
Um amigo me ligou ontem do Brasil e disse que lendo um
site no Brasil, descobriu que
Pioneerof Nile estava sorrindo em sua cocheira. Primeiro com o
forfait de
Quality Road e agora com o de
Square Eddie. Eu particularmente achava que
Square Eddie um cavalo fora de cogitação. Quem estava em
Lexington vislumbrou nitidamente isto. Quem não estava pode se dar ao direito de ter outras ideias.
Outrossim, a meu amigo respondi que se eu fosse o Pioneerof Nile me manteria focado, pois, seu treinador Bob Baffert que já têm vários Kentucky derbues às suas costas, sabe que tanto
I Want Revenge, como
Dunkirk e
Friesen Fire ainda estão lá e qualquer descuido poderá ser fatal, para um cavalo que mesmo trabalhando bem no
dirt de
Churchill, ainda não correu no mesmo. E com o agravante que terá 19 adversários à sua volta. Pensemos com um pouco de mais serenidade sobre o assunto.
A dança das cadeiras, é um ritual básico quando chega-se próximo a disputa dos grandes clássicos no hemisfério norte. Com a melancólica, mas esperada saída do palco de
Quality Road, muito alvoroço entre os aspirantes ao
Kentucky derby. O gato saiu e os ratos estão em retumbante festa! Os sorridentes e os não sorridentes.
Embora para muitos turfistas ele fosse um outro cavalo e para grande parte, o segundo cavalo de uma lista liderada por
I Want Revenge, acreditem ele era o cavalo a se bater.
Sua solidez de caráter, sua consistência aptitudinal e sua campanha bem dirigida somada ao pedigree e um fisico invejável, me faziam crer que ele era o contendor a ser batido neste sábado. Você tem que estar aqui e constatar em loco o que acabo de afirmar. Ou então olhar os resultados pelos jornais e inventar algo de sua cabeça. Mas os problemas que vinham exasperando seus cascos funcionaram que nem aquela história que já contei aqui sobre o gato da senhora que viajou e guardado pela vizinha, sumiu. Sem jeito para contar a verdade, seu primeiro telegrama a amiga ditou: seu gato subiu no telhado...
Como diria o senhor Atualpa, os cascos são a base de tudo, assim como os pés o são para um jogador de futebol ou um atleta corredor. As pistas estão se tornando cada dia mais rápidas, mas os problemas em cascos estão se multiplicando em uma progressão vertiginosa. Talvez a compactação esteja sendo excessiva.
Até o presente momento tive pouco contato com Jimmy Jerkens, seu treinador, mas sendo filho de quem é a tendo a escola da vida que cursou, estava na cara que ele não iria sacrificar seu pupilo apenas para estar no
spotlight, como, sem dúvida alguma, muitos treinadores aqui o fariam. “Empapelavam”, e esperavam o que iria dar. Seu pai, nunca o fez, por isto pressentia que o filho não o iria fazer. "Afinal em casa de grande peixador, filho de peixe, peixinho é". Dito de vó Adelina.
Mas Jimmy Jerkens não entregou-se sem luta. Tentou burlar a adversidade e o infortúnio de todas as maneiras. Impossível. A integridade de seu pupilo mostrou-se em jogo e ante ao inevitável, se viu obrigado a ceder. Perdeu a batalha, mas ainda pode ganhar a guerra depois da próxima esquina. O tempo haverá de provar que a sua atitude foi a mais sensata.
Meu campo fica assim reduzido a quatro elementos:
I Want Revenge, Dunkirk, Pioneerof the Nile e acrescentaria
Frisen Fire, não necessariamente nesta ordem.
I Want Revenge é todo brilhantismo, nas mãos de um atrevido treinador que não mede esforços para chegar a seus objetivos. As vezes até exagera nas seringas... Nunca o conseguiu no Derby, mas sempre existirá uma primeira vez na vida de todos.
Dunkirk aquele que comeu pelas beiradas, esperou pela mão divina e a teve. A clarividência de suas conexões em não forçar a barra deu frutos. Ele poderá ser o grande nome desta prova a ganhá-la sem nunca ter vencido uma prova grupada. Parece predestinado a tal.
Frisen Fire e
Pioneer of the Nile, estão em mãos experientes que conhecem esta prova e até aqui não foram afetados por nenhum deslize. Navegam em águas plácidas. mas necessitam se provar no
dirt. E este passa a ser o maior desafio.
Qualquer um dos quatro pode ser o vencedor. Dois castanhos e dois tordilhos. Três dos quais com pedigrees sólidos, adequados a distância e um, que deverá ser o favorito, com um pedigree que pode ser considerado de segunda linha, mais igualmente staminado.
