalos, ele vendeu Caríssima, “baratíssima” para meu pai.

Eu domei Caríssima.

Meu pai comprou Caríssima em sociedade com o sargento do exército Deoci Conceição França e levada com carinho pelo seu escovador, o ex-jóquei Jairo Adan, ela foi se fazendo até que estreou numa prova de 700m e venceu por meia arquibancada. Foi uma atuação impressionante. E daí para frente, seguiu vencendo, inclusive a tríplice coroa de potrancas, cuja última prova era na distância de 2,500m. Era um verdadeiro fenômeno. Não respeitava pista, adversário ou distância.

Não muito distante de sua última vitória, o madeireiro nativo de Gaspar, Santa Catarina, Pedrinho Vieira apareceu com um caminhão, e um jóquei apresentado a todos como Manequinho. Tinha um enorme anel de rubi em seu dedo, uma fivela cintilante com seu nome em seu cinto e na língua uma proposta que parecia simples e direta.

- Se ela fizer o tempo que eu quero com o Manequinho, pago o que o senhor pedir.

Meu pai ficou preocupado, pois, ela vinha de ganhar em 2,500 metros. Como poderia mostrar velocidade em 500? Mas fez mentalmente o seu preço e pensou que se ela não fizesse o tempo exigido, ainda tinha a égua para si. Logo, nada a perder.

Várias exigências foram feitas pelo senhor Pedrinho Vieira. A primeira é que deveriam tirar a areia na reta oposta para a distância por ele determinada e medida. Ele trouxe uma trena própria, pois, não lhe interessavam as estacas oficias do hipódromo de Guabirotuba. Atendida a sua primeira exigência, veio a segunda que era que o sistema de marcação do tempo a ser alcançado; a do Macaco. Que consistia em um fio com uma bandeira (pano branco) pendurada que ia de um lado ao outro da pista. De forma que de onde ela partisse, no caso uma caixa de madeira já que não existiam ainda starting-gates, todos pudessem ver quando a bandeira se movimentasse na passagem do animal. Não satisfeito Manequinho foi colocado a dormir na porta de Caríssima para que nenhuma medicação lhe pudesse ser ministrada. Moral da história, Caríssima surpreendeu até meu pai, pois, baixou a marca que era a seu ver quase impossível de ser alcançada.

Sem se preocupar com mais nada, Pedrinho Vieira, pegou Caríssima pela cabresto e apenas comentou; - Esta é minha! Faça o seu preço!

Um banho foi dado, Caríssima refrescada e tão logo regiamente paga entrou no caminhão, desembarcando em Santa Catarina já com o nome do Bugra.

Mas a história não termina aí. Bugra venceu todos desafios que lhe foram impostos em Santa Catarina. Como seu nome passou a ser sinônimo de vitória eminente, ela teve que buscar outros horizontes. E assim chegou ao Rio Grande do Sul, mais precisamente na cidade de Julio de Castilhos, onde um invicto argentino ganhador do GP. Maipu de Buenos Aires, a esperava. De propriedade do senhor João Goulart (que um dia seria presidente e renunciaria) seu nome não poderia ser outro que Trabalhista.

Na oportunidade, Pedrinho Vieira chegou ao local da contenda e abriu um ponche a seus pés. Colocou uma massa de dinheiro que eu nunca poderia imaginar existir. E desafiou a todos. Quando o dinheiro acabou ele colocou as chaves de seus caminhões e apostou-os também. Era coisa de doze ou treze. Moral da história. Se Bugra perde, o seu Pedrinho, teria apenas para o resto de sua vida, o anel e a fivela. Mas Bugra provou valer cada centavo nela apostada, não só acabou com o Trabalhista no Brasil, como selou seu passaporte para vôos maiores.

Vitima de sua própria fama, não conseguiu mais adversários na terra pátria e assim seguiu para o Uruguai onde ganhou todas as quadreras e a seguir fez o mesmo na Argentina, já com oito anos de idade. Foi invencível. Nunca vi nada igual em termos de velocidade.

Falo com convicção que Bugra tem o reconhecimento nacional como a mais veloz égua já aparecida nas retas. Em palestra dada no ex-anfiteatro do Jockey Club de São Paulo, o ministro Luiz Fernando Cirne Lima, um conhecedor profundo das coisas do turfe, comentou sobre os dois cavalos que até ali mais o haviam impressionado. E os nomes de Bugra e Atlas foram os únicos citados. Isto é um fato importante, pois, demonstra de forma imparcial o conceito que esta égua teve para todos aqueles que acompanharam sua trajetória.

Porque sei disto? Lembro-me que na mesma data estava dando uma palestra sobre problemas ortopédicos do cavalo de corrida. Para muitos a história de Bugra terminava aqui. Mas para outros iniciava-se a de Caríssima.

E esta foi a mim contada não pelo Alceu, mas sim por Ivan Roberto Gasparotto, filho de Victorio Gasparotto, que um dia adquiriu a Caríssima assim com sua mãe, ambas para fins reprodutivos. Ivan, seu pai e seu irmão Pedro estão de volta ao turfe depois de um longo afastamento. Escolheram a Argentina como palco de suas novas experiências turfísticas (nota do autor). Mas terão este ano um cavalinho em campanha no circuito Taruma-Cidade Jardim.