Atravessando o oceano, veremos que para o
One Thousand Guineas e a
Poule d’Essai des Pouliches o senhor George Strawbridge se viu ante um delicioso dilema. Proprietário tanto da invicta
Rainbow View, quando da apenas batida por ela
Fantasia, partiu para a solução mais sensata. Fica com a favorita nos
Guineos em
Newmaket e manda a outra para
Longchamp. Com um pouco de sorte ganha as duas.
Rainbow View (
Dynaformer-No Matter What por
Nureyev) correu quatro e ganhou as quatro nas mãos de John Gosden. Aqui neste mesmo
blog vaticinei ano passado ser ela um fenômeno. Vou refrescar a memória de muitos, do que escrevi quando ainda nas vendas em
Newmarket num Domingo, dia 12 de Outubro:
"... invicta e recente vencedora do Fillies Mile (G1) de forma contundente, ela é o nome do momento entre as de sua idade. Mas eu aceito que ela possa ser mais do que isto; uma potranca com amplas possibilidades de se tornar outra Zarkava. Sua mecânica é impressionate. Sua vontade de vencer, indiscutível. Uma potranca que lhe dá alegria como a visão de um arco-iris à sua frente.
Ela remonta a francesa Flambette, um filha de Durbar e La Flambee por Ajax, importada pelo Belair Stud - outro proprietário norte-americano que amava e tinha cavalos em treinamento na Inglaterra, Mr. Woodward. A mais forte instigadora do ramo 17-b, Flambette ganhou em 1921 o Coaching Club American Oaks e o Latonia Oaks, que viria a se transformar um dia no atual Kentucky Oaks. Estas foram duas de suas seis vitórias... "Porque me reportei a outro proprietário norte-americano? Porque da mesma forma que Mr. Woodward estava sediado nos Estados Unidos e corria grande parte de seus cavalos na Europa, George Strawbridge assim também o faz e creio que teve em 2008 e está tendo em 2009 as temporadas de sua vida com
Forever Together, Rainbow View, Fantasia e
Smart Bid.
Fantasia (
Sadler's Wells-Blue Symphony por
Darshaan) que tem a vantagem de ter corrido já este ano e de maneira contundente, correu três e ganhou duas. É treinada por Luca Cumani.
Dynaformer contra
Sadler's Wells. Briga de cachorro grande...
Houve uma boato maledicente que o senhor Strawbridge talvez tivesse adquirido a
Fantasia, após seu segundo para
Rainbow View, no
Fillies Mile de
Ascot, apenas com o fito de garantir que elas não mais se encontrassem. O que na verdade irá ocorrer na disputa dos Guineos. Coisa de gente pequena e mesquinha. Gente incapaz de avistar o tunel. Que dirá a luz no fundo do mesmo. Não acredito que tenha sido este o propósito. George Strawbridge é daqueles turfistas que são difícies hoje de serem encontrados. Amam a atividade sem se preocupar com os lucros da mesma. Turfistas de perfil Paul Mellon ou Ogden Phipps. “Da boa cepa”, como diria vó Adelina. Acho que ele ganhará as duas provas. E afinal, se é possível fazê-lo, porquê então expor duas grandes corredoras ao sacrifício de se enfrentarem?
A ânsia de correr dois ou três cavalos de um mesmo proprietário em uma mesma carreira como forma de se garantir sucesso me parece válida, mas igualmente dotada de certo despropósito. Um bom treinador é capaz de aquilatar qual de seus dois parelheiros tem a maior chance e guarda o outro para um distinto evento. Mas nem todo treinador parece ter este discernimento. Ai ele vai com um batalhão e no final descobre quem era seu melhor soldado. Muito presenciado em pistas brasileiras...
Se a situação da dança das cadeiras persiste, no
Kentucky Derby e no
One Thousand Guineas, imaginem em relação ao
Two Thousand Guineas, onde os dois favoritos estão ameaçados de não correrem:
Delegator (
Dansili-Indian Love Bird por
Efisio) que depende do estado em que se encontrar o piso. Segundo seu treinador, se estiver duro, não correrá seu pupilo. E
Rip van Winkle (
Galileo-Looking Back por
Stravinsky) que igualmente passa por problemas em seus cascos. Com isto Freddie Head se viu encorajado e decidiu atravessar o canal e levar
Naaqoos (Oasis Dream-Straight Lass por Machiavellian) para a disputa em
Newmarket e não ficar em
Longchamp, onde seu pupilo já se provou. Diria ser ele o que têm o pedigree mais dirigido para a distância.
Com qual eu fico? Em condições fisicas normais com um
Galileo, que possui em seu pedigree um
Rasmussen Factor em
Special é
imbreed nos dois maiores chefes de raã da atualidade -
Mr. Prospector e
Northern Dancer - descende da
10-c e ainda por cima é treinado por alguém que já ganhou esta prova em cinco oportunidades.
As torradas chegaram e meu apetite é voraz.