Com um boleto seriamente lastimado e inchado, um dia Bugra tem seu destino mudado. Pedrinho Vieira, para em Vacaria para consertar sua caminhonete que estava avariada. Sobre ela Bugra. Victorio Gasparotto, dono da concessionária da Ford Willis naquela cidade, vê a égua e imediatamente a reconhece, pois, em mais de uma oportunidade a tinha visto correr em pencas. Dono em sociedade com Humberto e Caetano Campetti do haras Pastor, se enche de coragem, faz uma oferta e a compra de Pedrinho Vieira. Para o madeireiro, Bugra não teria mais condições de correr e criar não estava dentro de seus parâmetros turfísticos. Bugra ainda permaneceu Bugra aos olhos de Victorio Gasparotto que a tentou recuperar.

Ele a chamava de a “mãe dos pobres”, pois enriquecia todos os peões que arriscavam seus pequenos soldos quando ela ia a pista. Foram 26 meses de espera uma tentativa pela manhã e a triste constatação que ela estava definitivamente alijada das pistas. Bugra volta a ser Caríssima e é servida por Away. O mesmo Away, conhecido na imprensa como o Gato de Botas, que fora segundo para Gualicho no GP. Brasil de 1952 e que em meu modo de ver, não pertenceu as lides de criação do haras Guanabara, pois, era dotado de muita pelagem branca em seus anteriores, na fronte e mesmo na barriga.

Falava-se naquela época que o excesso de branco era sinônimo de uma degeneração celular. Em minha opinião, ele teria sido um reprodutor de alta qualidade se chances lhe houvessem sido dadas, pois pedigree, físico e campanha nunca lhe faltaram. (nota do autor)


Produto desta união o potro Turnipike nasceu em 1958. Com a possibilidade de um terreno que lhes era de muito interesse, meu pai e seus sócios, venderam o segundo produto da Caríssima, quando ela nem registro tinha.

Aliás como diria o próprio Alceu quanto menos informação nas retas, melhor (nota do autor).

Desta forma seus compradores a levaram para a reta e a batizaram de Vitória. E nenhum nome poderia lhe ser mais adequado. Vitória foi invicta até a última carreira, quando perdeu em condições anormais o GP Cidade de Uruguaiana. Estava com pneumonia e morreu dois dias após a carreira. Porém, quando em forma venceu a chamada penca do século em Vacaria onde defrontou-se com seu irmão inteiro Firebird e o castrado e invicto argentino Santa Casa.

Firebird, o terceiro produto de Caríssima também por Away, com 2 anos ganhou as pencas: GP Cidade de Canoas no extinto hipódromo Matias Velho em tempo recorde, a penca Cidade de Camaqua, e foi ainda segundo para Vitória na citada penca do século em Vacaria. Com 3 anos estreou no Cristal com vitória, bisou em seguida, ganhando o GP Almiro Coimbra, e a seguir ganhou o GP Grande Criterium. Na tríplice coroa gaúcha triunfou em duas de suas provas; a primeira delas a milha do GP Prefeito de Porto Alegre, e a última nos 3,000m. No GP Princesa do Sul ganhou pela significativa margem de 12 corpos. Fez segundo para Dominó na milha por vantagem mínima, oportunidade em que Dominó suplantou seu próprio recorde. Firebird como sua mãe, tinha a capacidade de correr pencas e ganhar provas de fundo.

Dominó (Blackamoor - Queen Fairy por Formasterus) era de criação e propriedade do haras São José e Expedictus tido como um dos bons milheiros criados por aquele importante estabelecimento de cria (nota do autor).

O terceiro e último produto de Caríssima foi uma potranca chamada Glide Air, que pagou o preço de ser filha de Salomão um neto paterno de Embrujo, fundista de bom valor na pistas do sul, mas que reprodutivamente se transformou em um tremendo fracasso.

Ivan não tem dúvida que Caríssima foi a mais importante égua que passou pelo plantel do haras Pastor que igualmente iria adquirir a sua mãe ao haras Paraná, esta já com avançada idade.

Confiada não conseguiu correr. Quando ainda potranca sofreu uma fratura de bacia. Ficou atrofiada, mas mesmo assim em seus últimos anos foi adquirido por Heitor Gasparotto.

Produção de Confiada (ARG)
CARISSIMA, fêmea, alazão, 16/10/1946 POR: BLASON(ARG)
Criador: HARAS PARANA LTDA

FUNICULA, fêmea, alazão, 24/08/1949 POR: CUMELEN (ARG)
Criador: HARAS PARANA LTDA

INFRENE, macho, nd, 17/02/1952 POR: FAIR TRADER (GB)
Criador: HARAS PARANA LTDA

KAROLIN, fêmea, castanho, 10/07/1954 POR: ZORRO(ARG)
Criador: HARAS PARANA LTDA

LA CROIX, fêmea, alazão, 06/08/1955 POR: DJEMLAH (FR)
Criador: HARAS PARANA LTDA

MILORD, macho, alazão, 17/07/1956 POR: FAIR TRADER (GB)
Criador: HARAS PARANA LTDA

ORLAIA, fêmea, alazão, 15/07/1958 POR: FAIR TRADER (GB)
Criador: HARAS PARANA LTDA

EL PLATINO, macho, alazão, 01/08/1959 POR: FAIR TRADER (GB)
Criador: VICTORIO G.E OUTROS


Considerações finais.
Ivan Roberto Gasparotto teve um encontro em minha presença com Alceu Ataíde na clinica do último em Cidade Jardim. Talvez não tenha sido a primeira vez que sentaram frente a frente e conversaram. Pois Alceu, lembra-se de ter visitado o haras Bom Pastor para rever sua Caríssima. Ambos eram muito jovens e por isto talvez neste novo encontro em momento algum reconheceram-se. Este texto foi montado dias depois deste encontro e foi assim que estas duas histórias fundiram-se por pura coincidência e pela sorte de eu conhecer a ambos e só então descobrir que Caríssima e Bugra eram a mesma égua (nota final do autor).